Domingo, 24 de fevereiro de 2013.
Manhã. Plantada frente ao espaço de frios do supermercado aguardo atendimento. Entre as outras pessoas que esperam uma em
particular, fisionomia conhecida. Animo-se a saudar e perguntar sobre fatos do
cotidiano. Surpreende-me a recepção e a dinâmica do diálogo. Esta pessoa escuta
o meu programa de rádio: O ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER. De repente seus
olhos, desviam-se, buscando. Um garoto aproxima-se.
- Gustavo, esta é quem faz o
ALACAZUM. Disse o homem olhando para o filho e apontando para mim.
O pequeno, apenas posicionou
avidamente os olhos em minha direção e soltou um belo sorriso.
- Lembra filho: “Não vê, mas
escuta”.
O homem referia-se ao quadro em
que ofereço uma caixa de chocolate e para exercitar os sentidos, sacudo o
objeto, proferindo tais palavras.
Outro amplo sorriso desabrochou
no belo rosto infantil. Para ampliar o diálogo e colher a opinião do menino que
até aquele momento só presenteava expressões, pergunto-lhe:
- Você gosta das histórias que
conto?
Balançou a cabeça
afirmativamente.
- E por que nunca ligou para
concorrer à caixa de chocolate? Perguntei-lhe novamente.
- Sempre está ocupada a linha.
Respondeu o pai.
- A audiência é disputadíssima.
Complementei.
Voltei meus olhos com apuro para
o pequeno Gustavo que permanecia próximo e curioso. Ele nada sabe do
emudecimento do ALACAZUM por quatro domingos no mês de fevereiro de 2013. O
pequeno não sabe de minha angustia por aguardar um veredicto de absolvição ou
condenação. Nada comentei. Omiti minhas dores. Não faria bem para o instante
onde fui presenteada com elogios, sorrisos e esperança.
- Eu já passei pelo ALACAZUM.
Disse repentinamente Gustavo olhando para mim.
- Ah, você já
passou em frente à sede da emissora de
rádio? Perguntei-lhe.
-Não. Intervém
o pai. Ele está falando da PIZZARIA OS MARTINEZ . Pede-me sempre para ir lá.
Não estou com tempo. Um dia iremos. Complementou.
- É hoje.
Falou imperativamente o menino.
- Viu como ele
fala? Disse o homem olhando para mim.
Observei mais
uma vez Gustavo com seus belos olhos, distanciando-se, dada às mãos com o seu
pai.
- Até logo!
Disse-me.
Dos meus olhos
arrotou uma muda tristeza em forma de invisíveis lágrimas. Mordi os lábios para
que não saíssem. Não podia permitir que a angustia me abraçasse, ali, diante do
frigorífico de carnes. Entre a tristeza expressa no aperto que se estreitava em
minha garganta e a constatação alegre da importância do programa ALACAZUM
PALAVRAS PARA ENTRETER na vida das crianças, adolescentes e adultos da cidade
de Valença BA; optei pela segunda.
OS: Nesta noite, o Gustavo, ( 6 anos de idade)
aparece na PIZZARIA O MARTINEZ acompanho por seus pais: Adilson e Horiana.