terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Agosto 1964 de Ferreira Gullar

Na 335º edição do Alacazum palavras para entreter que foi ao ar no dia 12 de janeiro de 2014, das 8 às 9 h da manhã de domingo, transmissão ao vivo 87,9 Rio Uma FM, revivemos a abertura do programa de rádio do radialista baiano, Nilton Moura Costa, na década de 1970 e apreciamos a leitura do poema: Agosto de 1964 de Ferreira Gullar.

Entre lojas de flores e de sapatos, bares,
 mercados, butiques,
viajo
num õnibus Estrada de Ferro-Leblon.
Volto do trabalho, a noite em meio,
fatigado de mentiras.

O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,
relógios de liláses, concretismo,
neoconcretismo, ficções da juventude, adeus,
que a vida
eu a compro à vista aos donos do mundo.
Ao peso dos impostos, o verso sufoca,
a poesia agora responde a inquérito policial-militar.

Digo adeus à ilusão
mas não ao  mundo. Mas não à vida,
meu reduto e meu reino.
Do salário injusto,

da punição injusta,
da humilhação, da tortura,
do terror,
retiramos algo e com ele construímos um artefato
um poema
uma bandeira.

Ferreira Gullar 

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