quarta-feira, 6 de maio de 2015

Fragmento do livro: O meu pé de Laranja Lima de José Mauro de Vasconcelos

Na 398° edição do programa radiofônico Alacazum Palavras Para Entreter, idealizado, produzido e apresentado pela escritora Celeste Martinez, que foi ao ar no dia 12 de abril de 2015, das 8 às 9 h transmissão ao vivo Rio Una Fm 87,9 apreciamos fragmentos do livro: O meu pé de laranja lima de José Mauro de Vasconcelos.

- É aqui.

Todos ficaram encantados. A casa era um pouco menor. Mamãe, ajudada por Totoca, destoceu um arame que prendia o portão e foi aquele avança. Glória soltou a minha mão e esqueceu-se de que estava ficando mocinha. Desabalou à carreira e abraçou a mangueira.

- A mangueira é minha. Peguei primeiro.

Antônio fez a mesma coisa com o pé de tamarindo.

Não sobrara nada para mim. Olhei quase chorando para Glória.

- E eu, Godóia?

- Corre lá no fundo. Deve ter mais árvore, bobo.

Corri, mas só encontrei um capinzal crescido. Um bando de laranjeira velha e espinhada. Junto do valão tinha um pequeno pé de Laranja Lima.

Fiquei desapontado. Todos estavam visitando os cômodos e determinando para quem seriam os quartos.

Puxei a saia de Glória.

- Não tinha nada mais.

- Você não sabe procurar direito. Espere aí que eu vou achar uma árvore para você.

E logo depois ela veio comigo. Examinou as laranjeiras.

- Você não gosta daquela? Olhe que é uma bela laranjeira.

Não gostava de nenhuma mesmo. Nem daquela. Nem daquela, nem de nenhuma. Todas tinham muito espinho.

- Pra ficar com essas feiuras, eu ainda preferia o pé de laranja Lima.

- Onde?

Fomos lá.

- Mas que lindo pezinho de Laranja Lima! Veja que não tem nem um espinho. Ele tem tanta personalidade que a gente de longe sabe que é Laranja Lima. Se eu fosse do seu tamanho, não queria outra coisa.

- Mas eu queria um pé de árvore grandão.

- Pense bem, Zezé. Ele é novinho ainda. Vai ficar um baita pé de Laranja. Assim ele vai crescer com você. Vocês dois vãos e entender como se fossem dois irmãos. Você viu o galho? É verdade que é o único que tem, mas parece até um cavalinho feito pra você montar.

Estava me sentindo o maior desgraçado da vida. Me lembrava da garrafa de bebida que tinha a figura dos anjos escoceses. Lalá disse: “ Esse sou eu “. Glória apontou outro para ela. Totoca pegou outro pra ele, e eu? Eu fiquei sendo aquele cabecinha lá atrás, quase sem asa. O quarto anjo escocês que nem era um anjo inteiro... Sempre eu tinha que ser o último. Quando crescesse, iam ver só. Ia comprar uma selva amazônica, e todas as árvores que tocavam no céu seriam minhas. Compraria um armazém de garrafas cheias de anjo e ninguém ganhava um pedaço de asa.


Fragmento do livro: O meu pé de Laranja Lima de José Mauro de Vasconcelos

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