Na 398° edição do
programa radiofônico Alacazum Palavras Para Entreter, idealizado,
produzido e apresentado pela escritora Celeste Martinez, que foi ao
ar no dia 12 de abril de 2015, das 8 às 9 h transmissão ao vivo Rio
Una Fm 87,9 apreciamos fragmentos do livro: O meu pé de laranja lima
de José Mauro de Vasconcelos.
- É aqui.
Todos ficaram
encantados. A casa era um pouco menor. Mamãe, ajudada por Totoca,
destoceu um arame que prendia o portão e foi aquele avança. Glória
soltou a minha mão e esqueceu-se de que estava ficando mocinha.
Desabalou à carreira e abraçou a mangueira.
- A mangueira é
minha. Peguei primeiro.
Antônio fez a mesma
coisa com o pé de tamarindo.
Não sobrara nada
para mim. Olhei quase chorando para Glória.
- E eu, Godóia?
- Corre lá no
fundo. Deve ter mais árvore, bobo.
Corri, mas só
encontrei um capinzal crescido. Um bando de laranjeira velha e
espinhada. Junto do valão tinha um pequeno pé de Laranja Lima.
Fiquei desapontado.
Todos estavam visitando os cômodos e determinando para quem seriam
os quartos.
Puxei a saia de
Glória.
- Não tinha nada
mais.
- Você não sabe
procurar direito. Espere aí que eu vou achar uma árvore para você.
E logo depois ela
veio comigo. Examinou as laranjeiras.
- Você não gosta
daquela? Olhe que é uma bela laranjeira.
Não gostava de
nenhuma mesmo. Nem daquela. Nem daquela, nem de nenhuma. Todas tinham
muito espinho.
- Pra ficar com
essas feiuras, eu ainda preferia o pé de laranja Lima.
- Onde?
Fomos lá.
- Mas que lindo
pezinho de Laranja Lima! Veja que não tem nem um espinho. Ele tem
tanta personalidade que a gente de longe sabe que é Laranja Lima. Se
eu fosse do seu tamanho, não queria outra coisa.
- Mas eu queria um
pé de árvore grandão.
- Pense bem, Zezé.
Ele é novinho ainda. Vai ficar um baita pé de Laranja. Assim ele
vai crescer com você. Vocês dois vãos e entender como se fossem
dois irmãos. Você viu o galho? É verdade que é o único que tem,
mas parece até um cavalinho feito pra você montar.
Estava me sentindo o
maior desgraçado da vida. Me lembrava da garrafa de bebida que tinha
a figura dos anjos escoceses. Lalá disse: “ Esse sou eu “.
Glória apontou outro para ela. Totoca pegou outro pra ele, e eu? Eu
fiquei sendo aquele cabecinha lá atrás, quase sem asa. O quarto
anjo escocês que nem era um anjo inteiro... Sempre eu tinha que ser
o último. Quando crescesse, iam ver só. Ia comprar uma selva
amazônica, e todas as árvores que tocavam no céu seriam minhas.
Compraria um armazém de garrafas cheias de anjo e ninguém ganhava
um pedaço de asa.
Fragmento do livro:
O meu pé de Laranja Lima de José Mauro de Vasconcelos
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