quinta-feira, 4 de junho de 2015

Infância de Carlos Drummond de Andrade

Na 402° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 10 de maio de 2015, das 8 às 9 h transmissão ao vivo Rio Una FM 87,9 cujo tema versou sobre o Dia da Mãe, apreciamos a poesia:Infância na voz de Carlos Drummond de Andrade.

Infância

Meu pai montava a cavalo ia para o campo
Minha mãe ficava sentada cosendo
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu... não acorde o menino
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro, que susto.

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que a minha história
era mais bonita que a de Robson Crusoé.

Carlos Drummond de Andrade

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