domingo, 9 de fevereiro de 2014

A Iara de Ricardo Azevedo

Na 338° edição do Alacazum palavras para entreter, apresentação de Celeste Martinez e que foi ao ar no dia 2 de fevereiro de 2014, das 8 às 9 h da manhã de domingo, transmissão ao vivo 87,9 Rio Una FM, cujo tema : Lembranças da cidade de Valença Ba, fizemos um recorte no espaço urbano da Rua Dr. R. Leal onde antigamente existia um mercado de carne e peixe e tentamos mobilizar o público ouvinte-leitor para as recordações através da música: Fuscão Preto com Almir Rogério, Princesa com Amado Batista e Baião com Luiz Gonzaga, o imaginário das pessoas que viveram durante este período. Infelizmente não foi possível desenvolver o trabalho com exito por que o telefone estava com defeito impossibilitando o público de participar e demonstrar o seu conhecer. Por ser o dia 2 de fevereiro, fizemos a leitura da história: A Iara de Ricardo Azevedo, retirado do livro: Armazém do Folclore.

Segundo a lenda, a Iara abriu os braços para Jaguarari, sorriu e desapareceu no escuro profundo. Desde aquele dia, Jaguarari nunca mais foi o mesmo. Não queria mais saber de conversa. Não tinha fome. Passava as noites andando sem rumo. Não conseguia arrancar aquela moça encantada do pensamento. Um dia, desesperado, pegou a canoa e partiu para o meio do rio. Dizem que a Iara apareceu. Jaguarari mergulhou com ela e nunca mais voltou.
Na verdade, em todos os cantos do mundo, existem histórias de mães-d´-água.
Na Europa, elas são as famosas sereias, descritas como mulheres loiras e lindas, às vezes metade mulher, metade peixe, que vivem nos rios e nos mares penteando a cabeleira, admirando-se diante dos espelhos, cantando e fazendo os navegantes perderem o juízo.
Por vezes, as sereias conseguem seduzir os  homens contando histórias do fundo do mar. Outras vezes, conseguem fazer com que os viajantes, distraídos com seus encantos, larguem o controle dos barcos e acabem se espatifando nas pedras rochosas.
Histórias muito antigas, vindas da África, contam que no fundo do mar habita uma deusa, Iemanjá muito poderosa, capaz de influenciar as coisas e os rumos de nossa vida. Até hoje existe o costume de levar presentes, perfumes, colares, pentes, sabonetes, essas coisas de que as mulheres gostam, à rainha do mar. Muitos pescadores garantem que é essa deusa quem determina se sua rede vai voltar vazia ou cheia de peixes. Tal como a Iara e as sereias, a poderosa  Iemanjá, se quiser, também pode levar homens embora para sempre.
Na Grécia Antiga, contava-se a história do astuto Ulisses, o herói dos mil ardis. Durante sua viagem de volta à Itaca, onde morava, viu-se obrigado a cruzar a perigosa Terra das Sereias. Acontece que Ulisses era atrevido. Resolveu que ia conhecer o canto daquelas verdadeiras feiticeiras aquáticas e, para isso, seguiu os conselhos de sua amiga Circe: primeiro, tapou com cera os ouvidos de seus companheiros de viagem. Depois, pediu a eles que o amarrassem, bem amarrado, no mastro do navio. Assim, graças a esse estratagema, o guerreiro dos mil disfarces passou pertinho das sereias e, maravilhado, quase enlouquecido pôde admirar suas maravilhas e ouvir seu canto indescritível, sem correr o risco de ser levado, antes do tempo, para o abismo inevitável da morte.
Iaras, sereias, mães-dá-água.
Pensando bem, talvez representem algo presente na alma de todo ser humano: a vontade secreta d experimentar o novo, mesmo correndo riscos. O sonho de encontrar, no desconhecido, o paraíso e a felicidade perdida.
O mito de Ulisses em todo caso, nos ensina que existe um meio-termo: é possivel, sim, experimentar e sobreviver ao canto extraordinário da sereia. Basta ter coragem e, claro, saber usar a cabeça.

Ricardo Azevedo em Armazém do Foclore

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