domingo, 8 de junho de 2008

Poesia Africana Lusófona - ANGOLA

Na foto: Manuel de Sousa

Na 84° edição do ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER prestigiamos a poesia de Manuel de Sousa, poeta angolano, muito atuante na internet através de release que usa para difundir seus poemas e textos de sentido crítico e social.

“A Parede Meias…”

Atirar-me-ei à parede
Jogarei primeiro os olhos
Chocarei nela com toda a força
Tentarei derrubar a resistência da matéria

Fluirei em direcção à estratosfera
Evitarei abrir as asas em demasia
Irei ao ápice da realidade absoluta
Tomarei medidas resolutas para não desistir

Lerei desobrigado e desabrigado qualquer palavrinha solta
Interpretarei pequenos e profundos significados enigmáticos
Apanharei barcos fantasmas que naveguem perdidos e à toa
Farei parte da tripulação mais invisível e indelével possível

Tocarei em qualquer superfície oca empíricos ritmos
Passarei a mão pelas cordas com a roupa lavada à máquina
Levantarei tantas poeiras e pós do passado quanto necessário
Tomarei qualquer boa virtude boca abaixo com um copo de água

Soprarei flautas e trompetes até me cansar
Apitarei o apito de chamada para o recreio
Serei o primeiro a pular à corda e a jogar à cabra cega
Levarei tudo com prazer e satisfação excepcionais

Içarei véus e lenços ao cume do monte das oliveiras
Pendurá-los-ei à volta do pescoço de uma girafa faminta
Farei deles símbolos de uma visão quase caótica
Rirei de pernas para o ar e rebolarei sem parar

Cantarei hinos à alegria para me livrar de alergias eventuais
Serei transportado a épocas distintas e vazias da realidade abstracta
Passarei a ler livros sem fim e nunca iniciarei pelo princípio de nada
Estarei pronto para qualquer meta ou para cortar fitas sucessivas

Mandarei o tempo dar uma volta a si mesmo
Enrolarei as questões mais difíceis a um poste ensebado
Atirarei de propósito todas as setas virtuais ao ar
Deixá-las-ei cair de forma desorganizada e dispersa

Criarei raízes para novas árvores e para outras esperanças
Lavarei o deserto com um esfregão cheio de germes da vida
Distribuirei a mensagem do génesis aos cantos do Globo
Porei em marcha as forças indeléveis do globalismo edificante…

Construirei paredes meias e civilizações no interior de mim mesmo
Edificarei novas faces nas reflexões que vejo ao espelho pela manhã
Mudarei semblantes e encantamentos cantando durante o banho
Semearei sementes de caras mais sorridentes e positivas pelas ruas da urbe…


Escrito em Luanda, Angola, a 30 de Maio de 2007, por manuel de Sousa, em Dedicação à Culturização Global da Humanidade, na esperança de que isso a venha a tornar, talvez num futuro próximo, menos xenófoba e mais humanizada, partilhadora, tolerante, homogénea e cosmopolita, em sua maneira de aceitar e compreender uns e outros, seja qual for filosofia ou origem!...

Nenhum comentário: