quarta-feira, 22 de abril de 2009

Burrice



Leitura realizada na 124° edição do ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER, que foi ao ar no dia 19 de abril de 2009, transmissão pela Rádio Clube de Valença650 KHZ AM, quando homenageamos Monteiro Lobato, o mais fabuloso contador de histórias que o Brasil já conheceu.

Caminhavam dois burros, um com carga de açúcar, outro com carga de esponjas.


Dizia o primeiro:


- Caminhemos com cuidado, porque a estrada é perigosa.


O outro redarquiu:


- Onde está o perigo? Basta andarmos pelo rastro dos que hoje passaram por aqui.


- Nem sempre é assim. Onde passa um, pode não passar outro.


- Que burrice! Eu sei viver, gabo-me disso, e minha ciência toda se resume em só imitar o que os outros fazem.


- Nem sempre é assim, nem sempre é assim... Continuou a filosofar o primeiro.


Nisto alcançaram o rio, cuja ponte caíra na véspera.


- E agora?


- Agora é passar a vau.


O burro do açúcar meteu-se na correnteza e, como a carga se ia dissolvendo ao contato com água, conseguiu sem dificuldade pôr pé na margem oposta.


O burro da esponja, fiel às suas idéias, pensou consigo:

Se ele passou, passarei também – e lançou-se ao rio.


Mas sua carga, em vez de esvair-se como a do primeiro, cresceu de peso a tal ponto que o pobre tolo foi ao fundo.


-Bem dizia eu! Não basta querer imitar, é preciso poder imitar- comentou o outro.




Retirado do livro: Fábulas de Monteiro Lobato

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