sábado, 29 de maio de 2010

Bebida para viúvo

Na 176° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 23 de maio de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM oferecemos para apreciação a leitura da crônica: Bebida para viúvo de Humberto de Campos retirado do site: dominio público.

Se foi esse o desgosto que matou Dona Benvida, ninguém sabe: o que é fato, é que o Sr. Atanásio tinha uma predileção especial pelas bebidas, a ponto de passar semanas inteiras emendando as carraspanas.
O que, entretanto, ninguém pode contestar, é que ele adorava a mulher. É verdade que não a obedecia, quando ela lhe suplicava, agarrando-lhe as mãos:
- Não bebas mais, Atanásio! Tem piedade de mim! Isto me matará de vergonha!
As pessoas que ouviam isto asseguravam que Dona Benvida morreu mesmo, de vergonha; outras acham, porém, que foi umas pauladas que o marido lhe aplicou, ao regressar, alta madrugada, mais bêbado do que nunca. O sentimento de viúvo foi, entretanto, profundíssimo. Um fato o demonstar. Certa noite, entrou ele, com um antigo companheiro, em uma das cervejarias da Brahma, e sentou-se:
-Que tomas?-perguntou o outro.
-Nada.
-Nada? Tu não tomas nada?
- Não posso filho! - obtemperou o Atanásio- Eu não posso beber, tu não vês que eu estou de luto?
- Mas, isso é o de menos!- tomou o outro. Há bebidas, aqui, para pessoas de luto.
E batendo na mesa, com força:
- Cerveja preta, para um!.


Humberto de Campos

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