Quarta-feira, chuvosa, dia 3 de maio de 2017, sigo para a Caixa
Econômica Federal, localizada à rua Governador Gonçalves, no Calçadão da
cidade de Valença Bahia.
É a primeira vez que vou a este
estabelecimento bancário para efetuar pagamento de documento direto no
caixa. Após organizar os objetos metálicos no compartimento, adentro
pela porta eletrônica. O banco estava lotado. Quase todas as cadeiras
preenchidas. Encontro conhecido e peço ajuda. Este me indica que devo,
primeiro, pegar senha e fez questão de acompanhar-me até o local.
Retorno deixando os mesmos objetos no compartimento e saindo por outra
porta. A menina me entrega a senha de número 63 . Retorno. Uma cadeira
disponível. Sento. Pergunto a mulher ao lado como funciona e esta me
explica que o segurança, era o responsável pela organização no
atendimento. Ele chamaria meu número no devido momento.
Acomodei-me e imediato lembrei do exercício mais prazeroso para mim
nestes locais de espera. O livro. Abro a minha bolsa e só encontro
cadernos.
Cadê a caneta?
Nada.
Havia esquecido.
Nem um toco de lápis.
A angustia tomou conta de mim. Nem tico nem teco. Respiro fundo. Por algum motivo eu estava alí.
Começo a inspecionar o local. Vislumbrar rostos conhecidos. Eis a
professora xis, que maleavelmente se locomovia, buscando acomodação.
Dirigiu-se aos quatro assentos preferenciais. Apenas uma vaga.
Sentou-se. Pus a analisar a atitude da professora em ter ocupado uma
das cadeiras. Esta não tinha nenhuma limitação em locomoção, não era
idosa, nem obesa, nem estava grávida. Levanto-me para ler a informação
impressa na capa que envolvia os assentos. Estava lá, escrito: Ausentes
pessoas nestas condições, o uso é livre. Penso: Quantas vezes formulamos
teses sem fundamentos? Quantas vezes nos precipitamos nos julgamentos?
Apenas uma iniciativa de investigar os fatos, garante a fiel notícia. O
mesmo acontece com os pseudo-jornalistas, que preocupados em quantificar
audiência, esquecem de elucidar os fatos antes de divulgar nas mídias,
intensificando a violência.
De repente em minha frente, o
sobrinho Anderson, sentado em uma das cadeiras, com os olhos
petrificados no segurança do banco. Aguardava sua vez. Não notou minha
presença. Continuei garimpando informações. Já articulava uma crônica.
No íntimo, ainda estava decepcionada comigo mesma por ter esquecido a
caneta. Tinha certeza que muitos detalhes eu não reteria na mente. Abrir
a bolsa novamente, pego o celular.
Pra quê?
Não tenho costume de Whatsapp, tão pouco Instagram.
E acontece o inusitável, na tela vejo a palavra: bloco de notas.
Eureka, como diria , Arquimedes de Siracusa, achei a solução.
E alí mesmo, pus-me a desvendar como se utilizava este recurso. Anotei alguns pontos que serviriam para a escrita.
Quantas vezes deixamos passar oportunidades de aprendizagens?
Inúmeras.
A alegria, saltita.
- 47! Grita o guarda.
Sessenta e três menos quarenta e sete, calculo mentalmente. Falta dezesseis. Não é muito.
A senhora ao meu lado, levanta-se para ser atendida. O lugar é ocupado
por outro professor, que me sauda. Levanto-me para falar com o sobrinho
que vinha com fisionomia triste. Pergunto o que aconteceu e ele diz que
teria que retornar ao banco outro dia. Partiu. Outro conhecido, no
mesmo instante fala comigo e inicia o relato de que é assim mesmo.
Permaneci em pé dialogando com ele.
-56! Bradou novamente o guardião do banco.
Aproximava-se a minha vez. Olhei para as horas impressas no celular:
Onze horas e cinquenta minutos. Calculo. Cheguei às dez e quarenta e um.
Uma hora e onze minutos de espera. Lembro da lei dos quinze minutos. E
novamente a matemática insiste em contabilizar o tempo.
Quantas pessoas foram atendidas desde a minha chegada?
Será assim que contabiliza o tempo na lei dos quinze minutos por pessoa?
- 62! Grita o guarda.
Posiciono-me bem a frente. Enfim sigo para o caixa. Entrego, à moça,
os documentos a serem pagos. E esta, após avaliar, me diz:
- Falta
o código. Sem este número não existe transação bancária. Vá falar com o
seu contador. Depois volte aqui. Não precisa pegar fila.
Sair. Cronos marcava o caminho para as doze badaladas. Mesmo assim, caminhei até a rua General Labatut.
- Tem que procurar o órgão competente, fala a menina da Contabilidade. E indicou-me a direção.
- Agora, já não atende. Só às quatorze horas. Ela disse.
Segui para casa. Teria ainda que fazer almoço.
Enquanto a tarde, ainda chuvosa, acenava para mim, eu analisava o
ocorrido. Para alguns, um dia tedioso no banco. Tempo perdido. Eu, com
mais de meio século de existência estou aprendendo a tirar proveito das
desgraças e ter vantagem com o exercício da escrita. O jogo do contente
que nos ensina Pollyanna de Eleanor H. Porter. A vida, é um campo
aberto sem cancela, livre. Nós, é que marcamos as terras, impondo
limites.
Valença, Bahia, 3 de maio de 2017
Un poema de Alina Diaconú
Há 5 dias
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