Para Ana que conheci na virtualidade.
Noite.
Pouco mais das vinte e três horas.
Ela aparece no monitor.
Ajeito o auricular.
Na janela a mensagem:
“Posso te escutar mas não posso falar”.
Iniciamos o diálogo seguindo esta regra.
Na página virtual, o rosto dela são sorrisos.
Não preciso escutá-la.
E se não fosse possível ler suas mensagens digitalizadas...
O sorriso dela, diz palavras respostas.
Palavras perguntas – muito mais respostas –
- Você escreve poemas? Pergunto.
- Sim. Ela responde e na tela se expressa a concretização
poética da resposta:
Inicio o caminho da leitura.
Balbucio.
Tropeço em alguns termos vestidos de desabitualidade.
Pareço criança aprendendo por primeira vez vocábulos.
Todo cuidado pra não cair.
Mas o ritmo me toma pela mão e sou absorvida pela poesia.
Ana, é poesia.
Ana, é dança.
Ana, é música.
Duvido de sua existência.
Por quê?
Como pode caber tanta essência de poesia em alguém?
Mesmo sem escutar o timbre da sua voz,
Escuto-a.
Sei,
Sinto,
A personalidade do tom da voz de Ana.
É assim: ( )
Só eu posso escutar.
Pergunto em que mundo ela habita.
São Salvador da Bahia de Todos os Santos. Ela responde.
Logo ali, após as águas do atlântico.
Duvido mais uma vez da existência de Ana.
Como pode caber tanta essência de música em alguém?
Despeço-me. O sono rende-me.
Deitada, vistorio as gavetas com seus arquivos.
Revisto o sorriso de Ana.
Fecho os olhos.
Durmo.
Nenhum vestígio dela no calabouço da minha noite.
Quando amanheço...
todavia recordo Ana.
E novamente duvido da sua existência.
Como pode caber tanta humanidade em alguém?
Apresso-me por desvendar o enigma.
Ligo o PC.
Abro a página do face book.
Procuro Ana.
Ei-la.
Envio solicitação de mensagem.
E...
até hoje aguardo resposta que não vem.
Valença, Bahia, 20 de janeiro de 2014
Celeste Martinez