Na 291° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 9 de dezembro de 2012 das 8 às 9 da manhã de domingo, transmissão ao vivo Rio Una FM 87,9 cujo tema: Amor apreciamos a leitura de um dos fragmentos da carta de Sigmund Freud.
Carta de Sigmund Freud para Martha Bernays em 7 de agosto de 1882
Amada, pequena menina,
Os astrônomos afirmam que as estrelas que hoje vemos reluzir
começaram a arder há centenas de milhares de anos e talvez hoje estejam se
extinguindo. Tal é a dimensão de distância que nos separa delas, até mesmo para
um raio de luz, que sem se cansar, percorre mais de 40 mil milhas em um
segundo.
Sempre foi difícil para mim imaginar isso, mas agora posso
fazê-lo com facilidade quando penso como você sorri diante de minhas cartas cordiais, enquanto minha alma
sofre com dúvidas e preocupações, e quando penso como você se aborrece com a
minha dureza e a minha desconfiança, enquanto uma medida de ternura, que luta
em vão para se expressar, me preenche.
Há dois caminhos para evitar essa incongruência. O primeiro
seria me abster de relatar uma atmosfera que supostamente não vai durar nem uma
semana. O outro seria fazê-lo mantendo um olhar sereno, acima do teatrinho de
máscaras que a vida vai encenando conosco.
Desprezamos o primeiro caminho, o caminho da preservação,
porque ele pode acabar levando ao estranhamento. Por isso, somos obrigados a
fazer aquilo que o segundo caminho nos recomenda.
( ...) O que nós, ligados de maneira tão íntima e tão
insolúvel, teremos que fazer quando acontecer entre nós algo como aquilo que
constituía o conteúdo de minhas últimas cartas. Se eu não estiver fisicamente
exausto, vou empurrar para um segundo plano as poucas lembranças incômodas
associadas aos meus esforços por você e me alegrar pensando em tudo de bom e de
belo que vi em você, e em todos os sacrifícios que você fez por mim até hoje.
Você vai habituar-se a continuar amando o pobre homem,
apesar de sua antipatia, de seus maus humores esporádicos e de seus julgamentos
equivocados, e continuaremos a caminhar juntos alegremente. Se não me engano,
hoje efetivamente você não é capaz de dedicar a mim todo o seu amor sem alguma
dificuldade, e á custa de autocontrole- e eu só serei capaz de sorrir, ciente
de minha vitória, quando você finalmente se tornar minha, seguindo o curso
inevitável da natureza, como eu pretendia desde o começo.
( ... ) Amanhã voltarei a escrever uma cartinha, o dia de
hoje é tão irritante e perturbador. Vamos fazer com que passe depressa, para
dar lugar a um outro, melhor.
Com cordiais saudações à única e querida menina amada,
Teu SigmundCarta de Sigmund Freud para Martha Bernays em 7 de agosto de 1882
Amada, pequena menina,
Os astrônomos afirmam que as estrelas que hoje vemos reluzir
começaram a arder há centenas de milhares de anos e talvez hoje estejam se
extinguindo. Tal é a dimensão de distância que nos separa delas, até mesmo para
um raio de luz, que sem se cansar, percorre mais de 40 mil milhas em um
segundo.
Sempre foi difícil para mim imaginar isso, mas agora posso
fazê-lo com facilidade quando penso como você sorri diante de minhas cartas cordiais, enquanto minha alma
sofre com dúvidas e preocupações, e quando penso como você se aborrece com a
minha dureza e a minha desconfiança, enquanto uma medida de ternura, que luta
em vão para se expressar, me preenche.
Há dois caminhos para evitar essa incongruência. O primeiro
seria me abster de relatar uma atmosfera que supostamente não vai durar nem uma
semana. O outro seria fazê-lo mantendo um olhar sereno, acima do teatrinho de
máscaras que a vida vai encenando conosco.
Desprezamos o primeiro caminho, o caminho da preservação,
porque ele pode acabar levando ao estranhamento. Por isso, somos obrigados a
fazer aquilo que o segundo caminho nos recomenda.
( ...) O que nós, ligados de maneira tão íntima e tão
insolúvel, teremos que fazer quando acontecer entre nós algo como aquilo que
constituía o conteúdo de minhas últimas cartas. Se eu não estiver fisicamente
exausto, vou empurrar para um segundo plano as poucas lembranças incômodas
associadas aos meus esforços por você e me alegrar pensando em tudo de bom e de
belo que vi em você, e em todos os sacrifícios que você fez por mim até hoje.
Você vai habituar-se a continuar amando o pobre homem,
apesar de sua antipatia, de seus maus humores esporádicos e de seus julgamentos
equivocados, e continuaremos a caminhar juntos alegremente. Se não me engano,
hoje efetivamente você não é capaz de dedicar a mim todo o seu amor sem alguma
dificuldade, e á custa de autocontrole- e eu só serei capaz de sorrir, ciente
de minha vitória, quando você finalmente se tornar minha, seguindo o curso
inevitável da natureza, como eu pretendia desde o começo.
( ... ) Amanhã voltarei a escrever uma cartinha, o dia de
hoje é tão irritante e perturbador. Vamos fazer com que passe depressa, para
dar lugar a um outro, melhor.
Com cordiais saudações à única e querida menina amada,
Teu Sigmund
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