Publicado no Facebook dia 14 de maio de 2017
Novamente encontro com ex-colega de infância dos tempos de escola. Só que desta vez não lembrei nem o nome e nem o sobrenome. Se tem uma coisa que me deixa chateada é esquecer com quem estou conversando. Este, se aproximava com intuito de conversar.
Acionei o compartimento das ações urgentes:
Qual o nome dele?
Pela marcha dos passos e pelo sorriso estampado no rosto, demonstrava apreço por minha pessoa. Chegou, já me chamando pelo nome. Um calabrio passou pelo meu estômago.
E aí camarada cérebro, qual o nome da pessoa?
Nada da cachola responder.
Sim, eu o conhecia. Sabia onde morava, o nome da sua mãe, irmãos. E pelas características físicas: branco, olhos azuis, rosto alongado, cabelos castanhos claros, acercava um semblante famíliar dos tempos de escola.
E o nome, cadê?
Nada.
Empolgado com a conversa, falou-me do seu cotidiano: estava empreendendo. A partir daí os temas variaram: economia, política, relação patrão versus empregado/empregada, religião, a conquista do lugar ao sol e principalmente, com o suor do rosto, quem nem manda a Bíblia, ele disse. Fez questão de dizer que veio da base. Que tudo que sua família conquistou até hoje, foi fruto do trabalho honesto. Quando falava, sentia-se uma satisfação e conforto, segurança e veracidade fruto da vivência.
Rapidamente atravessou-me na mente, ex- colegas, dessa mesma época que ainda hoje encontro na cidade de Valença Bahia e realmente, todos, têem uma realização econômica confortável dentro de suas profissões, preservando a ética e a moral.
Os tempos eram outros?
Não sei.
Quando no trecho que falava sobre sua condição financeira, disse:
- Todos na escola, pensavam que eu era rico.
- Por quê? Indaguei com curiosidade.
- Pelo cabelo tipo playboy, você não lembra?
Até aquele momento, não lembrava nem do nome, nem sobrenome, muito menos do cabelo. Ele prosseguiu:
- Meu cabelo era loiro, comprido. E eu, branco e de olhos azuis. Deu uma paradinha e sorriu.
Não precisava de mais detalhes na complementação do esteriótipo. Lembro muito bem de cada uma destas vertentes: racismo, xenofobia, intolerância religiosa, etc. Inclusive, eu sou vítima, dessas generalizações, devido ao meu jeito de vestir. Muitas oportunidades de emprego perdi por causa deste detalhe. Detalhe?
A velha história da igualdade, descrita no capítulo I , artigo quinto da Carta Magna Brasileira, uma falácia.
O meu amigo, ex-colega de infância dos tempos escolares, estava animado com a conversa todavia para mim, ele continuava, naquele instante, uma incógnita. Eu não lembrava o nome dele. Começei a ficar aflita. Mais o amigo, prosseguia:
- E sabe por que eu não cortava o cabelo? Não tinha dinheiro.
Gente, você não imagina o impacto que me causou ao escutar esta simples frase.
O cara, era pobre que nem eu.
Entenda-se que naquele tempo, nas escolas públicas, conviviam pobres e ricos.
Os ricos, daquele nosso tempo, eram pessoas identificáveis na sociedade: era o filho do dentista, do médico, do advogado, do exportador de cacau e cravo-da-índia.
Eu não lembrava se eu o considerava rico naquela época, por que até aquele instante não recordava seu nome ou sobrenome.
E isso me fez ponderar sobre a Lei de cotas nas universidades públicas, no Brasil, que muita gente critica.
“ O objetivo das cotas é corrigir injustiças históricas provocadas pela escravidão na sociedade brasileira”.
E a pobreza?
Lembro que fiz uma enquete cuja pergunta foi a seguinte: qual a mais difícil travessia: a pobreza ou velhice?
Noventa por cento dos participantes, responderam a pobreza.
A pobreza tem raízes históricas tanto quanto a escravidão. Veja o caso do meu amigo: Branco, loiro, de olhos azuis e pobre.
Mais todos pensavam que ele era rico.
E se o meu amigo fosse preto e pobre?
Será que pensaríamos que ele era rico?
O amigo e ex-colega de escola, nada sabia destas minhas elaborações mentais, ele continuava a falar de sua vida, com entusiasmo. Era para mim que ele relatava os fatos. Sentia-se confiante. E eu o escutava prestando atenção em cada palavra. Despedimo-nos. Ele pegou a via Conselheiro Zacarias e eu a Oldack Nascimento. Na saída, ainda disse:
- Tchau, Celeste Martinez!
E eu?
“ Ora (direis ) ouvir estrelas”.
Sim, todavia, não lembrava o nome dele, entretanto, enquanto caminhava , recordava o personagem Raskólnikov.
Vá entender a mente.
Valença, Bahia, 14 de maio de 2017 Celeste Martinez
Novamente encontro com ex-colega de infância dos tempos de escola. Só que desta vez não lembrei nem o nome e nem o sobrenome. Se tem uma coisa que me deixa chateada é esquecer com quem estou conversando. Este, se aproximava com intuito de conversar.
Acionei o compartimento das ações urgentes:
Qual o nome dele?
Pela marcha dos passos e pelo sorriso estampado no rosto, demonstrava apreço por minha pessoa. Chegou, já me chamando pelo nome. Um calabrio passou pelo meu estômago.
E aí camarada cérebro, qual o nome da pessoa?
Nada da cachola responder.
Sim, eu o conhecia. Sabia onde morava, o nome da sua mãe, irmãos. E pelas características físicas: branco, olhos azuis, rosto alongado, cabelos castanhos claros, acercava um semblante famíliar dos tempos de escola.
E o nome, cadê?
Nada.
Empolgado com a conversa, falou-me do seu cotidiano: estava empreendendo. A partir daí os temas variaram: economia, política, relação patrão versus empregado/empregada, religião, a conquista do lugar ao sol e principalmente, com o suor do rosto, quem nem manda a Bíblia, ele disse. Fez questão de dizer que veio da base. Que tudo que sua família conquistou até hoje, foi fruto do trabalho honesto. Quando falava, sentia-se uma satisfação e conforto, segurança e veracidade fruto da vivência.
Rapidamente atravessou-me na mente, ex- colegas, dessa mesma época que ainda hoje encontro na cidade de Valença Bahia e realmente, todos, têem uma realização econômica confortável dentro de suas profissões, preservando a ética e a moral.
Os tempos eram outros?
Não sei.
Quando no trecho que falava sobre sua condição financeira, disse:
- Todos na escola, pensavam que eu era rico.
- Por quê? Indaguei com curiosidade.
- Pelo cabelo tipo playboy, você não lembra?
Até aquele momento, não lembrava nem do nome, nem sobrenome, muito menos do cabelo. Ele prosseguiu:
- Meu cabelo era loiro, comprido. E eu, branco e de olhos azuis. Deu uma paradinha e sorriu.
Não precisava de mais detalhes na complementação do esteriótipo. Lembro muito bem de cada uma destas vertentes: racismo, xenofobia, intolerância religiosa, etc. Inclusive, eu sou vítima, dessas generalizações, devido ao meu jeito de vestir. Muitas oportunidades de emprego perdi por causa deste detalhe. Detalhe?
A velha história da igualdade, descrita no capítulo I , artigo quinto da Carta Magna Brasileira, uma falácia.
O meu amigo, ex-colega de infância dos tempos escolares, estava animado com a conversa todavia para mim, ele continuava, naquele instante, uma incógnita. Eu não lembrava o nome dele. Começei a ficar aflita. Mais o amigo, prosseguia:
- E sabe por que eu não cortava o cabelo? Não tinha dinheiro.
Gente, você não imagina o impacto que me causou ao escutar esta simples frase.
O cara, era pobre que nem eu.
Entenda-se que naquele tempo, nas escolas públicas, conviviam pobres e ricos.
Os ricos, daquele nosso tempo, eram pessoas identificáveis na sociedade: era o filho do dentista, do médico, do advogado, do exportador de cacau e cravo-da-índia.
Eu não lembrava se eu o considerava rico naquela época, por que até aquele instante não recordava seu nome ou sobrenome.
E isso me fez ponderar sobre a Lei de cotas nas universidades públicas, no Brasil, que muita gente critica.
“ O objetivo das cotas é corrigir injustiças históricas provocadas pela escravidão na sociedade brasileira”.
E a pobreza?
Lembro que fiz uma enquete cuja pergunta foi a seguinte: qual a mais difícil travessia: a pobreza ou velhice?
Noventa por cento dos participantes, responderam a pobreza.
A pobreza tem raízes históricas tanto quanto a escravidão. Veja o caso do meu amigo: Branco, loiro, de olhos azuis e pobre.
Mais todos pensavam que ele era rico.
E se o meu amigo fosse preto e pobre?
Será que pensaríamos que ele era rico?
O amigo e ex-colega de escola, nada sabia destas minhas elaborações mentais, ele continuava a falar de sua vida, com entusiasmo. Era para mim que ele relatava os fatos. Sentia-se confiante. E eu o escutava prestando atenção em cada palavra. Despedimo-nos. Ele pegou a via Conselheiro Zacarias e eu a Oldack Nascimento. Na saída, ainda disse:
- Tchau, Celeste Martinez!
E eu?
“ Ora (direis ) ouvir estrelas”.
Sim, todavia, não lembrava o nome dele, entretanto, enquanto caminhava , recordava o personagem Raskólnikov.
Vá entender a mente.
Valença, Bahia, 14 de maio de 2017 Celeste Martinez
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