Na
360° edição do Alacazum Palavras Para Entreter, apresentação da
escritora e locutora Celeste Martinez, que foi ao ar no dia 20 de
julho de 2014, das 8 às 9 h transmissão ao vivo 87,9 Rio Una FM,
apreciamos a poesia: O cacto, de Cassiano Ricardo.
O
Cacto
Vamos,
todos, brincar de cacto
na
areia da nossa tristeza.
Uma
folha sobre outra,
em
caminho do céu intacto.
Uns
nos ombros dos outros,
um
braço a nascer de outro braço,
uma
folha sobre outra,
formaremos
um grande cacto.
De
cada braço, já no espaço,
nascerá
mais um braço, e deste
outros
braços, qual ramalhete
de
flores para um só abraço.
Filhos
da pedra e do pó,
fique
aqui embaixo o nosso orgulho,
pisado
sobre o pedregulho.
Formaremos,
num corpo só,
(
uma folha sobre outra
uma
folha sobre outra,
um
braço a nascer de outro braço)
a
nossa escada de Jacó.
Pra
quê torre de Babel
ou
o Empire State, compacto,
se,
uns nos ombros dos outros,
chegaremos
ao céu, num cacto?
Uma
folha sobre outra
e
já uma árvore de feridas
por
entre os anjos de azulejo
e
as borboletas repetidas.
Que
fique aqui embaixo a terra;
lá
de cima nós tiraremos
uma
grande fotografia
do
seu rosto de ouro e prata.
Pra
provar a Deus que a terra,
numa
fotografia exata,
não
é redonda, mas chata;
não
é redonda, mas chata.
Pra
provar, por B mais H
que
o homem, animal suicida,
já
sabe fabricar estrelas...
Se
é que Deus disto duvida.
Que
iríamos fabricar luas
(
se não fora, para Seu gáudio,
o
espião nos ter furtado a fórmula)
mais
bonitas do que as Suas.
Vamos,
todos, brincar de cacto,
uns
nos braços dos outros,
um
abraço a nascer de outro braço,
uma
folha sobre outra.
Vamos
subir, de folha em folha
mais
alto do que vai o avião.
Lá
onde os anjos jogam pedras
no
cão da constelação.
Que
outros usem avião a jacto
pra
uma viagem em linha reta:
nós,
filhos da planície abjeta,
subiremos
ao céu num cacto.
Uns
nos ombros dos outros,
injustiças
sobre injustiças
formaremos
um verde pacto...
Vamos,
todos, brincar de cacto.
Vamos,
todos, brincar de cacto