Amanhã,
Uma cega minoria
Se erguerá ao amanhecer
E como viúvas negras
Pelas ruas vazias desfilará.
Amanha,
Os vermes das calçadas
Mendigos descartáveis
Crianças sem rótulos
Colocarão suas meias-máscaras
Rasgadas pela fome
E num gesto de súplica
Agredindo a própria carne
Se auto-mutilarão.
Amanhã,
Futuro que não chega
Independente do Cristo
Que se abre em redenção
Fechará os braços às cobaias deste tempo presente.
Amanhã,
O esquálido fazedor de mutantes
Ressurgirá o suntuoso quadro de DELACROIX
“A MORTE DE SARDANAPALO”
E então
O amanhã
No hoje
Será muito tarde.
Celeste Martinez
Publicado no livro: Valenciando- Antologia de escritores de Valença- Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo 2005
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