terça-feira, 29 de junho de 2010

Boletim PNLL nº 213 - 28/06 a 04/07/2010‏


Dicas de leitura
O editor, de Álvares de Azevedo

“A poesia transcrita é de Torquato,
Desse pobre poeta enamorado
Pelos encantos de Leonora esquiva,
Copiei-a do próprio manuscrito;
E, para prova da verdade pura
Deste prólogo meu, basta que eu diga
Que a letra era um garrancho indecifrável,
Mistura de borrões e linhas tortas!
Trouxe-ma do Arquivo lá da lua
E decifrou-ma familiar demônio...
Demais... infelizmente é bem verdade
Que Tasso lastimou-se da penúria
De não ter um ceitil para a candeia.

Provo com isso que do mundo todo
O sol é este Deus indefinível,
Ouro, prata, papel, ou mesmo cobre,
Mais santo do que os Papas — o dinheiro!
Byron no seu Don Juan votou-lhe cantos,
Filinto Elísio e Tolentino o sonham,
Foi o Deus de Bocage e d’Aretino,— Aretino! essa incrível criatura
Lívida, tenebrosa, impura e bela,
Sublime... e sem pudor, onda de lodo
Em que do gênio profanou-se a pérola,
Vaso d’ouro que um óxido terrível
Envenenou de morte, alma — poeta
Que tudo profanou com as mãos imundas
E latiu como um cão mordendo um século...”

Ao Entardecer, de Visconde de Taunay
“Em dia fresco e de chuva miuda, viajava eu na estrada de ferro Central.Vinha de S. Paulo para o Rio de Janeiro em trem que parecia, contra inveterados hábitos, dever chegar á hora regulamentar.A locomotiva como que se aprazia a devorar o espaço - na phrase consagrada - por tempo tão grato que dispensava calor, poeira e grandes atrazos, e o jornadear, calculado por tabella official de paradas certas, inflexíveis, sempre as mesmas, era relativamente agradável.Na estação do Cruzeiro, onde desde largos annos -ia dizendo séculos - imperam o porte dominados, a alentada bengala, a enérgica gesticulação e as barbas medieváes e enchumaçadas do major Novaes, entrou uma família, regressando de Caxambú. Pae, mãe, bastante moços, esta ainda vistosa, bonita, um filho de 12 para 13 annos, visivelmente doente, duas creadas, uma branca, outra preta, e um molocóte, vestido de pagem, muitas malinhas de mão, chales, cobertores, travesseiros, garrafas de leite e águas mineraes, embrulhos com restos, sem duvida, da matolotagem, comida á descida da serra.”

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