"Um mendigo dos arredores de Madri esmolava nobremente. Disse-lhe um transeunte:
- O sr. não tem vergonha de se dedicar a mister tão infame, quando podia trabalhar?
- Senhor, - respondeu o pedinte - estou lhe pedindo dinheiro e não conselhos.
- E com toda a dignidade castelhana virou-lhe as costas.Era um mendigo soberbo. Um nada lhe feria a vaidade. Pedia esmola por amor de si mesmo, e por amor de si mesmo não suportava reprimendas.
O Voador, de Olavo Bilac
"Padre Bartolomeu Lourenço deGusmão, inventor do aeróstato,morreu miseravelmente numconvento, em Toledo, semter quem lhe velasse a agonia." Em Toledo. Lá fora, a vida tumultuaE canta. A multidão em festa se atropela...E o pobre, que o suor da agonia enregela,Cuida o seu nome ouvir na aclamação da rua. Agoniza o Voador. Piedosamente, a luaVem velar-lhe a agonia, através da janela.A Febre, o Sonho, a Glória enchem a escura cela,E entre as névoas da morte uma visão flutua: "Voar! varrer o céu com as asas poderosas,Sobre as nuvens! correr o mar das nebulosas,Os continentes de ouro e fogo da amplidão!..." E o pranto do luar cai sobre o catre imundo...E em farrapos, sozinho, arqueja moribundoPadre Bartolomeu Lourenço de Gusmão...
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