No dia 10 de
outubro de 2013, pouco mais das 20 horas fui apreciar o espetáculo “Bagunçu” da
Companhia Operakata de teatro, grupo da cidade de Vitória da Conquista, Bahia,
Brasil. Este projeto foi contemplado pela Secretaria de Cultura do Estado da
Bahia – Setorial de Teatro 2012 e visa contribuir para o fomento às artes
cênicas do interior baiano.
Antes de ingressar no espaço do teatro naquela
noite, dirigir o olhar à sinopse parte integrante de folder que fora
distribuído gratuitamente. Após leitura, minha curiosidade disse-me que
gostaria imensamente de ir. Concordei
com ela e ingressei no território destinado ao sentir. Uma senhora vestida de
cantoria me abraçou e pelos trajes que vestia pensei que poderia ser amiga de
Elomar. Acomodei-me. Continuava a
escutá-la e devido à penumbra do ambiente não pude identificar os rostos dos
homens que estavam sentados na extremidade direita do palco. A senhora cantoria ficou ao lado deles digo
com eles digo neles. Vestiu-os de
musicalidade. De repente a viola diminui
o volume de sua fala e entra em cena a luz em forma de sombra. Mais ainda entra
em cena a surpresa. Não, no palco entra o sobressalto, sobre a tranqüila
cantoria toca o medo o seu atordoando barulho. Orquestra de vozes vomitando
verbos avermelhados de pavor com sintomas de longos fastios. Uma babel onde
todos não entendem o porquê da violência e por isso urinam verbos dementes,
incompreensíveis. O registro da data: 20
de outubro de 1895 abrem a página primeira da realidade. É necessário para nos
alertar que a ficção tem uma cicatriz de
tortura. Serve-nos para matutar que naquele momento sagrado do sentir existe
uma luz da realidade a nos espreitar com olhos atentos e vigilantes.
A trilha sonora
auxilia a nitidez das imagens recitadas nas falas dos personagens. Na história
que é relatada.
A indumentária
contribui para aguçar a pobreza material, mas também sinalar a fotografia da
época.
O cenário
revela-nos que simples objetos, são suficientes para movimentar outros estádios
da memória que não estão aquém do local nem das pessoas. Que vive ali, ao lado
de todos. Na mesma geografia.
A iluminação
serve para amenizar, ressaltar, elevar, apagar, extinguir o começo e o fim. O
sono e o pesadelo. O prazer e o
desprazer.
Os atores e
atrizes entrosados com a trama. Com soantes. Por mais que o uno torne-se
universal.
Como quem ler
um livro, gênero trágico, a platéia mais atenta pode perceber os altos e baixos
da trama, sua conseqüência até o ato final. As rimas em forma de quadras
revividas e cantadas pelos atores e atrizes soam como falas distantes de avós
esquecida, que aos poucos nos aparece no imaginário à medida que a evocamos.
A platéia foi
agraciada com um espetáculo elaborado a partir da pesquisa e embevecido de
poesia. Poesia que dança, canta que se personifica em luz, penumbra, ora
escuridão, em silêncio que ameniza o fim, mas que a gente pensa que não é.
O espetáculo se
repetirá em outros lugares, entretanto este que apreciei é o único por que
absorvi mais além do que meus olhos enxergaram. Aquém da minha audição. Não existem para mim palavras para explicar o
apreciar Bagunço e sim o sentir. O sentir não se explica. Sente-se.
Sim, sentem-se
confortavelmente em uma cadeira, assim como eu fiz, quando tenha outra
oportunidade de apreciar Bagunço e desabotoe teu corpo para a experimentação
dos sensoriais elementos presentes na narrativa. Sinta, este espetáculo
Bagunço, que não é Jagunço, que não é Bagunça, nem sincretismo. Junção
personificação de outro vocábulo que ao ser digerido, é silabizado, balbuciado,
soletrado em memória em cena.
Guardarei na
página escrita da memória, a imagem do que apreendi no espetáculo e
reterei a divina sensação que me
proporcionaram as gélidas e refrescantes gotículas desta seiva que caindo sobre
mim, me abençoaram , perfumaram, protegeram. E eu, silenciosamente, acatei a
prece como amuleto para os presságios.
Celeste
Martinez. Valença, 11 de outubro de 2013