Na Pizzaria, trabalhando, quando o telefone, toca.
- Pizzaria, Os Martinez, boa noite!
Do outro lado, voz feminina, lânguida, fininha, delicada, longínqua, se identifica dizendo o nome.
- Quem?
E a voz, terna, tranquila, repete.
Eu, congestionada a audição, pelos longos dias acumulados da minha existência, tenho dificuldade em decifrar a palavra.
Tenho vergonha, no entanto, em perguntar novamente e me calo por
nanos segundos. Tempo suficiente para a pessoa, bastante perspicaz,
perceber meu embaraçamento. Sou fulana, ela diz, amiga de sicrana. Esta
pista foi suficiente para decifrar o enigma da voz e consequente
vislumbrar o rosto da pessoa que falava comigo naquele instante.
- Ah! Como vai? Desculpe-me, estou ficando surda!
Do outro lado da linha, escuto gargalhadas.
- O que deseja? Pergunto.
Mais antes que a pessoa responda, uma outra, insiste em falar:
- Tenho lido as suas crônicas!
Para mim, foi surpresa saber que esta, lia meus textos. Na página
virtual do facebook onde publico, não vi nenhum sinal de curtição ou
comentários. Várias pessoas, lêem, sem contudo expressar publicamente,
pensei.
Atenta, de que alí é um estabelecimento comercial e de que
eu tenho que ser rápida no atendimento para não congestionar a linha
telefônica, detenho-me no assunto da pizza.
- O que você deseja ?
Acontece que a segunda pessoa, do outro lado da linha, muito
sorridente, insiste no assunto e impede momentaneamente a realização do
pedido.
- Olhe, eu estou fugindo de você na rua para não virar crônica!
Não sou de rir mais esta frase e o modo como a pessoa falou, fez
explodir dentro de mim um sentimento de bem-aventurança. Sorrir
gargalhadas. Elas também.
- Já virou! Eu disse.
Desta vez foi ela que não escutou e pediu para que eu repetisse:
- Diga a tua amiga que ela já virou crônica!
Novas gargalhadas, escuto. Ao mesmo tempo em que a pessoa que solicitava pizza repetia para a outra o que eu havia dito.
Fico feliz em saber que as minhas crônicas, têem provocado em muita
gente curiosidade na leitura e apreciação geral. Agora o que eu nunca
imaginei foi que causaria receio em algumas pessoas “para não virar
crônica”.
O que isso significa?
Será que foi uma brincadeira desta minha amiga ou a preocupação é geral?
Se avexe não, viu?
Contrário aos contos do fantástico maravilhoso, em que sapos, viram
príncipes, no mundo encantado Alacazum, nem todas as pessoas viram
crônicas. Em meios à palavras que nomeam coisas e nomes próprios,
existe as expressões matemáticas onde o uso de incógnitas, revela muito
mais o sujeito.Finalizei a venda da pizza e um afetuoso e cordial boa
noite, selou este momento descontraído no trabalho. Após desligar o
telefone eu ainda esboçava no rosto, um largo sorriso de satisfação . O
coração palpitava de alegria e ansiava por chegar em casa para
rapidamente escrever mais uma crônica.
Mais intimamente matutava: O que estaria pensando a amiga neste instante?
Valença, Bahia, 9 de maio de 2017 Celeste Martinez
Un poema de Alina Diaconú
Há 5 dias
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