Texto I
Desde
muito cedo somos educados a distinguir padrões de beleza, cor,
dimensão. Esta subjugação de paredes que compõem a dita
“pirâmide” das classes sociais, é herança desde os tempos das
conquistas.
Os
nomes considerados como grandes conquistadores, tipo Ptolomeu,
Alexandre III da Macedônia, Napoleão Bonaparte, Júlio César,
Gengis Kan, etc. Detiveram o poder econômico por que investiram no
conhecimento. Necessário foi a escravidão para que estes
alcançassem seus objetivos. A ganância também estava atrelada ao
poder como única forma de preservação da eternidade. Reconhecemos,
atualmente ( 2017 ) que isso não garantiu a perpetualidade. A terra
foi desgastada e encontra-se imprestável para a sobrevivência das
espécies vivas. Por isso, esta mesma ganância que traduz a aspereza
do egoismo e egocentrismo planeja o povoamento do planeta marte.
Nesta distinção do poder há os que mandam e os mandados. Os
primeiros em menor número entretanto são capazes de destruir em
segundos uma massa tectónica de placas , formado a mais de 6
bilhões de anos. “ Assim caminha a humanidade” e aí de nós
pobres mortais, que habitam à base da pirâmide.
Preconceito
é esta estratégia em premeditar através do olhar, frisando o
comportamento, quem se ajusta ou não aos padrões desta sociedade
eurocentrica, que ousou singrar os mares e invadir a casa dos
“adormecidos em berço esplendido” que pisavam minas de diamantes
e ouro e não faziam distinção com a palmeira ou a esplendorosa
arara azul. É essa ingenuidade do amerindeo que se iguala a pureza
das crianças.
Preconceito
é isso: por intenções onde vale o viver. Assim, após a invasão e
demarcação das terras o mundo passou a ser substantivo masculino
por que Aristóteles classificou os seres vivos e muito depois com o
advento da imprensa com Gutemberg, as gramáticas fizeram este favor
em explicitar ainda mais os preconceitos. Lá, encontramos definições
para tudo. Vide o que se classifica como branco e preto. Até as
indefesas aves foram vítimas deste olhar deturpado. Urubus, corvos,
porcos, aranhas, lagartixas, cobras, lagartos, etc são alvos
perfeitos para aflorar preconceitos. Nos provérbios populares
encontramos muitos. Exemplo de alguns deles: Negro, quando não suja
na entrada, suja na saída; Fala mais que o negro do leite; Negro
nasceu para ser espoleta de branco; Negro em pé é um toco, deitado
é um porco; Quem nasceu pra dez réis, não chega a vintém; Quem
nasce para cachorro, morre latindo; Rico ri atoa; Pau que nasce
torto, não tem jeito, morre torto, etc.
Falando
com alguém sobre o programa televisivo “Amor e sexo” apresentado
por Fernanda Lima, que considero relevante quando traz à tona a
diversidade, esta pessoa, concordou comigo divergindo apenas que a
apresentadora deveria ser uma afrodescendente ou alguém bem mais
próxima ao mundo dos temas abordados. Imediato disse, que a isso,
chama-se “preconceito”. Quando se pensa desta maneira
inconscientemente se está perpetuando os dogmas e tabus. A Fernanda
Lima, exerce uma profissão e desenvolve com habilidade. Temos que
aplaudir e respeitar e não acuar o outro por que não pertece àquela
étnia ou gueto.
Inicie
este texto para falar das lagartixas, as Hemidactylus mabouia
ou
lagartixa-doméstica-tropical, enquanto
lavava
o banheiro de casa. Lá
estava uma delas,
pequenina
atrás do vaso sanitário. Quando
joguei a água, saiu correndo, assustada.
Quantas vezes repudiamos a
sua presença dentro de nossas casas?
Eu,
que venho de uma geração que morou
em casas
com telhados de cerâmicas era comum vê-las passeando pelas paredes.
A aspereza do ser humano com estes seres indefesos mais de grande
importância para o equilibrio do ecossistema, fez com que
desaparecessem por um período, passando a habitar o solo e na área
externa das casas. Creio que muito contribuiu as pulverizações
contra o mosquito da dengue por aqueles carros fumacê. Agora,
vendo-as transitando em minha morada
e reconhecendo
a importância destas para a limpeza da casa, deixo-as transitar
livremente. Principalmente agora com o surto da febre amarela.
Você
sabia que estes
animaizinhos, comem insetos, baratas, mosquitos, aranhas e pequenos
escorpiões?
Exatamente. Vamos lapidar a
nossa visão quanto às massas que se deslocam de um lado para outro
diante de nós, voluntárias ou involuntariamente. Pois afinal entre
a indefesa lagartixa que nos causa asco por sua aparência natural e
a nossa, que nos permite apenas mirar no espelho, onde nos
consideramos belos e formosos diante da pesada maquiagem que nos
abastece, esquivamo-nos facilmente do tête-à-tête com medo da
penetrabilidade dos olhos do outro, o nosso semelhante, que
jocosamente nos diz nas entrelinhas do olhar, a verdade que guarda o
espelho da madastra má da Branca de Neve e que evitamos escutar.
Valença, Bahia, 10 de março
de 2017 Celeste Martinez