sábado, 5 de outubro de 2013

Siderações de Cruz e Sousa


Quando no ano de 1896, teve que cuidar da esposa que enlouquecera ele não desistiu de escrever. Mesmo com o golpe da morte do pai no mesmo ano ele não desistiu da literatura. E quando faleceu no ano de 1898,  nos deixou a belíssima obra Faróis, onde estão guardadas os poemas que apreciamos na 320° do Alacazum palavras para entreter, especialmente gravado e transmitido pela Rio Una FM 87,9. 


Mesmo desfeitas as ilusões da fama, Cruz e Sousa persistia em sua arte. E os dilemas pessoais se somavam: em 1896, sua esposa enlouquece e é o poeta que cuida dela. No mesmo ano, morre o pai. Nos anos que se seguiam ate a sua morte – 1898, Cruz e Sousa, produziu o melhor de sua obra: Farois entregue a Nestor Vitor com o titulo definido e o conjunto dos poemas já organizados. Nos longos poemas e nos sonetos de Farois, Cruz e Sousa já abandonou o pendor parnasiano e seu simbolismo ganha feição muito particular. Permanecem as aliterações, as assonâncias, as sinestesias, as associações de imagens em encadeamentos livres, as repetições de palavras, os versos construídos apenas com advérbios ou adjetivos, os deslocamentos rítmicos criados pelos prolongamentos sintáticos de um verso ao verso seguinte, a recusa dos conteúdos referenciais.


Os poemas aqui declamados fazem parte do livro Farois.

Siderações

Para as estrelas de cristais gelados
As ânsias e os desejos vão subindo,
Galgando azuis e siderais noivados,
De nuvens brancas a amplidão vestindo

Num cortejo de cânticos alados
Os arcanjos, as cítaras ferindo,
Passam, das vestes nos troféus prateados,
As asas de ouro finamente abrindo...

Dos etéreos turíbulos de neve
Claro incenso aromal, límpido e leve,
Ondas nevoentas de visões levanta...

E as ânsias e os desejos infinitos
Vão com os arcanjos formulando ritos
De eternidade que nos astros canta....

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