Na 144° edição do programa radifônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 06 de setembro de 209, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM fizemos a leitura do conto: O Café de Humberto de Campos.
Aquele pequeno café da rua General Câmara, quase no canto da Primeiro de Março, era,
talvez, o mais afreguesado da cidade. A concorrência entre as duas e as quarto, quando os
empregados do grande comércio do bairro saem para tomar a sua canequinha, era enorme.
As mesas apertavam-se umas de encontro às outras, e tamanha era a falta de espaço e de
cadeiras, que o sr. Joaquim, dono do estabelecimento, tomou, um dia, uma resolução
inteligente.
talvez, o mais afreguesado da cidade. A concorrência entre as duas e as quarto, quando os
empregados do grande comércio do bairro saem para tomar a sua canequinha, era enorme.
As mesas apertavam-se umas de encontro às outras, e tamanha era a falta de espaço e de
cadeiras, que o sr. Joaquim, dono do estabelecimento, tomou, um dia, uma resolução
inteligente.
- De hoje em diante - disse - o café, a quem o tomar de pé, custará mais barato.
E fazendo o preço:
- A freguês sentado, dois tostões; a freguês em pé, cento e sessenta!
Foi nessa casa afreguesadíssima que o Antônio Dias foi ter, uma tarde, com a garganta
ardendo de poeira e o estômago em protestos, com fome. Desempregado há quase um mês,
havia devorado, já, todo o pequeno saldo que o patrão lhe entregara. O colarinho sujo, os
punhos pegajosos, as botinas sem graxa, a barba de oito dias, a roupa sem escova, diziam o
que vinha sendo a sua vida, percorrendo o comércio, à procura de uma colocação.
Antes de entrar no café, o Antônio consultou os recursos: restava-lhe apenas um tostão, um
ínfimo níquel de cem mil réis, que se perdia, miúdo, no fundo imenso do bolso, e que ele
acariciava de instante a instante, com grandes sustos no coração. Certo de que a moeda
estava ali, enfiou pela casa, parou entre as mesas, e, perscrutando o ambiente, procurou,
com os olhos, um "garçon".
Um acorreu, solícito:
- Um cafezinho?
- Quanto custa um café? - indagou, tímido, o Antônio.
- Sentado, dois tostões... De pé, cento e sessenta.
O rapaz esfriou. A moeda de cem mil réis suava-lhe na mão suja, mergulhada no bolso.
Excitado pelo cheiro do café, o organismo recusava distanciar-se dali, os pés pregados no
chão. E foi, então, quando o desgraçado teve uma idéia.
- Mocó, - gemeu, dê-me um por um tostão...
E quase chorando:
- Eu tomo de cócoras!...
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