Na 191° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 03 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM apreciamos o poema: O livro dos porquês de Lia Beltrão.
Lia Beltrão: já fui do lar. Hoje faço doces para os lares alheios. Faço textos, também, mas não os envio aos lares. Prefiro que andem pelas ruas e encontrem ao acaso quem os leia. Entreguei vinte e três anos de minha vida a um homem, uma casa e uma filha. Só depois que o homem se foi e a filha se casou, pude ler o que quis, escrever o que quero. Nunca publiquei nada, mas muita gente gosta do que escrevo. Vou aos poucos construindo um olhar novo sobre as coisa do mundo. As vezes dói,, mas sempre me dá prazer. Fui publicada em Dedo de Moça- uma antologia das escritoras suicidas (São Paulo: Terracota Editora, 2009)
O livro dos porquês
Na estante do meu pai, na casa da minha infância, tinha uma coleção do Thesouro da Juventude. Em cada um dos seus dezoito volumes havia uma seçã chamada O livro dos "porquês". Ali poderíamos saber porque não oscilam os pêndulos indefinidamente, porque em certas noites de verão aparecem os campos cobertos de neblina ou porque a gravidade não arrasta todas as estrelas para a terra.
Por muito tempo, o Thesouro da Juventude me deu a impressão de que sempre encontraria resposta para qualquer dúvida na minha existência. O mundo era uma sucessão de causas e efeitos que me levariam seguramente à felicidade.
Hoje, a velha coleção está confinada a uma prateleira de baixo de uma estante no corredor da minha casa. Rompeu-se em algum ponto a cadeia de causa e efeito e ela não me deu a felicidade prometida. Tive que cuidar de ser feliz ao meu modo. Não preciso mais dos seus porquês.
Retirado do site: escritoras suicidas
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