segunda-feira, 30 de março de 2009

Tecendo a manhã



Poema lido na 121° edição do ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER



"Um galo sozinho não tece a manhã:

ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito
que ele e o lance a outro:
de um outro galo que apanhe o grito
que um galo antes e o lance a outro;
e de outros galos que com muitos outros galos
se cruzam os fios de sol de seus gritos de galo
para que a manhã,
desde uma tela tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela,
entre todos,
se erguendo tenda,
onde entrem todos,
no toldo (a manhã) que plana livre de armação.
A manhã,
toldo de um tecido tão aéreo que,
tecido, se eleva por si: luz balão".

João Cabral de Melo Neto

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