quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Espetáculo Bagunçu



No dia 10 de outubro de 2013, pouco mais das 20 horas fui apreciar o espetáculo “Bagunçu” da Companhia Operakata de teatro, grupo da cidade de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. Este projeto foi contemplado pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia – Setorial de Teatro 2012 e visa contribuir para o fomento às artes cênicas do interior baiano.

 Antes de ingressar no espaço do teatro naquela noite, dirigir o olhar à sinopse parte integrante de folder que fora distribuído gratuitamente. Após leitura, minha curiosidade disse-me que gostaria imensamente de  ir. Concordei com ela e ingressei no território destinado ao sentir. Uma senhora vestida de cantoria me abraçou e pelos trajes que vestia pensei que poderia ser amiga de Elomar.  Acomodei-me. Continuava a escutá-la e devido à penumbra do ambiente não pude identificar os rostos dos homens que estavam sentados na extremidade direita do palco.  A senhora cantoria ficou ao lado deles digo com eles digo neles.  Vestiu-os de musicalidade.  De repente a viola diminui o volume de sua fala e entra em cena a luz em forma de sombra. Mais ainda entra em cena a surpresa. Não, no palco entra o sobressalto, sobre a tranqüila cantoria toca o medo o seu atordoando barulho. Orquestra de vozes vomitando verbos avermelhados de pavor com sintomas de longos fastios. Uma babel onde todos não entendem o porquê da violência e por isso urinam verbos dementes, incompreensíveis.  O registro da data: 20 de outubro de 1895 abrem a página primeira da realidade. É necessário para nos alertar que a ficção  tem uma cicatriz de tortura. Serve-nos para matutar que naquele momento sagrado do sentir existe uma luz da realidade a nos espreitar com olhos atentos e vigilantes.
A trilha sonora auxilia a nitidez das imagens recitadas nas falas dos personagens. Na história que é relatada.
A indumentária contribui para aguçar a pobreza material, mas também sinalar a fotografia da época.
O cenário revela-nos que simples objetos, são suficientes para movimentar outros estádios da memória que não estão aquém do local nem das pessoas. Que vive ali, ao lado de todos. Na mesma geografia.
A iluminação serve para amenizar, ressaltar, elevar, apagar, extinguir o começo e o fim. O sono  e o pesadelo. O prazer e o desprazer.
Os atores e atrizes entrosados com a trama. Com soantes. Por mais que o uno torne-se universal.
Como quem ler um livro, gênero trágico, a platéia mais atenta pode perceber os altos e baixos da trama, sua conseqüência até o ato final. As rimas em forma de quadras revividas e cantadas pelos atores e atrizes soam como falas distantes de avós esquecida, que aos poucos nos aparece no imaginário à medida que a evocamos.
A platéia foi agraciada com um espetáculo elaborado a partir da pesquisa e embevecido de poesia. Poesia que dança, canta que se personifica em luz, penumbra, ora escuridão, em silêncio que ameniza o fim, mas que a gente pensa que não é.
O espetáculo se repetirá em outros lugares, entretanto este que apreciei é o único por que absorvi mais além do que meus olhos enxergaram. Aquém da minha audição.  Não existem para mim palavras para explicar o apreciar Bagunço e sim o sentir. O sentir não se explica. Sente-se.
Sim, sentem-se confortavelmente em uma cadeira, assim como eu fiz, quando tenha outra oportunidade de apreciar Bagunço e desabotoe teu corpo para a experimentação dos sensoriais elementos presentes na narrativa. Sinta, este espetáculo Bagunço, que não é Jagunço, que não é Bagunça, nem sincretismo. Junção personificação de outro vocábulo que ao ser digerido, é silabizado, balbuciado, soletrado em memória em cena.
Guardarei na página escrita da memória, a imagem do que apreendi no espetáculo e reterei  a divina sensação que me proporcionaram as gélidas e refrescantes gotículas desta seiva que caindo sobre mim, me abençoaram , perfumaram, protegeram. E eu, silenciosamente, acatei a prece como amuleto para os presságios.
Celeste Martinez. Valença, 11 de outubro de 2013



Um comentário:

Cristiano Martins (Li Martins) disse...

Agradecidíssmo por todo carinho ao espetáculo Bagunçu e a cia Operakata, você é maestra das palavras sentidas...
Foi um imenso prazer conhecer-te menina mulher! Dê um abraço na família! Forte abraço Celeste! Não poderia tu ter outro nome se não esse
pois tu és um ser Celestial! Até um próximo encontro!