quinta-feira, 31 de julho de 2008

Fábio Luz

Era o ano de 1864. Precisamente 31 de julho de 1864. Em uma destas sedes de fazendas assobradadas, construídas em alvenaria de pedra, com planta tendente ao quadrado, recobertas por telhados de quatro águas, sem varanda... Destacando na parte térrea quatro janelas e uma porta central e no primeiro andar cinco janelas de guilhotina...

Aí neste sobrado, onde em seu interior encontravam-se em perfeito estado de conservação, móveis em estilo rococó, marquesas, consoles com pata de animal, mobílias austríacas de palhinhas, lustres de cristal e espelhos com molduras douradas...

Justamente neste ambiente polidamente arrumado, destacava-se no centro de um dos quartos (o quarto de casal) uma enorme cama, cuja cabeceira exibia volutas, rocalhas, flores e palmas, entalhadas em jacarandá. Em meio a volumosos lençóis de algodão branco, uma mulher, entre gemidos tímidos, suores transbordantes e expressões dolorosas, esforçava-se no sublime trabalho de parto. Outras pessoas acompanhavam de perto a agonia da mulher. Uma delas mantinha-se perto da cabeceira com uma toalha. As outras duas, permaneciam sentadas, cada uma de um lado da cama, segurando firmemente sua mão entre breves ladainhas. O médico animava a paciente com palavras incentivadoras, enquanto exercia sua função prática no resgate da criatura.

Além das fronteiras geográficas, no continente europeu, a três meses atrás neste mesmo ano, nascia o sociólogo e economista alemão Max Weber. Se manhã ou tarde, dia ou noite, não consta nos arquivos. Sabe-se apenas que chovia torrencialmente acompanhado de trovões e relâmpagos. Cercada por esses fenômenos físicos e os temores religiosos fundamentos de sua educação, a mulher rompeu um grito e este seguiu na mesma freqüência abrupta que o grito da criança e também do último trovão daquela ocasião. E para que conste nos registros, neste mesmo ano em Costa Rica, Irazu, o vulcão, eclode larvas incandescentes.

Esta cena tão comum do cotidiano, passaria despercebido se não fosse por um único detalhe: a criatura em questão era Fábio Lopes dos Santos Luz. Ilustre personagem da história de Valença- Bahia. Esta introdução poderia ser a verdade do nascimento de Fábio Luz cujos registros atuais são escassos, desprovidos de detalhes sobre sua família, porém convém aguçar a imaginação, resgatando a memória deste que lutou por uma sociedade mais justa e igualitária.

Àquela época, a povoação do Amparo, à margem do Rio Una, já havia sido elevada a Vila com o nome de Valença, em homenagem ao Marques de Valença, D. Afonso. E também por esta época, Valença participava ativamente do novo modelo de trabalho que começava a se configurar no mundo após a revolução industrial. Possuia uma fábrica de tecidos, que produzia diariamente 600 varas de pano. Era a maior fábrica de tecidos do império contando inclusive no ano de 1860 com a visita do imperador D. Pedro II. Caracterizava-se pelo emprego de mão de obra remunerada com grande participação feminina. Evidente que os salários eram baixos, entretanto a fábrica complementava através de serviços assistenciais, como moradia, alimentação, educação, etc. Vale destacar que até esta época (1864), o Brasil, continuava a manter cativos a grande população africana.

Nosso protagonista, Fábio Luz, não permanece por muito tempo na cidade de Valença, Bahia. Entre 1883 e 1888 estudou medicina na cidade de São Salvador da Bahia de Todos os Santos. Neste período engaja-se nos ideais abolicionistas e republicanos. Mais foi somente na cidade do Rio de Janeiro que conhece as bases do Anarquismo Libertário. Como médico, trabalhou por muito tempo atendendo a população mais carente do Rio de Janeiro no período em que as epidemias assolavam a Capital Federal. Como educador promoveu a Universidade Popular destinada a formação cientifica e política dos operários. Fundou dois jornais: A Luta Social e Revolução Social. Escreveu para outros: A Plebe, A vida, Voz da União, Spartacus, etc., e entre suas produções literárias encontramos romances e novelas de temática social e orientação anárquica.

Se muitos dos habitantes da cidade de Valença, Bahia, neste dia 31 de julho de 2008 não reconhecem ou não recordam da data de nascimento do Fábio Luz é por que uma página da história da cidade de Valença, ficou esquecida. Neste dia 31 de julho, muitas coisas continuam adormecidas em muitos calabouços da memória. As ruas já não falam, os prédios não mais suspiram, as pessoas já não contam suas histórias, muitas delas adormecem nos retângulos frios dos cemitérios. Hoje, 31 de julho, a escravidão continua a existir, vestida sutilmente de liberdade, iludindo-nos a todos com suas facilidades de crédito em seis, doze, vinte e quatro vezes... O certo é que em algum lugar alguém recordará Fábio Luz e sua memória será mantida e seus ideais reflexionados.
O esquecimento é um frio ambulante, habituado aos desapegos, aos adeus. Segue sempre com o vento...Hoje será diferente!A memória, vestiu-se mais cedo, sentou-se no banco de madeira e resolveu contar sua história.

Viva Fábio Luz! Viva Valença da Bahia.
Celeste Martinez - Escritora
Segue outra teia de reflexão:

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Hoje, amanheci remoendo o pensar.
E o pensar é uma caverna nutrida de visões,
sabores...
Mastigo as vibrações que povoam meus sentidos
lentamente
e deixo-me levar pelo ritmo das mandíbulas
assim como quem se embriaga com visões ignotas...
Passa uma palavra
vestida de vontade
pousa em minha boca
provoca a comichão
(até aqui o poema foi interrompido. Pensou-se em dar continuidade no outro dia todavia o outro dia nunca aconteceu para o poema e este tornou-se um disforme)
Celeste Martinez
escritora
Ontem, dia 27 de julho de 2008, não foi exibido a edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER; pedimos a compreensão dos nossos ouvintes-leitores ao mesmo tempo que agradecemos aos nossos parceiros culturais que continuam conosco até o momento.

domingo, 20 de julho de 2008

89° edição ALACAZUM

Na 89° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER, que foi ao ar no dia 20 de julho de 2008 (via on line) abordamos a música popular brasileira (MPB) como segundo ítem de preferência musical dos nossos internautas (conforme enquete realizada anteriormente), nesta perspectiva elaboramos um tema: "Músicas, lendas e histórias brasileiras", privilegiando as seguintes lendas: "A lenda da Iara", que compreende a região norte do brasil e "A fonte dos Amores", que corresponde à região sul do Brasil, retiradas do livro: "Lendas Brasileiras" do Câmara Cascudo; ainda desfrutamos do conto: "A Mariquita", do professor Cid Teixeira, jornalista e historiador baiano; no quadro: Artes Visuais, o artista plástico Horacio Martinez abordou sobre a vida da pintora, gravadora e desenhista brasileira Anita Catarina Malfatti; oferecemos como dica de leitura, o livro: "Os Lusófonos" do cantor e compositor brasileiro, Martinho da Vila; no quadro das expressões populares informamos sobre o significado e a origem da seguinte expressão popular: "Será o Benedito"?; apresentamos ainda alguns fatos registrados na semana inclusive o falecimento da atriz brasileira Dercy Gonçalves e como complementação musical prestigiamos os seguintes artistas: Martinho da Vila, Clara Nunes, Miucha e Tom Jobim; Moraes Moreira, Maria Bethânia e Waldir Azevedo.
E não esqueça:
Escute aos domingos das 11 às 12 horas (hora de Brasília) o programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER http://www.alacazum.com/ com Celeste Martinez pela Rádio Clube de Valença 650 HKZ AM direto de Bahia - Brasil ou em http://www.radioclubedevalenca.com.br/

Na transmissão do programa radiofônico RADIONOVELA (direto de Lisboa - Portugal) http://www.radionovela.com.pt/do dia 06 de julho de 2008, o comunicador Sérgio Teixeira faz referência ao programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER.
Confira!
Ouve aqui a emissão do dia 6 de Julho de 2008.
Para fazer o download do ficheiro mp3 carrega aqui.

A Mariquita



Todo bairro tem seus ícones, seus personagens que, de tanto referidos, terminam por serem transformados em representações da história da comunidade. Ali pelos anos trinta do século XX, todo o Rio Vermelho - Mariquita - gravitava em torno da pedreira do senhor Adolfo Moreira. Ali, onde hoje há um espaço de estacionamento do Hotel que foi Meridien e que agora tem outro nome, parece que é Pestana, se não me falha a memória, havia uma pedreira que todos os dias detonava um cartucho de dinamite, em plena cidade de Salvador, área urbana.
Ninguém estava reclamando, estava todo mundo tranquilo, detonava um canudo com um cartucho de dinamite às três da tarde e as pessoas, longe de se zangarem, conferiam os seus relógios, porque o paradigma era a denotação do dinamite da pedreira. Esse Adolfo Moreira, homem rico, morava numa casa que mais tarde, com a morte dele, e por sua vontade testamentária, se transformou numa casa de orfãs - Abrigo Hercília Moreira, nome da mãe dele. O Asilo foi doado a umas freiras que o mantêm ainda hoje.
Esse homem era um tipo curioso. Para se ter uma idéia: era o único morador do Rio Vermelho que, na época, tinha um automóvel. Era um homem gordíssimo. O automóvel já estava meio empenado com o peso dele de um lado, mas era o único: o carro do senhor Adolfo Moreira.
Ele se dava, não direi a um luxo, que era encanto para os garotos amigos dos seus filhos. Tinha, em casa, um viveiro de pássaros enorme. E era uma armação de ferro forrada de grades de tela e permitia que um homem lá entrasse com folga. Um homem, ou dois, ou três. Os passarinhos ficavam ali dentro, com algum ar de liberdade. Havia um cidadão que cuidava disso, com obrigação de colocar comida e água.
Um dia, era tempo de quaresma e o homem que devia cuidar dos passarinho, ou foi negligente ou teve um problema, qualquer, o fato é que ele não cuidou dos bichos. O senhor Adolfo Moreira surpreendeu os passarinhos dele com sede, e alguns já caídos, com fome. Ele pegou os meninos que estavam por ali, inclusive a mim e perguntou:
- Não é tempo de quaresma, agora?
- É, sim senhor. Foi a respeitosa resposta...
- Não é tempo de tomar bênção às mães?
- É, sim senhor.
- Já tomou à sua?
- Já sim, senhor. Não estou sabendo para onde ia com essa conversa toda. Vimos que pegou a porta do viveiro, abriu, segurou uma toalha que estava perto e saiu espantando, soltando os passarinhos.
- Vai cambada, vai tomar bênção às suas mães que é tempo de quaresma!
E espantou os passarinhos todos, que, desabituados à liberdade, foram na grande maioria morrer na praia em frente.

Cid Teixeira do livro: Histórias: minhas e alheias

Dica de Leitura


Na 89° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER oferecemos como dica de leitura o livro: Os Lusófonos do cantor e compositor brasileiro Martinho da Vila.
Martinho da Vila narra neste romance sua verdadeira epopéia por um entrelace de culturas tão diferentes na sua origem e tão aproximadas pelo calor do idioma, tornando-nos irmãos de nacionalidades diferentes. Sua vivência, sua vida, suas paixões, enfim, sua trajetória, que por vezes se mistura com a trajetória da cultura dos países de sua adoração.Mergulhe, explore, e identifique-se, em rota inversa, com os caminhos lusófonos. Esta pode ser a sua própria história.

Quadro: Artes Visuais

Performance do artista plástico Horacio Martinez
Na 89° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER, o artista plástico Horacio Martinez, teceu comentários sobre a pintora, gravadora e desenherista brasileira, Anita Catarina Malfatti.

Anita Malfatti


Retrato de Anita Malfatti aos 23 anos
Anita Catarina Malfatti, nasceu em São Paulo no dia 2 de dezembro de 1889 e faleceu no mesmo estado no dia 6 de novembro de 1964. Foi uma pintora, desenhista, gravadora e professora brasileira. Filha do engenheiro italiano Samuel Malfatti e de Betty Krug, norte-americana, mas de família alemã, foi a primeira artista brasileira a aderir ao modernismo, tendo sido uma das expositoras da mostra, realizada no Teatro Municipal de São Paulo, que fazia parte da Semana de Arte Moderna de 1922.


Anita Malfatti - A ventania

Anita Malfatti - O farol
Anita Malfatti - Estudante
Na 89° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER apreciamos a leitura de duas lendas brasileiras, retiradas do livro: "Lendas Brasileiras" do Câmara Cascudo. A primeira: "A lenda da Iara", que representa o folclore da região norte do Brasil e a segunda: "Fonte dos Amores", que representa o folclore da região sul do Brasil.

Fonte dos Amores

"Quem for visitar o Passeio Público, e olhar a "Fonte dos Amores", verá que somente os dois jacarés, símbolo da cobiça astuciosa, resistiram e estão vivendo, mandíbulas abertas, através dos séculos..."

Fragmento da lenda "Fonte dos Amores" , do livro: Lendas Brasileiras do Câmara Cascudo.







Fonte dos Amores no Passeio Público do Rio de Janeiro - Brasil



Região Sul Brasileira



A Região Sul é uma das cinco grandes regiões em que é dividido o Brasil. Compreende os estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que juntos totalizam uma superfície de 576.300,8 km². A Região Sul é a menor das regiões brasileiras e faz parte da região geoeconômica Centro-Sul. É um grande polo turístico, econômico e cultural, abrangendo grande influência européia, principalmente de origem italiana e germânica. A Região Sul apresenta altos índices sociais em vários aspectos: possui o maior IDH do Brasil, 0,807, e a segunda maior renda per capita do país, 13.208,00 reais, atrás apenas da Região Sudeste. A região é também a mais alfabetizada, 93,7% da população.
Faz fronteiras com o Uruguai ao sul, com a Argentina e com o Paraguai ao oeste, com a Região Centro-Oeste e com a Região Sudeste do Brasil ao norte e com o Oceano Atlântico ao leste.
Fonte: Wikipédia

Região Norte Brasileira


A Região Norte é uma das cinco regiões brasileiras. É formada por sete estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. A Região Norte está localizada na região geoeconômica da Amazônia entre o Maciço das Guianas (ao norte), o Planalto Central (ao sul), a Cordilheira dos Andes (a oeste) e o Oceano Atlântico (a noroeste). Na região predomina o clima equatorial com exceção do norte do Pará, do sul do Amazonas e de Rondônia onde o clima é tropical.

Fonte: Wikipédia

Dia dois de fevereiro: dia de Iemanjá



Dia dois de fevereiro
Dia de festa no mar
Eu quero ser o primeiro
Pra salvar iemanjá
Escrevi um bilhete a ela
Pedindo pra ela me ajudar
Ela então me respondeu
Que eu tivesse paciência de esperar
O presente que eu mandei pra ela
De cravos e rosas vingou
Chegou, chegou, chegou
Afinal que o dia dela chegou

Dorival Caymmi

Vocabulário e informações

IARA - significa mãe d' água, senhora d' água, de í, água, e ara, senhora.
IGARAPÉ - braço de rio que penetra interior das terras, podendo apresentar condições de navegabilidade, ou então originar-se de veios de nascentes em determinados pontos.
IGAPÓ - floresta alagada.
IACUMÁ- remo
IURARÁ- tartaruga
IR DE BUBUIA - deslizar na correnteza, sem o impulso da jacumã, ao sabor das águas, descendo.
MATUPIRIS - peixinhos que andam em bandos pelas margens dos rios.
JAUARIS - palmeiras
O GIGANTE DOS RIOS - é o rio Amazonas.
PIRACEMA - cardume de peixe quando sobe os igarapés para desovar.
MURIZAL - aglomeração de muris, gramínea aquática muito encontradiça nos rios amazônicos.
JAÇANÃ - pequena ave pernalta, comum no Norte e Nordeste brasileiro.
PIRARUCU - pirá, peixe, urucu, vermelho

Fonte: Lendas Brasileiras - Câmara Cascudo

O que escutamos na 89° edição do ALACAZUM?




Ary Barroso

Ary Barroso

Ary de Resende Barroso, nasceu na cidade de Ubá, no dia 7 de novembro de 1903 e faleceu na cidade do Rio de Janeiro no dia 9 de fevereiro de 1964. Foi um compositor brasileiro de música popular. Autor da bela música "Aquarela Brasileira", escrita no ano de 1930.

Aquarela Brasileira

Vejam essa maravilha de cenário
É um episódio relicário
Que o artista num sonho genial
Escolheu para este carnaval
E o asfalto como passarela
Será a tela do Brasil em forma de aquarela
Passeando pelas cercanias do Amazonas
Conheci vastos seringais
No Pará, a ilha de Marajó
E a velha cabana do Timbó
Caminhando ainda um pouco mais
Deparei com lindos coqueirais
Estava no Ceará, terra de Irapuã
De Iracema e Tupã
E fiquei radiante de alegria
Quando cheguei na Bahia
Bahia de Castro Alves, do acarajé
Das noites de magia, do candomblé
Depois de atravessar as matas do Ipú
Assisti em Pernambuco
A festa do frevo e do maracatu
Brasília tem o seu destaque
Na arte, na beleza, arquitetura
Feitiço de garoa pela serra
São Paulo engrandece a nossa terra
Do leste, por todo o Centro-Oeste
Tudo é belo e tem lindo matiz
No Rio dos sambas e batucadas
Dos malandros e mulatas
De requebros febris
Brasil, essas nossas verdes matas
Cachoeiras e cascatas
De colorido sutil
E este lindo céu azul de anil
Emoldura em aquarela o meu Brasil.

Ary Barroso

Expressão Popular: SERÁ O BENEDITO?

  • Em 1930, João Pessoa, então presidente da Paraíba e candidato à vice-presidência da República na chapa de Getúlio Vargas, foi assassinado em Recife, por razões pessoais. Apesar disso, o pleito foi realizado na data aprazada, saindo vencedor o candidato paulista Júlio Prestes . Esse resultado não foi aceito por Getúlio e seus correligionários, que alegando a ocorrência de fraude na votação, incentivaram e promoveram rebeliões em vários estados, em um movimento golpista que acabou provocando a deposição do presidente Washington Luís, em 14 de outubro de 1930, e impedindo a posse do eleito.
  • Nomeado dias depois - 03 de novembro - pelos generais Tasso Fragoso, Mena Barreto, Leite de Castro e almirante Isaías de Noronha, como chefe de um governo provisório, Getúlio preocupou-se em substituir os presidentes estaduais nos quais não confiava, colocando no lugar de cada um deles, interventores que escolhia pessoalmente. Em 1934, convocada a Constituinte e elaborada uma nova Constituição para a República, Vargas foi eleito presidente pelos congressistas, para o quadriênio de 1934-38.
  • Em Minas Gerais falava-se no nome de vários possíveis candidatos ao cargo de interventor, entre eles o de Virgílio de Melo Franco e o do advogado Benedito Valadares Ribeiro (1892-1973), natural de Florestal, pequena cidade situada a 70 quilômetros de Belo Horizonte, mas residente em Pará de Minas, onde havia exercido sua profissão por longo período, até ser eleito vereador e depois prefeito municipal. Político extremamente ladino, muito experiente, e acima de tudo praticante exímio da difícil arte do não comprometimento, qualquer que fosse a situação, Valadares foi personagem principal de inúmeros casos interessantes, fictícios ou não, que corriam de boca em boca pelas alterosas.
  • Num deles, dizia-se que ao ser indagado sobre sua posição a respeito de determinado assunto relevante, ele respondeu com a maior seriedade: “Eu não sou contra, nem a favor, muito pelo contrário!” . O fato é que diante da hesitação do presidente em decidir qual seria o interventor mineiro, o povo temia que ele acabasse optando pelo pior de todos, e por isso se perguntava temeroso: “Será o Benedito?” .
  • E foi realmente. Em dezembro de 1933, Benedito Valadares tornou-se interventor em Minas Gerais, ocupando a chefia do executivo mineiro até 05 de novembro de 1945 (poucos dias depois da deposição de Getúlio Vargas), completando, portanto, um mandato de 11 anos consecutivos, façanha que provavelmente nenhum outro governador mineiro jamais alcançará. Desse fato histórico restou a expressão “Será o Benedito?”, usada sempre que alguém tem alguma dúvida sobre qualquer coisa.

FERNANDO KITZINGER DANNEMANN
Publicado no Recanto das Letras em 16/01/2006

2008 ano internacional dos idiomas

Você sabia que antes da colonização européia, no Brasil existiam mais de mil linguas? Atualmente esses idiomas estão reduzidos a 180 línguas. Das 180 línguas, apenas 24 ou 13% têm mais de mil falantes; 108 línguas ou 60% têm entre cem e mil; enquanto que 50 línguas ou 27% têm menos de cem falantes e metade destas ou 13% têm menos de 50 falantes. O que demonstra que grande parte desses idiomas estão em sério risco de extinção.

Fonte: wikipédia
Na 89° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER divulgamos algumas notícias que integraram o panorama local, nacional e internacional, a exemplo da festa do Sagrado Coração de Jesus, padroeiro da cidade de Valença- Bahia - Brasil, que é festejado todo ano no dia 20 de julho; a morte da atriz brasileira, Dercy Gonçalves, ocorrido no dia 19 de julho; a descoberta de mais uma estrela na via láctea; a exposição de Marcel Duchamp no MAM- São Paulo; a exposição multisensorial JUNGLE JAM, no MAM - Bahia e a iniciativa da cidade de Volta Redonda - Rio de Janeiro no investimento com veículos ecológicos (ecotáxis).

20 de julho de 2008: Festa do Sagrado Coração de Jesus - Valença - Bahia - Brasil

Mapa de localização da cidade de Valença - Bahia - Brasil

Mapa de localização da Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus - 1759 -( ou Igreja Matriz como é chamada) Valença -Bahia -Brasil



Morre Dercy Gonçalves

Faleceu no dia 19 de julho de 2008 (sábado) na cidade do Rio de Janeiro, vitíma de complicações decorrentes de uma pneumonia, a atriz brasileira Dolores Gonçalves Costa, popularmente conhecida como Dercy Gonçalves, contava com a idade de 101 anos de idade.

Conheça a trajetória da atriz Dercy Gonçalves: http://televisao.uol.com.br/ultnot/2008/07/19/ult4244u1198.jhtm

JUNGLE JAM no MAM - Bahia - Brasil


O Museu de Arte Moderna da Bahia
Convida para a Exposição: JUNGLE JAM
do coletivo de artistas CHELPA FERRO
Abertura: 21 de julho de 2008 - Segunda- feira, às 19 horas
Com o lançamento do livro: "CHELPA FERRO"
Conversa com os artistas: 22 de julho- Terça-feira, às 19 horas- Galeria 1
Exposição: de 22 de julho à 17 de agosto de 2008
Horários: de terça-feira a domingo das 13 horas às 19 horas
Sábado: das 13 horas às 21 horas
CAPELA DO MAM
71 3117 6139 / 6065

Exposição individual de Duchamp no MAM- São Paulo

Na quarta-feira, dia 16 de julho de 2008, foi aberto ao público a maior exposição individual do artista Marcel Duchamp, realizada na América do Sul, no Museu de Arte Moderna de São Paulo- Brasil.

Fonte: Folha on line

A flor Peônia


No site nippobrasil.com.br podemos ler uma linda história sobre a Princesa Peônia, escrita e ilustrada por Cláudio Seto.

Estrela Peony: com um brilho estimado de 3,2 milhões de sóis.

Imagem do telescópio Spitzer mostra a estrela Peony, na região central da Via Láctea
Pesquisadores detectaram o que julgam ser a segunda estrela mais brilhante da via láctea. A atual campeã é "Eta Carina" com uma luminosidade de 4,7 milhões de sóis. Segundo os pesquisadores, Peony (este é o nome do objeto, em homenagem a flor Peônia) está madura o suficiente para explodir em breve, em um processo chamado supernova "breve" que em astronomia significa qualquer período entre o agora e milhões de anos.
Fonte: Folha on line


Ecotáxis

Na quinta-feira, dia 17 de julho de 2008, começaram a circular na cidade de Volta Redonda ( Rio de Janeiro) os primeiros "ecotáxis" - triciclos usados para transporte público - Os novos meios de transporte, fazem parte do programa "Pedala Volta Redonda", que vai ser lançado nas comemorações dos 54 anos da cidade.
Fonte: O Globo on line

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Desenho de Gugui Martinez


Na 88° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER, que foi ao ar no dia 13 de julho de 2008 (via on line) trabalhamos com o tema: "Gótico", proveniente de enquete realizada semana antes onde se indagou sobre o gosto músical dos internautas. Baseados nisso, nossa programação abordou além da arquitetura gótica, (destacando Giotto de Bondone) o gótico (estilo de vida), a literatura que envolve este estilo. Entre os autores investigados, destacamos: Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos, Charles Baudelaire, Edgar Allan Poe, na complementação musical apreciamos as seguintes bandas: Virgin Black, Tiamat, Venin Noir, Paradise Lost, Lacrimas Profundere e Theatre of Tragedy que têm em comun o gênero metal gótico. No quadro das expressões populares informamos sobre o significado e a origem da seguinte expressão popular: " É de tirar o chapéu". Na próxima edição do dia 20 de julho de 2008, abordaremos a música popular brasileira (MPB) como segundo ítem de preferência musical dos nossos internautas. Até lá! E não esqueça:
Escute aos domingos das 11 às 12 horas (hora de Brasilia) o programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER http://www.alacazum.com/ com a comunicadora Celeste Martinez pela Rádio Clube de Valença 650 HKZ AM direto de Bahia - Brasil ou em http://www.radioclubedevalenca.com.br/
ALACAZUM PARA VOCÊ!!!!!!!!!

Radionovela

Escute aos domingos das 16 às 17 horas (hora de Brasília) ou de 20 às 21 horas (hora de Portugal) o programa radiofônico: RADIONOVELA http://www.radionovela.com.pt/com o comunicador Sérgio Teixeira pela Popular Fm 90,9 MHZ direto de Lisboa- Portugal ou em http://www.popularfm.com/
Na transmissão do programa radiofônico RADIONOVELA do dia 06 de julho de 2008, o comunicador Sérgio Teixeira faz referência ao programa radiofônico ALACAZUM. Confira!
Ouve aqui a emissão do dia 6 de Julho de 2008.
http://www.zshare.net/audio/1487931483fcc531/
Para fazer o download do ficheiro mp3 carrega aqui.
http://www.zshare.net/audio/1487931483fcc531/

Arquitetura gótica

O estilo gótico, foi um movimento cultural e artístico que se desenvolveu entre os séculos XII e XV, na Idade Média. O termo: " Arte Gótica" foi empregada por primeira vez por Giorgio Vasari no ano de 1550 e consta no seu livro sobre as vidas dos mais excelentes pintores, escultores e arquitetos. Possuía a principio carater depreciativo por que tanto para Vasari quanto para Ghiberti (outro estudioso do assunto) o intervalo compreendido entre a época de Constantino e o advento de Giotto, foi um período considerado nulo. Para estes estudiosos da arte, os pintores, escultores e arquitetos afastaram-se da tradição clássica, influenciados pelo novo ideal estético: O Gótico.
Catedral de Burgos.

Catredal de Notre Dame, em Paris, França

A Catedral de Colónia -Alemanha


Neogótico no Brasil

Edificações góticas autênticas não existem no Brasil, mas o revivalismo neogótico popularizou-se a partir do reinado de D. Pedro II. A Catedral da Sé de São Paulo (1913-1954), a Catedral de Santos (1909-1967) e a Catedral de Belo Horizonte (começada em 1913) são exemplos de edifícios neogóticos tardios.

Fonte: Wikipédia
Catedral da Sé de São Paulo (séc XX).

Catedral de São João Batista, em Santa Cruz do Sul

A Catedral Metropolitana de Fortaleza é estilo neogótico, com torres de 75 metros de altura. Projetada pelo arquiteto francês George Maunier e inspirada na catedral de Colônia, Alemanha, tem capacidade para 5.000 pessoas e começou a ser erguida em 1938. Foi inaugurada em 1978 por D. Aloísio Lorscheider.

Gótico (estilo de vida)

A subcultura gótica (chamada de Dark no início dos anos oitenta no Brasil) é uma subcultura contemporânea presente em muitos países. Teve início no Reino Unido durante o final da década de 1970 e início da década de 1980, derivado também do gênero pós-punk. A subcultura gótica abrange um estilo de vida, estando a ela associados, principalmente, gostos musicais dos anos 80 até o presente (darkwave/gothic rock, death rock, trip hop, ebm, synthpop, indie, industrial, etc.), estética (visual, "moda", vestuário, etc) com maquiagem e penteados alternativos (cabelos coloridos, desfiados, desarrumados) e uma certa "bagagem" filosófica. A música se volta para temas que glamourizam a decadência, o niilismo, o hedonismo e o lado sombrio. A estética sombria traduz-se em vários estilos de vestuário, desde death rock, punk, andrógino, renascentista e vitoriano, ou combinações dos anteriores, essencialmente baseados no negro, muitas vezes com adições coloridas e cheias de acessórios baseadas em filmes futuristas no caso dos cyber goths.
Fonte: Wikipédia

Rock gótico ou gothic rock

O rock gótico ou gothic rock é um subgênero do rock e música característica da subcultura gótica, inspirado essencialmente na atmosfera decadentista pós-punk e em sua emergente estética. O gothic rock/darkwave é com certeza a música e um dos elementos que mais caracteriza a cena gótica. Mas com a sua evolução outros estilos musicais foram se integrando mais à subcultura e se fundindo mais a ele, que embora possam às vezes ser abordados de maneira distinta já parecem também coisas inseparáveis uma das outras. As primeiras bandas consideradas góticas foram: Sisters of Mercy, Bauhaus, Siouxsie & The Banshees, Joy Division, etc. Embora, como já foi dito, nem todas aceitem de bom grado o termo. O Bauhaus é considerada a banda pioneira do estilo.
Fonte: Wikipédia
TIAMAT - é uma banda de Heavy Metal da Suécia, pioneira do doom metal europeu. Começou como uma banda de Death metal em Estocolmo e foi gradualmente se transformando para se tornar um dos pioneiros do doom metal. Gêneros que cultiva: metal gótico, black metal e doom metal.

LACRIMAS PROFUNDERE - é uma banda de gothic metal da Alemanha que nos três primeiros albuns seguia a linha do gothic/ doom metal. O som que vai de influências nos três últimos álbuns de Glam Rock e Gothic Metal. Vocal grave, guitarras pesadas e um teclado bem trabalhado.

THEATRE OF TRAGEDY - é uma banda de metal, da Noruega, que teve uma fase industrial. A banda utiliza-se de vocais masculinos guturais e vocais femininos líricos, de forma a ser considerada a primeira banda a usar o estilo: " A bela e a fera".

VIRGIN BLACK - é uma banda Autraliana que combina o metal gótico, doom metal e metal sinfônico.

PARADISE LOST - é uma banda Inglesa de gótico metal, doom metal, death metal, formada no ano de 1988, conterrânea de similares como Anathema e My Dying Bride. Ela é responsável pela origem do estilo gótico metal e pelo sub estilo death/doom metal.

VENIN NOIR - é uma banda carioca que surgiu em julho de 2001, fundada por Andre Diaz, Rodrigo Campilho e Larissa Frade, com a proposta de unir doom/gótico metal com influências diversas, do heavy tradicional, death, black, thrash à música clássica e erudita.

O que escutamos na 88° edição do ALACAZUM?

Dica de Leitura


Na 88° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER oferecemos como dica de leitura o livro: " Broquéis - Faróis" de Cruz e Sousa. Um volume que reune dois livros. Broquéis, foi publicado no ano de 1893 e Faróis no ano de 1900. Broquéis foi o livro que deu inicio concreto ao Simbolismo no Brasil e Faróis, onde o autor abandonou o esteticismo, para cultivar um confissionismo revoltado. Vale conferir!


Quadro: Artes Visuais


Na 88° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER o artista plástico Horacio Martinez teceu comentários sobre Giotto de Bondone. Ele é considerado o elo entre o renascimento e a pintura medieval e a bizantina.

Giotto di Bondone

Giotto di Bondone, nasceu perto de Florença mais precisamente em Colle Vespignano, no ano de 1266 e faleceu no ano de 1337. Foi um pintor e arquiteto italiano discípulo de Cimabue, e o introdutor da perspectiva na pintura durante o renascimento.
Devido ao alto grau de inovação de seu trabalho (ele é considerado o introdutor da perspectiva na pintura da época, elo entre o renascimento e a pintura medieval e a bizantina). A característica principal do seu trabalho é a identificação da figura dos santos com seres humanos de aparência comum. Esses santos com ar humanizado eram o mais importante das cenas que pintava, ocupando sempre posição de destaque na pintura. Assim, a pintura de Giotto vem ao encontro de uma visão humanista do mundo, que vai cada vez mais se firmando até ao Renascimento.
Estátua de Giotto.

A Lamentação, na Capella degli Strovegni.

O Beijos de Judas, da Capella degli Scovegni.

Crucificação, de Giotto, Itália.

domingo, 13 de julho de 2008

Expressão Popular: "É de tirar o chapéu"

"Para fulano ou sicrano eu tiro o chapéu". Quantas vezes escutamos esta expressão popular? Muitas vezes. E seu significado diz respeito a algo excelente, muito bom, apreciável. Mas como surgiu esta expressão? Qual sua origem? Foi no reinado de Luis XIV, o rei sol que a França disciplinou as saudações feitas com o chapéu. O costume vinha de tempos da mais parda das eminências, o cardeal Richelieu. À época de Luis XIII, os cumprimentos podiam ser feitos das seguintes maneiras:
1- Com um toque na aba do chapéu;
2- Erguendo-o um pouco, sem retirá-lo da cabeça;
3- Tirando-o inteiramente ou fazendo-o roçar ao chão quase como uma vassoura.
Tudo dependendo da importância social de quem era saudado. Como se sabe os Luises (XIII e XIV) foram reis que se preocuparam muito com chapéus entretanto em sua sequência ( Luis XV) perdeu muito mais que o chapéu. Lembra da Revolução Francesa? Perdeu a cabeça na guilhotina.
Na 88° edição do ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER privilegiamos a poesia de Augusto dos Anjos, Cruz e Sousa, Charles Baudelaire e fragmento do conto: " O gato preto" de Edgar Allan Poe. Esses autores estão inseridos na preferência do gótico ( estilo de vida ), tema abordado nessa edição.

Augusto dos Anjos


Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, nasceu em Cruz do Espírito Santo, Paraíba, em 20 de abril de 1884 e faleceu em Leopoldina, Minas Gerais, em 12 de novembro de 1914. Foi um poeta paraibano, identificado muitas vezes como simbolista ou parnasiano, mas muitos críticos, como o poeta Ferreira Gullar, concordam em situá-lo como pré-moderno. Publicou em 1912 seu único livro de poemas, intitulado: "Eu."

Vandalismo


Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças!
Na ogiva fúlgida e nas colunas
Vertem lustrais irradiações intensa
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.
Com os velhos templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos
E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas,
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!
Augusto dos Anjos

Solilóquio de um visionário

Para desvirginar o labirinto
Do velho e metafísico mistério,
Comi meus olhos crus no cemitério,
Numa antropofagia de faminto!
A digestão desse manjar funéreo
Tornado sangue transformou-me o instinto
De humanas impressões visuais que eu sinto,
Nas divinas visões do íncola etéreo!
Vestido de hidrogênio incandescente,
Vaguei um século, improficuamente,
Pelas monotonias siderais...
Subi talvez às máximas alturas,
Mas, se hoje volto assim, com a alma às escuras,
É necessário que ainda eu suba mais!
Augusto dos Anjos

Último credo

Como ama o homem adúltero o adultério
E o ebrio a garrafa tóxica de rum,
Amo o coveiro - este ladrão comum
Que arrasta a gente para o cemitério!


É o transcendentalíssimo mistério!
É o nous, é o pneuma, é o ego sum qui sum,
É a morte, é esse danado número um
Que matou Cristo e que matou Tibério!

Creio, como o filósofo mais crente,
Na generalidade descrescente
Com que a substância cósmica evolui...
Creio, perante a evolução imensa,
Que o homem universal de amanhã vença
O homem particular eu que ontem fui!
Augusto dos Anjos

Budismo Moderno

Tome, Doutor, esta tesoura, e ... corte
Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo o meu coração, depois da morte?!!

Ah! um urubu pousou na minha sorte!
Também das diatomáceas da lagoa
A criptogama cápsula se esbroa
Ao contato de bronca destra forte!
Dissolva-se, portanto, minha vida
Igualmente a uma célula caída
Na aberração de um óvulo infecundo.
Mas o agregado abstrato das saudasde
Fique batendo nas perpétuas grades
Do último verso que eu fizer no mundo!
Augusto dos Anjos

Idealização da humanidade futura

Rugia nos meus centros cerebrais
A multidão dos séculos futuros
- Homens que a herança de ímpetos impuros
Tomara etnicamente irracionais!

Não sei que livro, em letras garrafais,
Meus olhos liam! No humus dos monturos,
Realizavam-se os partos mais obscuros,
Dentre as genealogias animais!

Como quem esmigalha protozoários
Meti todos os dedos mercenários
Na consciência daquela multidão...
E, em vez de achar a luz que os céus inflama,
Somente achei moléculas de lama
E a mosca alegre da putrefação!
Augusto dos Anjos

Cruz e Sousa


João da Cruz e Sousa, nasceu em Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis, Santa Catarina, no dia 24 de novembro de 1861 e faleceu na Estação do Sítio, no dia 19 de março de 1898. Poeta brasileiro, alcunhado Dante Negro e Cisne Negro. Um dos precursores do simbolismo no Brasil.


O Angelus (e o Regina Coeli, no Tempo Pascal) é uma oração muito antiga que faz memória da Anunciação do Anjo Gabriel à Nossa Senhora. É costume rezá-lo às 6h, 12h e 18h. Quem não puder guardar este horário, pode rezá-lo ao levantar, na hora do almoço e ao deitar.

Ângelus...


Ah! lilases de Ângelus harmoniosos,
Neblinas vesperais, crespusculares,
Guslas gementes, bandolins saudosos,
Plangências magoadíssimas dos ares...

Serenidades eterais de incensos,
De salmos evangélicos, sagrados,
Saltérios, harpas dos Azuis imensos,
Névoas de céus espiritualizados.
Ângelus fluidos, de luar dormente,
Diafaneidades e melancolias...
Silêncio vago, bíblico, pungente
De todas as profundas liturgias.
É nas horas dos Ângelus, nas horas
Do claro-escuro emocional aéreo,
Que surges, Flor do Sol, entre as sonoras
Ondulações e brumas do Mistério.
Surges, talvez, do fundo de umas eras
De doloroso e turvo labirinto,
Quando se esgota o vinho das Quimeras
E os venenos românticos do abismo.
Apareces por sonhos neblinantes
Com requintes de graça e nervosismos,
Fulgores flavos de festins flamantes,
Como a Estrela Polar dos Simbolismos.
Num enlevo supremo eu sinto, absorto,
Os teus maravilhosos e esquisitos
Tons siderais de um astro rubro e morto,
Apagado nos brilhos infinitos.
O teu perfil todo o meu ser esmalta
Numa auréola imortal de formosuras
E parece que rútilo ressalta
De góticos missais de iluminuras.
Ressalta com a dolência das Imagens,
Sem a forma vital, a forma viva,
Com os segredos da Lua nas paisagens
E a mesma palidez meditativa.
Nos êxtases dos místicos os braços
Abro, tentado da carnal beleza...
E cuido ver, nas brumas dos espaços,
De mãos postas, a orar, Santa Tereza!...
Cruz e Sousa

Tulipa real


Carne opulenta, majestosa, fina,
Do sol gerada nos febris carinhos,
Há músicas, há cânticos, há vinhos
Na tua estranha boca sulferina.
A forma delicada e alabastina
Do teu corpo de límpidos arminhos
Tem a frescura virginal dos linhos
E da neve polar e cristalina.
Deslumbramento de luxúria e gozo,
Vem dessa carne o travo aciduloso
De um fruto aberto aos tropicais mormaços.
Teu coração lembra a orgia dos triclínios...
E os reis dormem bizarros e danguíneos
Na seda branca e pulcra dos teus braços.
Cruz e Sousa