Na 235° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 04 de setembro de 2011, transmissão Rio Una FM 87,9, cujo tema: Circo, apreciamos o poema de José Paulo Paes retirado do livro: Poemas Circenses
Atirei meu coração às areias do circo como se atira ao mar uma
âncora aflita. Ninguém bateu palmas. O trapezista sorriu,
o leão farejou-me desdenhosamente, o palhaço zombou
de minha sombra fatídica.
Só a pequena bailarina compreendeu. Em suas mãos de opala,
meu coração refletia as nuvens de outono, os jogos de
infância, as vozes populares.
Depois de muitas quedas, aprendi. Sei agora vestir, com
razoável destreza, os risos da hiena, a frágil polidez dos
dos elefantes, a elegância marinha dos corcéis.
Todavia, quando as luzes se apagam, readquiro antigos poderes
e voo. Voo para um mundo sem espelhos falsos, onde o sol
devolve a cada coisa a sombra natural e onde não há aplausos,
porque tudo é justo, porque tudo é bom.
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