Notável criatura são os olhos! Admirável instrumento da natureza! Prodigioso artifício da providência! Eles são a primeira origem da culpa, eles a primeira fonte da graça. São os olhos duas víboras metidas em duas covas, em que a tentação pôs o veneno e a contrição a triaga. São duas setas com que o demônio se arma para nos ferir e perder, e são dois escudos com que Deus, depois de feridos, nos repara para nos salvar. Todos os sentidos do homem tem um só ofício; só os olhos tem dois. O ouvido ouve, o gosto gosta, o olfato cheira, o tato apalpa, só os olhos tem dois ofícios: ver e chorar. Estes serão os dois pólos do nosso discurso. Ninguém haverá se tem entendimento, que não deseje saber por que juntou a natureza no mesmo instrumento as lágrimas e a vista, e porque uniu na mesma potência o oficio de chorar e o de ver? O ver é a ação mais alegre; o chorar a mais triste. Sem ver, como dizia Tobias; não há gosto, por que o sabor de todos os gostos é o ver; pelo contrário, o chorar é o estilado da dor, o sangue da alma, a tinta do coração, o fel da vida, o liquido do sentimento. Por que juntou logo a natureza nos mesmos olhos dois efeitos tão contrários: ver e chorar? A razão e a experiência é esta: ajuntou a natureza a vista e as lágrimas, porque as lágrimas são conseqüências da vista; ajuntou a providência o chorar com o ver, porque o ver é a causa do chorar. Sabeis porque choram os olhos? Por que vêem.
Un poema de Alina Diaconú
Há 5 dias
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