Para Paola que vive em Campana -Bs As Argentina
Estava na filial da Pizzaria Os Martinez, sentada confortavelmente, bem em frente ao cruzamento entre as ruas Oldack Nascimento e a avenida Antonio Carlos Magalhães, justo onde está a sinaleira, observando a artista callejero, fazer malabarismos com bambolês.
A garota, pouco mais de vinte anos, franzina, rosto alongado, na cabeça, uma boina cor preto, vestido verde e calçando tênis, explorava os movimentos do brinquedo, uma hora com um pé, com o outro, com a mão direita, mão esquerda, no tórax. Firme em um só pé. Além da agilidade e experiência que demonstrava com o uso do equipamento, o sorriso estampado no rosto, foi sem sombra de dúvida a expressão mais marcante naquele momento observando-a.
A cada finalização do mini espetáculo, ela, enclinava o corpo para frente, agradecendo. Ao fazê-lo, parecia está diante de uma numerosa platéia, ouvindo trilhões de aplausos. Após, caminhava em direção aos carros, na esperança de uma recompensa pífia. Entre dez carros parados, um, contribuia. E ela, tirava a boina e apresentava como recipiente para o depósito. “ A la gorra” como se diz na Argentina. Lá, é muito comum estes artistas se apresentarem nas ruas. Daí a expressão “callejeros”. Quando, de minha passagem, por lá no ano dois mil, conheci a artista Paola que amava o Brasil. Agora, recordando-a, vejo, que é o mesmo sorriso, que oferta gratuitamente esta menina, que aí está, fazendo malabarismo na sinaleira.
Os automóveis passavam, novos se posicionavam e a menina, continuava a sua apresentação circense.
O céu, neste momento, totalmente cinza. Chuvia de fininho. Eu, no conforto, sentada em uma cadeira, protegida contra as intempéries.
Terão elas e eles, artistas callejeros, aprendido a filosofia do desapego?
Que missão, quase impossível, é esta, em ofertar alegria e descontração para uma pláteia preocupada, nervosa, contrariada, impaciente e atenta apenas ao objetivo que é ir e ir ?
Quantas, dessas pessoas, estacionadas dentro dos carros, vêem a menina?
Quantas, enxergam como artista?
Agora, a chuva passou. O sinal está aberto para o azul que aponta no céu.
A garota, sorridente, continua firme. Ela é versátil, dinâmica. Atraí olhares curiosos dos transeuntes. Mais não para o trânsito. Aproveita, sim, a brecha dos segundos permitidos para que o movimento cotidiano siga sem riscos.
Passa das dez.
Teria, a menina, se alimentado?
As contribuições monetárias, arrecadadas são suficientes para uma refeição?
Que gérmen é esse incrustado no sangue destes artistas que incentiva a sair pelo mundo?
Creio que os artistas callejeros, são passarinhos, que levam um tiquinho do seu canto-alegria para pessoas em trânsito.
Valença, Bahia, 22 de maio de 2017 Celeste Martinez
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