Eu
te amo para sempre
Perguntou:
- Você me ama?
Respondeu:
- Sim. Para sempre.
Tornou a indagar:
- Por que mentes?
Revidou:
-Mentir, eu? Acreditas
que minto?
- Sim. Disse convicta.
- Por favor, me
esclareça para que compreenda melhor.
- Dizer que me ama para
sempre é mentir por que ninguém vive para sempre.
- Evidente que vive na
existência de cada um.
- Para sempre, é para
sempre. Vide dicionário.
Foi buscar o
minidicionário Houaiss e na página 680 encontrou:
“Sempre” (adv.) 1-
durante todo o tempo; eternamente.
Ponderou a definição e
percebeu que ambos tinham razão, entretanto a palavra eternamente, soava igualzinho à palavra, infinitamente, prolongando-se além da visão.
Seria “amar para
sempre” o equivalente a prolongar somente a materialidade da existência?
E o amor, onde caberia
além da morfologia de sua palavra?
Dizer que ama para
sempre é deflagrar uma verdade do sentir.
E o sentir não precisa
de palavras para traduzir-se.
Respirou fundo, falou:
- Te amo para sempre
por que você existe além do que meus olhos enxergam, além dos incógnitos
horizontes.
Ela sorriu e nada
respondeu. Em seu silêncio estava escrito – muito embora em invisíveis letras –
que ele falava a verdade. Ela só queria detalhar o prazer. Fazê-lo penetrável
em todas as células de seu corpo. Prolongar aquela sensação de bem estar quando
ele olhava para ela e dizia aquela banal frase: “Eu te amo para sempre”.
- E? Ele disse
monossilabicamente intrigado.
- E, o quê? Ela
perguntou.
- Você não acredita no
amor que sinto por você?
- Acredito sim, seu
bobo!
- E você, me ama? Desta
vez foi ele que quis saber. Queria escutar uma frase que lhe aplacasse o ego ou
uma ação que lhe calasse à boca em forma de desconcertante beijo.
Ela pensou em dizer:
Sempre eu amo você. Desistiu. Por certo ele analisaria cada morfema e esta
história do “amar para sempre” não terminaria. Apesar de que ela se sentia
atraída com as indagações feitas por ele. Então resolveu engolir um monte de
palavras que apressadas se encurralavam no palato de sua boca. Aproximou-se
dele e fitou seus olhos. E bem lentamente pousou os seus lábios sobre os lábios
dele, desabrochando suavium beijo dos
amantes.
Quanto tempo durou, não
soube calcular. Verdade é que logo em seguida, ele tentou falar e não conseguiu.
Foi então que compreendeu que ela o amava para sempre na durabilidade daquele
beijo e que quando ele acordasse do prazer, despertariam também todas as
palavras e em seguida, o verbo “saber”; “ amar” e o advérbio “ sempre”. Pensou
e se conteve. Naquele momento de olhos fechados, ambos sentiam. E os nós, que
costuram desavenças ideológicas, contraíram amnésia. Naquele momento, bastava o
beijo, elela.
Valença, BA, 05 de fevereiro de 2013
Celeste Martinez
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