Quando acariciei-lhe o dorso, ergueu-se imediatamente, ronronando com força e esfregando-se em minha mão, como se a minha atenção lhe causasse prazer. Era, portanto, o animal que eu buscava. Apressei-me em propor ao dona a sua aquisição, mas este não manifestou nenhum interesse pelo gato. Não o conhecia; jamais o virá antes.
Continuei a afaagá-lo e, quando me dispunha a voltar para casa, o animal quis me acompanhar. Deixei que o fizesse, parando de vez em quando, no caminho, para acariciá-lo. Ao chegar, sentiu-se imediatamente à vontade, como se pertencesse a casa, tornando-se, logo, um dos gatos favoritos de minha mulher.
Quanto a mim, logo passei a sentir aversão por ele. Acontecia, pois, exatamente o contrário do que eu esperava. Mas a verdade é que, não sei como nem por que, seu evidente amor por mim me desgostava e exasperava. Aos poucos, tais sentimentos de desgosto e fastio se transformaram no mais amargo ódio. Evitava o animal, bem como a recordação de vergonha, bem como a recordação da atrocidade que praticara, impediam-se de maltratá-lo fisicamente. Durante algumas semanas, não lhe bati nem cometi nenhuma violência contra ele; mas, pouco a pouco, muito gradativamente, passei a sentir por ele indizível horror, fugindo, em silêncio, de sua odiosa presença, como se fugisse de uma doença.
Com certeza, o que aumentou o meu horror pelo animal foi a descoberta, na manhã do dia seguinte...."
Fragmento do conto: O Gato Preto de Edgar Allan Poe, retirado do livro: Histórias Extraordinárias.
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