Na 401° edição do
programa radiofônico Alacazum palavras para entreter, conduzido pela
escritora Celeste Martinez, que foi ao ar no dia 3 de maio de 2015,
das 8 às 9 h, transmissão ao vivo Rio Una FM 87,9, apreciamos o
texto:Só mesmo trepando em árvores de Rolando Boldrin.
Só mesmo trepando em árvores
Esse é um causo muito antigo. Muito antigo, mas muito bom. Pois, como sempre, envolve a sagacidade do caipira que eu tanto gosto de contar.
Aconteceu na época da revolução dos mineiros e paulistas, que a gente não gosta de lembrar, porque irmão brigar com irmão é coisa muito feia. Onda já se viu? Mas naquele tempo, eles brigaram feio.
Pois bem. Vinha por uma estrada o nosso personagem. Um caipira que não queria nada com essa briga que eu falei. E ele era paulista. Estava, portanto, em território dele. Eis que surge um punhado de guerrilheiros, que o nosso caipira pensou ser de procedência paulista. Engano! Era uma turma de mineiros à procura de paulista pra móde descer, como lá diz o outro, o cacete!
Ao chegar perto do capiau, um dos integrantes do grupo de mineiros perguntou:
Mineiro- Ocê ai, capiau? Ocê é paulista ou mineiro?
Caipira- ( pensando que eram paulistas ) Uê. Eu sô polista quiném ocêis. Tô na minha terra.
Foi só falar que era paulista e já receber a primeira paulada da turma. E daí se seguiu um punhado de soco e pontapé, até deixarem o coitado estendido.
Dali a pouco, já refeito e cheio de hematomas, lá vai o nosso caipira pela estrada, quando surge agora outro grupo. Desta vez, de paulista.
Paulista- Ocê ai, caipira duma figa. Ocề é paulista ou mineiro?
Caipira- ( pensando que era outro grupo de mineiros ): Eu? Eu sô das Minas Gerais, uai!
Foi só falar e receber uma pancada surda de cacete bem dada. E, como antes, porrada pra cá e pra lá, de todo o jeito. Lá ficou o nosso bom capiau quase que desacordado.
Dali a pouco, lá estava ele, pela estrada, andando até com certa dificuldade, quando avista outro grupo de guerrilheiros se aproximando. Mais do que depressa, procura uma árvore frondosa e nela se atrépa pra se esconder da turma, pois já não saberia se era um grupo de paulista ou de mineiros. E apanhar de novo era o que ele não queria.
Pois bem. Ficou ali atrepado, escondido, esperando que os marvados passassem direto. Mas qual! Pararam justamente embaixo da tal árvore para descansar ou fumar um cigarro de palha.
De repente, um dos guerrilheiros, olhando distraidamente para o alto, ali descobre o nosso capiau atrepado. Chama a atenção do grupo e, em voz de comando, pergunta ao capiau asperamente:
Guerrilheiro: Ocê ai! Oh, caṕiau duma figa. Diga pra gente aqui: ocê é paulista ou mineiro? Heim?
Para a surpresa de todos- e alegria de quem gosta muito de um causo - nosso capiau responde com voz tremida:
Caipira: Heim? Eu... eu.... sou.... sou... Eu sou FRUITA!
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