quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Fragmentos do livro CARAMURU de frei José de Santa Rita Durão

Canto VII
Ervilhas, feijão, favas, milho e trigo,
Tudo a terra produz, se se transplanta;
Fructa também, o pomo, a pêra, o figo
Com bifera colheita e em cópia tanta;
Que mais que no paiz que o dera antigo
No Brasil fructifica qualquer planta;
Assim nos deu a Persia e Lybia ardente
Os que a nós transplantamos de outra gente.
Nas comestíveis hervas, é louvada
O quiabo, o jiló, os maxixeres,
A maniçoba peitoral prezada,
A taioba agradável nos comeres,
O palmito de folha delicada,
E outra mil hervas, que se usar quizeres,
Acharás na opulenta natureza
Sempre com mimo preparada a mesa.
Sensível chama-se herva pudibunda,
Que, quando a mão chegando, alguém lhe ponha,
Parece que do tacto se confunda
E que fuja o que o toca por vergonha.
Nem torna a si da confusão profunda,
Quando ausente o aggressor se lhe não ponha,
Documento á alma casta, que lhe indica
Que quem cauta não foi nunca é pudica.
D´hervas medicinais cópia tão rara
Tem no matto do Brasil e na campina,
Que quem toda a virtude lhe explorara
Por demais recorrêra á Medicina.
Nasce a gelapa alli, a sene amra,
O filopodio, a malva, o pão da China,
A caroba, a capeba, e mil que agora
Conhece a bruta gente e a nossa ignora.
Tem mimosos legumes, que não cedem
Aos que usamos na Europa mais prezados:
Gingibre, gergelim, que os mais excedem,
Mendubim, mangaló, que usam guizados;
Alguns medicinais, com que ddespedem
Do peito estilicidios radicados;
Tem o cará, o inhame, e em cópia grata
Mangarás, mangritos e batata.

O POEMA: CARAMUMU de Frei José de Santa Rita Durão foi impresso no ano de 1781, é um poema épico do Descobrimento da Bahia.


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