sábado, 5 de outubro de 2013

Inez de Cruz e Sousa

Na 320º edição do Alacazum palavras para entreter que foi ao ar no dia 29 de setembro de 2013,  edição especialmente gravada, prestigiamos o poeta Cruz e Sousa, representante do Simbolismo no Brasil. Complementando cada poema declamado pela apresentadora Celeste Martinez, escutou-se a poesia musicada Inez pelo Projeto Sinfonia Dormente.

Inez  

Tem teu nome a estranha graça
De uma galga verde, estranha.
Certo langor te adelgaça,
Certo encanto te acompanha.

És velada, quebradiça
Como teu nome é velado.
Certa flor curiosa viça
No teu corpo edenizado.

Chamam-te a Inez dos quebrantos,
A galga verde, a felina,
Amaranto de amaratos,
Das franzinas a franzina.

Teus olhos, langues aquários
Adormecidos de cisma,
Vivem mudos, solitários
Como uma treva que abisma.

Tua boca, vivo cravo
Sanguíneo, púrpuro, ardente,
De certa forma tem travo
Embora veladamente

És lírio de velho outono,
Meiga Inez, e de tal sorte
Que já vives no abandono,
Meio enevoada da morte.

Teu beijo, do rosmaninho
Tem o sainete amargoso...
Lembra a saudade de um vinho
Secreto, mas venenoso.

Por um mistério indizível
Não te é dado amar na terra.
Vem de longe o Indefinível.
Que os teus silêncios encerra!

Deus fechou-te a sete chaves
O coração lá no fundo...
Mas deu-te as asas de aves

Para irradiares no mundo.

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