quinta-feira, 29 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

 Postado em minha página do Facebook, dia 21 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Quando na segunda-feira, 19 de junho de 2017, passei pelo Calçadão e constatei o esvazeamento de vendedores ambulantes, percebi logo, que algo drástico foi feito para “solucionar” as inúmeras críticas e insatisfações quanto a permanência daquelas trabalhadoras e trabalhores naquele local. Agora, retirar do Calçadão, para a Praça da Independência, menos de 50 metros de distância, na minha opinião tem a mesma conotação do provérbio popular: despiu um santo para cobrir outro.
Então, o que se percebe é :
“ o que não tem remédio, remediado está ”.
O que me aflige quando vejo o despreparo com o trato com o povo trabalhador é que não existe planejamento. É que só existe um esdrúxulo, plano A
Instalou-se nestes últimos meses um ódio virulento contra estes ambulantes como se sua expulsão fosse a medida perfeita de profilaxia.
Valença, Bahia, se resumiu no Calçadão.
Só vejo a expulsão dos ambulantes como solução, se resolvessem descentralizar o centro comercial.
Mais isso é impossível. Valença, Bahia, ainda vive o pensamento retrógrado em que a medida de crescimento é balizada de um poste a outro. Da casa de fulano até a casa de sicrano.
E o centro, é o Calçadão.
Por que o centro não poderia ser na periferia, abrindo um novo horizonte?
Governos anteriores, tentaram expulsar os ambulantes da Rua Dr. Rocha Leal, sem êxito.
Será inútil medidas que queiram organizar a área urbana. Por que Valença, Bahia, é fruto de uma colonização desorganizada. E não é o povo, o principal culpado. Por que antes do povo, vem o senhor de engenho, vem o dono da fazenda, vem os donos das terras do Una. Quem disse para o peão, construa minha casa aqui, foi o patrão. Quem disse para o escravo, lance estes toneis de excrementos humanos no Rio Una, foi o senhor de engenho.
O Calçadão, ficou sendo a verdade do centro comercial , que esquecemos que é espaço público.
E que a economia informal só pode se sustentar circulando nele.
O feio do Calçadão, não são os vendedores ambulantes com suas verduras, frutas, licores, brinquedos de madeiras, mariscos, artesanatos, etc.
O feio do Calçadão, é o piso, a falta de drenagem, o excesso de fiação, o desajuste das fachadas com suas propagandas. A deselegância nos acabamentos.
Se a questão, destas pessoas que pressionaram para uma tomada de decisão, na expulsão dos ambulantes do Calçadão, é o bem da cidade, então, que se inicie campanha para a erradicação do lixão, que está no Orobó, a revitalização da feira livre, um espaço físico novo, para o mercado do peixe, que se reclame o plantio das mudas que o Municipio firmou no ano passado, com o Ministério Público no termo de ajuste de conduta- TAC-, quando do corte da Castanheira-do-Pará, que se manifeste o desejo por tratamento de esgoto da cidade, uma biblioteca pública com espaço próprio, calçadas dignas para os transeuntes, etc.
A questão da insatisfação, na permanências dos vendedores ambulantes, no Calçadão, passa por fatores de gerenciamento de espaços públicos.
Onde está o Plano Diretor da cidade de Valença, Bahia ?
Existe?
Enquanto a Praça da República se veste para a festa junina, em uma época em que o comércio como um todo é beneficiado economicamente, uma náusea de tristeza paira sobre os trabalhadores da economia informal. Entre despir um santo para cobrir outro, só resta a música: Isto é lá com Santo Antonio.
E Valha-nos, São João e São Pedro! 


Valença, Bahia, 21 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

 Postado em minha página no Facebook, dia 11 de junho de 2017


Crônica cotidiana de Celeste Martinez

A míni biblioteca, estava lá, aguardando-me, para arrumá-la. E eu, postergando.
Acontece que iniciei esta atividade, faz dois meses ou mais. Pego um livro aqui, outro acolá e eis que “aquele dito cujo” que a tua cabeça naquele exato instante sinala que você não leu, obriga-te a parar. Sentar só um pouquinho para ler a orelha, entrar pelo corpo de mansinho.
E quando vejo-me estou novamente lendo Madame Bovary de Gustave Flaubert, depois Bachelard, Borges, João do Rio, Lima Barreto.
Hoje, manhã de domingo, é um excelente dia para esta tarefa. Prometo que desta vez, vou demonstrar total desprezo por todos eles, até os antipáticos didáticos.
Fui à estante onde perfilam juntinhos, 18 volumes da Enciclopédia Barsa. Estes, foram conquistas, juntamente com mais quatrocentos e tantos outros, parte do Edital Pontos de Leitura em homenagem a Machado de Assis, Promovido pelo Governo Federal, através do MinC, no ano de 2008, que concorri com o Alacazum. Quando o caminhão bateu à minha porta eu estava na casa da minha mãe e o vizinho que sabia o número do meu telefone, avisou-me. Nem acreditava nos 600 volumes que chegaram. Entre eles a Barsa. Fiquei com tanto medo na época que me roubassem que fui até o Banco, para assegurá-los. Mais acontece que não existe seguros contra roubo de livros. Todos riram da minha cara. Dormir por várias noites na Biblioteca com medo que os roubassem. Até hoje , “ Só a menina que roubava livros” e esta é uma história muito triste.
Pesados, capa dura, quantos conhecimentos guardados.
Para quê?
A tecnologia, atualmente nos deu a enciclopédia eletrônica- wikipédia- escrita a mil mãos.
Ninguém mais acredita na fonte da Barsa. Recordo agora que em uma edição do Alacazum eu esqueci desta tal tecnológia ambulante e fui pesquisar na Barsa. No dia que o programa foi ao ar e fiz a pergunta fui contestada com outra resposta. Não convergia com os meus dados. Evidente. O movimento. A atualidade é dinâmica. Cair em apuros.
Estou passando um felpuldo pano sobre sua capa, um por um. Olho o relógio, quase 14 h. Hora de parar para fazer o almoço. Novamente deixo os livros sozinhos e saío da míni biblioteca. E quando vejo: A Poética do Devaneio, de Bachelard, agarrado à minha saia. Desculpe-me, desta vez foi ele que acenou para mim. 


Valença, Bahia, 11 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

 Postado na minha página do Facebook, dia 10 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez


Seguindo um rito de postagem diária, infelizmente no dia 9 de junho de 2017, infligir esta rotina. Adoeci. Abateu-me uma fraqueza, apatia, desânimo. Era vísivel para o outro que me enxergava. Um cliente na Pizzaria chegou a dizer:
- A senhora está muito abatida, dona Celeste.
Sim, atribuir a gripe. Pois corizava. Quando cheguei em casa passando das 23 h o corpo só pedia cama.
E o meu tradicional café?
Beberia?
Não.
Em casa, tinha uma única maçã na fruteira.
Pensei: Vou comê-la.
Pronto. Obedeci a intuição.
Comi a maçã e cair na cama.
Não como a Branca de Neve. É por que a maçã, é antibiótico natural.
Levei junto uma garrafa de água.
E assim fiquei.
No outro dia, a mesma moleza, a mesma vontade em não querer fazer nada. Sair então para comprar alguns itens ou um Kit sobrevivência. Fui ao supermercado mais próximo de casa. Comprei: mel, maçãs, água, batata doce.
Seguia novamente a intuição.
Parece que escutava a voz da minha avó, descendente dos Tupinambás a me dizer o que fazer.
Fiquei assim durante toda a sexta-feira, na cama, comendo maçã e bebendo muita água.
Os rins funcionaram normalmente. Era um bom sinal. O mesmo aconteceu com os intestinos.
Neste espaço de tempo recebo presentes-antídotos, que complementariam a minha dieta. A amiga Jéssica, pessoalmente vai levar-me laranjas, folhas de laranjeiras e folhas de pitanga. Todas colhidas por suas delicadas mãos. Todos estes preciosos remédios, vindo da flora natural, estavam destinados a mim.
Que pessoa sortuda, eu sou!
Hoje, manhã de sábado, sinto-me recuperada.
O que quer que seja que quis se apossar do meu corpo, foi embora.
Entre as forças invisiveis do mal e a coragem por enfrentá-las , eu sempre fico com a segunda.
Horácio Martinez, chegou a me dizer esta manhã: Você, é uma pessoa muito forte.
Isto me fez lembrar um ouvinte-leitor Alacazum que foi me visitar dias depois que soube que o programa não mais iria ao ar. Ele disse:
- A senhora deve ter um complemento, para resistir tanto.
Força, complemento, o que quer que seja não importa a designação, são apenas nomenclaturas. Dentro de mim, existe uma ordem, uma operante ordem, que me exige seguir. E seguir sempre em frente.
Valença, Bahia, 10 de junho de 2017


Presente-antídoto da amiga, Jéssica Santos

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

 Postado em minha página no Facebook, dia 8 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez


Descia a ladeira do Porto, na calçada que dá acesso a casa lotérica. Encontro um rapaz, que frequenta sempre o rodízio dos Martinez . Sua fisionomia familiar. É um destes jovens estudantes. Não sei o nome dele. Ao vêr-me, saudou e ganhamos caminho juntos. O diálogo, avançou fluente. Não tenho certeza se o debate filosófico partiu do momento em que ele perguntou como eu estava ou se fui eu que ao perguntar ele respondeu com uma palavra xis. Foi esta palavra que proporcionou o “Galope à beira - mar”.
Fé, resiliência, coragem, resistência, preguiça, estudar, trabalhar, fome, etc.
Tem que ter fé. Mais fé que esperança. Ele disse.
E por quê?
Por que a fé remove montanhas.
E a esperança, é capaz de voar.
Esperança, é liquída. Poética. Dúbia.
A fé, na unidade da língua portuguesa, é tão condensada que é capaz de abrir uma clareira, uma fenda.
E a resiliência não soa como conformismo?
Não.
Por quê?
Resiliência tem um pouco de resistência e perseverança.
Conformismo não flui com a água. Conformismo é o maior dos paradeiros. Não vai a lugar nenhum.
Hummm!
Falou-me que passou quarenta dias e quarenta noites a pão e água desde que chegou a Valença, Bahia vindo de São Paulo.
E você, resistiu. Eu disse.
Foi.
Isso não é resiliência?
È? Sim. Não sei.
Eu sou preguiçoso. Ele disse.
Por quê?
Não gosto de estudar. Aprendo tudo na sala de aula.
E isso é preguiça?
É.
Sou capaz de viver a vida inteira com as poucas coisas que tenho, sem desejar mais nada.
A isso, eu chamo, transcendência.
Aqui, é o meu trabalho. Ele disse.
Despedimo-nos.
Ele estava precisando falar com alguém. Por isso me acompanhou.
Quantos jovens, neste instante se sentiriam mais jovens se encontrassem ao longo do caminho alguém que escutasse ?
Mesmo que no breve diálogo, cortado pela pressa, não se diga tudo do que se tem guardado mas que fique o sentimento de ter escutado.


Valença, Bahia, 7 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

 Postada em minha página do Facebook, dia 7 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez


O Calçadão não é apenas lugar de passagem ou centro comercial onde todas as coisas são resolvidas. Alí, também é espaço para encontros.
Terça-Feira, chuvosa, 6 de junho de 2017, novamente deparo-me com colega de infância. Da mesma turma onde os nomes próprios e sobrenomes, foram guardados na memória como relíquias. Eu também sabia de cor o nome desta pessoa. Abraçamo-nos e levadas pela nostalgia, recuamos os corpos em uma das paredes de loja e iniciamos o bate papo que se tornou uma longa conversa. Histórias sem fim.
De repente quem eu vislumbro, vindo em minha direção?
Quem?
Quem?
Ela, a autêntica, dinâmica, corajosa, sorridente, competente, honesta, dedicada, delicada, inteligente, Maria de Lurdes. Personagem que eu inseri na minha crônica sobre o manjerição.
Lembra?
Pelo sorriso que trazia no rosto e pela menção em abrir os braços para o abraço, eu aspirei o ar como em um suspiro de alívio.
Ufa!
Após a publicação da crônica, vez em quando, batia na mente a advertência sobre aquele trechinho que dizia:
“Desde então, esta é a ducentésima vez que espio pela janela para averiguar a cara das pessoas que me visitam. Antes de abrir a porta, escondo a planta no quarto.”
Preocupava-me a reação das pessoas, principalmente Lurdes. Por mais que minha intenção seja sempre construtiva a gente não sabe o que nos aguarda.
Devo confessar que escrevi por expressão no uso das metáforas, eu não recebo ninguém em minha casa.
No entanto, a presença de Maria de Lurdes, naquele momento, contente e agradecendo, foi uma dádiva para o meu dia.
Graças, Maria de Lurdes, por ser compreensiva comigo quando escrevi a crônica sobre o manjerição.
Comentei o assunto com ela e esta entendeu perfeitamente. Estava ligada. Em sintonia desde os tempos do Alacazum.
Lurdes, é pura magia.
Apresentei-a a amiga de infância. As duas se cumprimentaram.
E daí a pouco, aproxima-se o sobrinho Vandic Coqueiro, acompanhado da esposa Dori. Assim que chegou, foi logo falando:
- E aí, tia, qual a crônica de hoje?
Rimos. Eu e Lurdes. O assunto agora são as crônicas.
A cidade está voltando a normalidade de pensar fluídos.
Precisamos de mais sorrisos e mais esperanças.
Queide?
Cadê?
Antes de nos afastarmos, Lurdes, em sua quinta essência, disse:
- Isso aqui junto, tudo isso, vai virar um bom caldo.
Virou. Uma crônica, com a essência do manjerição que plantei ontem.


Valença, Bahia, 6 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

 Postada em minha página do Facebook, dia 6 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez


Adentrei ao dito cujo Banco.
Ainda imperava a greve dos vigilantes da Bahia.
Banco entupido de insatisfações.
Que fila escolher?
Pergunta a um, a outra.
Posiciono-me.
Uma mulher, tonta, a procura de outra pessoa, para aliviar a sua pressa. Que apresentava-se mais apressada do que todas as pressas juntas. Pergunta:
- Você vai fazer depósito?
A resposta que ouviu foi negativa mais mesmo assim insistiu para que esta lhe ajudasse. Não sabia fazer depósito.
- Impossível, estou na fila de saque.
A pessoa, muito gentilmente, sugeriu que ela se posicionasse na fila de depósito e quando chegasse mais próximo, ajudaria.
Esta não escutou, ficou a perambular de um lado para outro.
Rodou, rodou e novamente, aproximou-se e disse:
- Cadê, o homem que estava aqui?
A mulher não sabia o que responder. Eu tão pouco. E esta:
- É que eu pedi para ele guardar o lugar para mim.
Moral da História: Guardar lugar em fila de Banco é tão confiável quanto a honestidade de “ alguns”.
O espaço de tempo entre a construção do breve relato, até alcançar o terceiro lugar na fila do caixa eletrônico, foi suficiente para emparelhar meu corpo com outra pessoa muito conhecida do meu rol de amizades, chega a ser parente.
- Olá, Dona Ana! Disse.
Ela balançou a cabeça afirmativamente. Não era uma Ana qualquer. Para estimular entrosamento e por que tinha feito amizade com a pessoa que ocupava a fila à minha frente, perguntei-lhe:
- Você, conheçe Dona Ana?
A mulher também balançou a cabeça confirmando.
- Ana, das Castanholas . Frisei.
A Ana, sorriu, satisfeita.
- Mais antes de ser Ana das Castanholas. Era, Ana dos Montes. Relatei com convicção por que sabia da história que me fora contada pela mesma. Ela continuava calada, estava compenetrada na ação que lhe levou ao Banco. Esboçava sim, a todo instante aquele sorriso fraquinho.
- Entre a Ana das Castanholas e a Ana dos Montes existe um longo trajeto. Há que descer dos Montes. E só Dona Ana sabe o caminho. Eu disse.
Ela, desta vez, esboçou um amplo sorriso de um lado a outro no rosto. Mais continuava calada.
A amiga, dos poucos instantes, escutava atentamente as minhas palavras, foi quando soltou, olhando para mim:
- E você, é a senhora Martinez!
- Como sabe? Perguntei-lhe
- Pelo programa de rádio.
- Não tem mais. Eu disse.
E ela:
- Eu também não escuto mais rádio.
O diálogo, encerrou-se alí. Ana, segiu para o caixa eletrônico a minha direita e a recém formada amiga, segiu para o caixa logo em frente. Enquanto eu...


Valença, Bahia, 5 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

 Postada em minha página no Facebook, dia 5 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez


Desde que iniciei atividades comerciais a seis anos, passei a interessar-me por verduras. Entre estas, o manjerição, tem sido a minha maior ambição em cultivar. Inicialmente, comprei uma muda e plantei no fundo do quintal de casa. Começou a se desenvolver, floriu, retirei alguns galhos para consumo e súbito, murchou e morreu.
Noutras vezes, amigas e amigos, escutando meu interesse pela plantinha, ofertaram-me um pé e re-inicio o cuidado direto no caqueiro.
De novo, a mesma campanha e os mesmos sintomas aparecem até o desfalecimento e perda.
Quando da vinda da primeira exposição de flores à nossa cidade de Valença, Bahia, sediada à Praça da República, comprei uma muda de manjerição roxo.
Desta vez, disse para mim mesma que faria diferente: comprei caqueiro, terra vegetal e empreitei no cultivo. Durou três meses. Ficou vicoso, revigorado, floriu, desfrutei de alguns galhinhos e agora, deparou-me com a planta, murcha e morta.
O Pastor Abimael da Primeira Igreja Batista em Valença, ofertou-me recentemete um vaso, com exuberante manjerição, verdinho, folhas largas, belo. Até o momento, eu de longe contemplando e observando qual melhor lugar para acomodá-lo. Dizem que gosta de lugares arenosos, com bastante luz. Acato cada dica com carinho. No fundo, no fundo, temo pela vida da plantinha.
Suspreendente foi a conversa que tive com a amiga Maria De Lourdes Silva, quando visitou a nossa Pizzaria. Falando de uma coisa e outra, surgiu o assunto do manjerição. Foi quando:
- O manjerição é sentimento. Disse Lurdes.
Foi a primeira vez que escutei alguém falar sobre isso. Sim, tinha coerência.
E ela foi explicar-me que a planta absorve sentimentos negativos.
- Presta atenção quem entra na tua casa! Advertiu-me.
- Será?
Lurdes, falava com propriedade de quem já viveu. E eu, acatei a informação.
Não custa nada, averiguar . Desde então, esta é a ducentésima vez que espio pela janela para averiguar a cara das pessoas que me visitam. Antes de abrir a porta, escondo a planta no quarto.
Até o presente momento, em escrever esta crônica, o manjerição continua vivo, verdinho no caqueiro. Agora resta-me saber se sobrevive, por que foi presente do Pastor ou as sugestões de cuidados, transmitidas a mim pela amiga Maria de Lurdes. 



Valença, Bahia, 12 de maio de 20117

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

 Postada na página do Facebook no dia 4 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Abro os olhos.
Amanheceu novamente.
O cérebro, imediato diz: sábado.
Como relâmpago uma lista de atividades passa, apitando rotinas.
Mesmo da cama, olho para a janela inda fechada. Hoje, o amigo Sol, se intimidou com a mamãe chuva e escondeu-se por trás do horizonte, deixando apenas alguns dos seus longos dedos descobertos.
Escuto a precipitação, através da vibração que caí por sobre a pitangueira no quintal e em cima do toldo. Levanto-me. Abro a janela. Meus olhos não são magoados com a intensidade da luz. Esta manhã, é só cinza. Retorno para cama. Ainda estou dentro do prazo de não fazer nada. Deito-me. Espreguiço-me.
Escuto os pássaros que chegam, alertando-me com seus gritos-cantos, que é hora de ofertá-lhe a fruta. Quase sempre, bananas. Continuo na cama. Mais a insistência do Bem-te-vi, aflige-me. Penso: está com fome. Saio da cama. Desco as escadas. Abro a janela que dá cesso aos pássaros.
Quando busco o alimento, cadê?
Havia terminado. Só uma tímida goiaba, pousada no prato. Lavo, parto-a ao meio e deposito na plataforma que fiz para esta finalidade.
Não tenho mais vontade de voltar para cama. Sento alí mesmo perto da mesa e aguardo os pássaros. Gosto de observá-los comendo e analisar seus comportamentos e as hierarquias estabelecidas.
Chega o ousado Sabiá-Laranjeira, todo prosa. Sempre o primeiro. Encara-me. Ele sabe, que eu estou alí, espreitando-o. Lança sobre mim o pontudo olhar. Vê a goiaba e nem dá bola. Voa. Que estranho. Logo o Sabiá- Laranjeira, tão comilão.
Agora é a vez do Bem-te-vi.
Primeiro, pousa na roseira, depois pula para pitangueira. Um tempinho olhando para um lado e para o outro. Encara a goiaba apenas e depois vai embora.
Aguardo mais um pouco, até que outros pássaros, apareçam. Chega o guriatã, sanhaço cinzento, sanhaço pardo, sanhaço de fogo, sanhaço escarlate, a fêmea do tiê sangue, o curió. Todos se recusam a comer a goiaba.
O que está acontecendo com os pássaros ?
Ou será com a goiaba?


Celeste Martinez


Valença, Bahia, 20 de maio de 2017

sábado, 3 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Publicado no Facebook dia 3 de junho de 2017

Sentada, em oficina, localizada à avenida Alisson Magalhães de Freitas ou avenida Beira Mar, na cidade de Valença, Bahia, aguardando o conserto da motocicleta, quando percebo que a pilastra de cimento, era divisória do olhar, aquela sucinta paisagem em um ângulo de cento e oitenta graus.
O Una, na estreiteza dos meus olhos, era apenas uma unidade da língua.
Não era o rio de turvas águas sujas, nem o rio atormentado.
Eu não via o Rio Una.
Eu via o Rio Branco, fechado. Como sinal da sua não mais existência.
Lembro, então do Alacazum e sua retirada do ar no dia 29 de janeiro de 2017 e após, quantas tormentas caindo sobre a cidade.
“ Yo no creo em brujas pero ...”
Alí, onde estão instaladas as inúmeras barracas dos trabalhadores informais, vulgo camelôs, é uma Praça.
Qual é mesmo o nome dela?
O Prédio do Poder Legislativo, antiga residência do Comendador Madureira, situado à rua homônimo, dizem as más línguas, está “ pra caír”.
Será?
Não creio que os nobres edis, usuários por direito, de tão nobre patrimônio, permitirá que as traças sejam mais operantes.
Bem, Valença, tem este prazer exarcebado por demolições.
Aqui, velho, é sinônimo de atraso.
Joga, fora no lixo? Escuto a música no carro.
Vejo um homem, entornando um líquido no Una. Lá do outro lado da margem onde ficam as canoas.
A Flamboyant, bem em frente, rente a pista. Em torno dela, não mais um canteiro, monturos de resíduos sólidos. Pobrezinha!
Um homem, passa, levando no cabresto, um bezerro.
Carros, bicicletas, motocicletas, pedestres, pedestres e mais pedestres.
Estico o corpo e vejo a lateral da Igreja do Sagrado Coração de Jesus ou Igreja Matriz, precisando reforma do telhado e das paredes.
Quem se comoverá com o Sagrado?
A sirene de alerta do caminhão em sua difícil manobra, nos adverte.
O céu todinho azul esmaecido com escassas nuvens, nos adverte.
Um homem, com a barriga estufada, carregando pesadas sacolas plásticas, nos adverte.
O caminhão, que segue via avenida Marita Almeida, carregadinho de toras de madeiras, nos adverte.
O painel que divulga propagandas, fixado bem na esquina entre a Ponte Luiz Eduardo Magalhães, doutor Rocha Leal e Barão de Jequiriça, nos adverte.
O carro forte todo amarelinho que atravessa a Ponte, nos adverte.
O grande kiskadi, com seu canto estridente, provavelmente, pousado na fiação elétrica, nos adverte.
A cidade, nos fala o tempo todo e mesmo assim nos acidentamos.
Mesmo assim, esquecemos o outro. Nosso vizinho.
Mesmo assim, esquecemos que o Una, é gente.
Eu, aguardando o atendente da oficina como finalização da crônica.
- O da senhora, tá pronto, venha! Disse o mecânico.



Valença, Bahia, 2 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Publicado no Facebook dia 2 junho de 2017

Foi alí mesmo no Calçadão, cruzamento entre as ruas Ruy Barbosa, Conselheiro Ferraz e Marques do Herval, na cidade de Valença, Bahia, que encontrei o amigo, José Carlos. Elegantíssimo. E olha, que estava de uniforme. Seguia para o trabalho. A bicicleta, como acompanhante. Saudamo-nos e inevitavelmente, parei para o breve diálogo corriqueiro. Agradeci por sua sensibilidade em curtir e comentar as minhas crônicas. Foi quando este, olhando em volta, disse:
- Por que você não escreve sobre o Calçadão?
Justo naquela manhã, dia 31 de maio de 2017, publiquei uma crônica cuja abordagem foi este assunto. Ele então, sugeriu outra coisa:
- Por que você não escreve sobre o Rio Branco?
Para quem não é da cidade, devo esclarecer que Rio Branco é uma rede de supermercado que se instalou na cidade de Valença, Bahia, a muitos anos e por esta ocasião em que falo com o Zé, está ocorrendo o trágico fato de seu encerramento, com demissão em massa de muitas trabalhadoras e trabalhadores. Uma lástima. Zé, trabalhou nesta empresa por mais de vinte anos. Quando me sugere o tema, com toda certeza, sabe que é uma forma de registro histórico importante.
Por todos estes dias, desde o primeiro fechamento da filial no Calçadão, quem trafega naquele local, fica constrangido em olhar e até passar em frente. Um sentimento de pesar.
Realmente, é muita tristeza, saber que muitas famílias ficarão desamparadas. Perde a cidade como um todo. Eu, que passei a comprar em outras lojas, escutei inúmeros comentários de pessoas que eram clientes de carteirinha.
Uma senhora , que assim como eu, aguardava na fila da carne, reclamava o tempo todo. Parecia deslocada do nicho na intimidade com o atendende e falava bem alto para que todos escutassem:
- A carne melhor era do Rio Branco!
Particularmente, de todos os supermercados existentes na cidade, este foi o que fiz mais amizades.
Primeiramente, com a amiga Clenildes. O tema que nos uniu foi o Alacazum. Quando por lá passei, no ano de 2007, para deixar um ofício solicitando parceria- que nunca aconteceu – Não por culpa dela. Ela bem que encaminhou para a sede em Santo Antonio de Jesus. Não foi possível a parceria com a empresa mais aconteceu a parceria na divulgação. Foi Clenildes, quem mais divulgou o Alacazum. E se espalhou entre os repositores, caixas, empacotadores, padaria, limpeza, etc... Um deles foi João, que se intitulava “O Poeta Açogueiro “, que passando a escutar o Alacazum, soube do Concurso de poesia em Jornal local. Participou e como prêmio, teve sua poesia publicada. Creio que isso contribuiu para a sua ascensão no trabalho. Eu entrava no supermercado e já vinha gente conversar sobre o programa, trocar ideias. Todos aqueles funcionários, de uma forma inusitável faziam um atendimento diferenciado, quando não apenas um sorriso felicitava, mais uma vontade de ajudar, de ser útil. E isso foi cativando. Com muita gente acontece o mesmo. O tratamento, contribui muito para preferência.
Enquanto conversava com José Carlos, naquela extremidade do Calçadão, onde ele seguia para a outra filial, prestes a fechar, eu não notava desanimo, no seu caminhar. Cabeça erguida, olhar para frente.
Infelizmente, estamos passando por momentos díficieis na esfera mundial. Como se dizia antigamente, esta é a prova dos nove fora. De alguma maneira, espero que estas trabalhadoras e trabalhadores, desempregados, encontrem novos meios de subsistência e que a lógica da sobrevivência aos poucos retorne ao seu ritmo normal.
Normal?
Nem tanto. A cidade, sofreu um desequilibrio em sua economia e mesmo sabendo que os antigos espaços serão ocupados por novos empreendimentos e nós, filhas e filhos, desta engrenagem consumista, retornaremos como novos clientes, por alguns meses da próxima estação, relembraremos o que foi aquilo. Recordaremos os rostos, sorrisos e atendimentos. Mas aos poucos, assim como a ideia de perda, será substituida, quiçá por “uma saudade”, ou “aquela saudade”. A cidade de Valença, tem a facilidade de apagar para sempre a memória física material de sua história. Quanto as pessoas? Se não tem outros para contar, propagar o vivido, com certeza, seremos , todos, esquecidos.


Valença, Bahia, 2 de junho de 20

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Publicada no Facebook no dia 1 de junho de 2017

Por várias vezes, sempre que transito, motorizada, direção ao centro da cidade de Valença Bahia e se aproxima à rua Juvêncio de Rezende, cruzamento com a rua Raul Malbisson, bairro São Félix, o fluxo de automóveis trava.
Devido a maior mobilidade da motocicleta, escapo pelo caminho do meio, com aquela alegria de ter tirado vantagem da minha astúcia, entretanto quando alcanço a Ponte Luis Eduardo Magalhães e olho para o outro lado, sentido Ponte Inocêncio Galvão de Queiroz, frusto-me. Não existe mais engarrafamento.
Penso: da próxima vez , vou bisbilhotar o que provoca, esta parada súbita naquele trecho. Esqueço.
Repito a ação de fugir pela tangente e só na ponte, novamente, é que vou lembrar.
Escrevo esta crônica para avivar algum detalhe desta vivência no trânsito, já que esqueço de lembrar em trânsito.
Será o transporte coletivo?
Será desembarque de mercadorias?
Será motorista conversando com alguém?
Será cortejo fúnebre?
Acidente?
Um trator em ritmo tartaruga?
Será um imprudente motorista que segue em marcha lente conversando no celular?
Ou será a minha impaciência em querer ganhar tempo?
As vezes a gente, de tão envolvida com o corre-corre da rotina, estabiliza na mente um cronômetro que regula todas as nossas ações em função do capital.
A sensação é de que estamos perdendo tempo como se o tempo fosse um líquido que perdido não se contabiliza mais.
O tempo, no entanto é uma enorme redoma que cobre a humanidade com diferentes temperaturas em algumas regiões mas com a mesma dimensão de eternidade.
Nós, com a falácia de que tempo é ouro, modificamos o nosso bio-ritmo, ultrajando o tempo humano de vivências em detrimento da exigência de funcionamento de consumo da máquina capital.
Estamos em um ritmo que não condiz com a nossa capacidade material de mobilização. Por isso, minha frustação, todas as vezes que escapo pela tangente no intuito de ganhar tempo, não resulta em ganhos. Automóveis, foram feitos para encurtar distâncias mais resultaram em aglomerações de latarias, que pertubam constantemente a nossa locomoção, no trânsito.

Valença, Bahia, 12 de maio de 2017 Celeste Martinez