Na 196° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 07 de novembro de 2010, transmissão pela Rádio CLube de Valença 650 KHZ AM apreciamos o texto: Lá no mar de Lygia Bojunga.
Foi o pescador mesmo que fez o barco que ele usava todo dia pra pescar; quando ele era garoto, tinha aprendido com o pai a fazer barco.
E o pai tinha aprendido com o avô.
E o avô tinha aprendido com o bisavô.
Mas o pescador não tinha filho pra ensinar como é que se fazia barco nem como é que se pegava peixe. Ele não tinha casado, não tinha se acertado com ninguém: se ele gostava de uma moça, a moça não gostava dele. E vice-versa. E com amigo, a mesma coisa. Então, assim, nesse nunca-se-acertando, o pescador se habituou a viver sozinho. Sozinho, não: ele e o barco; ele e o barco; ele e o barco lá no mar.
Eles engrenavam tão bem! o pescador e o barco. Um sabendo o jeito do outro. Os dois sentindo juntos a hora certa de esperar o peixe, de arrastar a rede.
E lá no mar alto, atravessando a noite, eles conversavam até não poder mais. Quer dizer, o pescador pensava em voz alta e o barco escutava: era assim o papo dos dois.
E o barco então ouviu muita história.
História de pescaria.
História de amor (desacerto com moça, essas coisas)
História de saudade. Saudade que o pescador sentia do pai e do avô ( os dois tinham morrido no mar); saudade do tempo que ele era criança e ficava sentado na praia consertando rede e escutando os casos que o pai e o avô iam contando e que agora ele contava pro barco.
O barco escutava. E tanto escutou e tanto ano passou, que ele foi tendo a impressão de que era com ele que tudo tinha acontecido; que era ele que contava aquilo tudo pro pescador. O pescador, a mesma coisa: se habituou a achar que o barco e ele eram um só.
Uma noite um temporal horrível pegou os dois no mar alto.
Quantas vezes eles já tinham aguentado temporal no mar. Mas nunca tinham sentido uma ventania assim tão forte; nunca tinham visto tanto raio estalando.
Deu medo.
E o mar também: o mar se apavorou: foi ficando todo arrepiado, todo encrespado.
Quando o temporal viu o medo que ele estava espalhando, se achou tão forte! quis dar ainda mais medo: fez o céu parecer pegando fogo de tanto estalo e clarão.
O mar nem quis mais ver; desatou a levantar onda. Uma atrás da outra. Uma mais alta que a outra. Pra ver se uma delas tapava o céu.
O barco subia na onda; o pescador pedia coragem; a onda largava eles de qualquer jeito; o barco tentava aguentar; e já o mar levantava outra onda; e o barco subia de novo; e o pescador pedindo coragem, coragem! E o barco tentando aguentar.
Os dois já estavam exaustos.
Em vez de se acalmar. o temporal piorava.
O pescador não tinha mais controle do leme.
E perdeu o controle dos nervos também: sentiu a sombra de um homem chegando; se virou; sentiu outro homem vindo. Iam tomar o barco dele?
- Eu não entrego! - ele gritou-, esse barco é meu. - E se agarrou alucinado no leme.
O barco ouviu o grito do companheiro; ficou atarantado: quem é que tinha chegado?
FRAGMENTO DO CONTO: LÁ NO MAR DE LYGIA BOJUNGA. Retirado do livro: TCHAU
Un poema de María Paula Alzugaray
Há 2 meses
5 comentários:
o texto não está completo!
o texto não está completo!
Pois e apenas um fragmento ou seja parte dele
o texto está faltando uma boa parte
onde acho o resto da historia?nao tenho o livro preciso achar online
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