Manhã nublada.
Quarta-feira, 17 de maio de 2017.
Saio de casa. Desta vez, caminhando.
Quando adentro à avenida Macônica, cruzamento com a avenida Tancredo Neves, em Valença, Bahia, o coletivo urbano, adianta-se, cuspindo fumaça.
Paro, respeitando a minha vida.
Bem na curva, o motorista, de dentro do ônibus, fixa os olhos em mim e sauda-me com continência militar.
Seria pela boina que uso?
Apuro as vistas.
Quem será?
Ei-lo: Alencar. Que não é José.
Eu, que caminhava séria, naquele instante, com tão inusitável saudação, abro um largo sorriso.
Oferto-lhe felicidades.
“ Vai, Alencar ser guache na vida”.
E ele, vai.
E o coletivo, invade a curva e segue por toda a avenida Tancredo Neves.
Agora, meus passos, ingressam na orla, interminável em sua reforma.
Vejo, os canteiros destituidos de terra, sem acabamento, expondo as raízes das árvores.
Detalhes. Não a canção do Roberto, que é Carlos.
Detalhes, que fazem a diferença quando o assunto é educação.
Árvores, não são seres respeitados desde que o Brasil foi Pindorama.
Quando tornou-se Brasil, piorou. Em uma avalanche desproporcional à extensão da Amazônia.
Que não é legal!!
Escapo rápido por este trecho. Estou com pressa.
Penso na crônica que planejei escrever e não fiz.
Penso na árvore podada com crueldade.
Penso no desamparo. Em Dona Bertholletia Excelsa.
Agora, caminho sobre a Ponte Inocêncio Galvão de Queiroz, na estreita calçada, onde corpos em movimentos, se adelgaçam, espicham-se, comprimem-se, deixam escapar líquidos de sua fluidez metafórica.
Mais importante que a matéria, é a superficialidade.
O que flutua na mente. Invisivel, imortal, até a hora de pensá-la.
É isto que nos torna eternos: o pensamento e a concretização da ideia
Avanço a geografia do corpo, chamado Valença.
A minha Valença?
Em que concepção?
A posse da terra ou aportar à terra como refúgio?
“ Eu que não vou nem venho, eu que permaneco em contato com a dor do tempo, eu elemento de ligação entre a ação e o pensamento”
Ah! Vinicius, que é Moraes e que tem moral para nos falar de uma tarde em itapoã.
Quanta divagação no caminhar de um lado para outro da cidade.
- Veja, olha lá, um sapo. Disse a criança.
Escuto, enquanto embarço para um outro estado.
Valença, 17 de maio de 2017 Celeste Martinez
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