Todas as mulheres fogem.
Ameaçadas,
Entram na jaula.
Apagam a luz da realidade e rezam,
Cantam hinos de misericórdia,
Rogam milagres,
Abortam paixões sonolentas
E sangram homens.
Todas pensam o “eu” livre
Mas todas têm úteros.
Todas têm mães e são madres.
Face da mesma face.
Todas as mulheres são pares.
Todas estão feridas e aguardam a chance do grito,
Do canto,
Do riso.
Mas todas voltam para o quarto e por três estações
Ficam preenchidas.
Todas são estátuas da liberdade
E calabouços de amor.
Todas as mulheres vestem luto,
Todas choram,
Fingem o gozo,
Matam o macho
E fazem aborto.
Todas as mulheres mentem
E falam verdades.
Todas são cruéis quando traídas,
Quando iludidas,
Quando menosprezadas.
Todas as mulheres matam,
Um dia,
Uma vida,
Um amor,
Uma chance,
Um segundo de paixão.
E todas as mulheres envelhecem,
Perdem o sabor,
Ficam estéreis,
Ressecadas e frias.
Todas as mulheres morrem
Por um fio – filho.
Por uma ponte- homem.
E todas ressuscitam quando querem.
Mas só algumas são virgens,
Mártires.
Todas as mulheres são universos,
Em terra,
Em água,
Em si,
No talvez,
Na certeza,
Em sonho.
(Todas) pecam,
Padecem.
(São) subversivas
Submersas
Subalternas
(Mulheres).
Mas só algumas são damas,
Rainhas,
Esfinges,
Um jogo.
Mulheres são,
Mulheres vão,
Mulheres não- começo.
Só mulheres gozam.
Só fêmeas parem.
Só esposas são obedientes,
Só amantes são eternas.
Só Vênus amor.
Só Helena guerra.
Só Circe veneno.
Só Medusa tormento.
Só mulheres parem homens
E mulheres amam homens
E mulheres...
E mulheres...
E mulheres...
Celeste Martinez
Do livro: Valenciando –poesia e prosa
Antologia de escritores de Valença
Secretaria da Cultura e Turismo, 2005
Um comentário:
linda!
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