Cruzamento entre as ruas Ruy Barbosa, Quintino Bocaiúva, Praça da República, na cidade de Valença Bahia.
Final de tarde.
Quando vi já estava o tumulto bem na esquina da sinaleira.
Como diz o velho ditado: peguei o bonde andando.
Valença, por mais que seja a maior cidade da costa do dendê continua a
manter o tradicional costume interiorano de por qualquer coisa juntar
gente para “espiar”.
Eu não tinha do que me furtar com a cena. Um
carro Volkswagen Gol, semi-usado, com a frente estraçalhada, estacionado
enviezado na via pública antes da faixa de pedestre e um outro carro da
Nissan Pic up 4 x4 logo atrás, também parado.
Um homem, exaltado,
aos berros, dirigia insultos a um garoto, magrinho, pálido e assustado.
O menino tentava acalmar o homem que não queria escutar. O tempo
inteiro falava que ia chamar a polícia. Pela forma como se expressava,
parecia ser uma autoridade. Exigiu que o menino, descesse do automóvel e
este obedeceu. Tremia de medo.
Parei.
Iniciei minha
elaboração mental sobre o fato alí apresentado. Escutei as palavras
sussuradas de alguns encostados nas paredes e outros que diziam que não
queriam se “meter”. Evidente que se tratava de um acidente.
Só um
detalhe não se ajustava ao fato: o carro danificado estava parado em
frente ao que aparentemente era o culpado. Pela lógica da via pública,
alí naquele trecho da cidade é contra-mão quem vem da Quintino
Bocaiúva, sentido Teixeira de Freitas.
Entretanto o mais exaltado, era justamente o homem do carro que estava destroçado e parado neste sentido.
Intrigante.
Possa ser que o cidadão, que teve o seu automóvel danificado,
percebendo que o motorista do outro veículo era um garoto sem carteira
de habilitação, tenha se aproveitado da situação para tirar vantagem.
Uma tese mirabolante eu articulava.
A esta altura o trânsito congestionou por que justo o homem que bradava contra o menino parou para discutir no meio da rua.
Aliado a isso os dois carros estavam imobilizados.
Evidente que o fato poderia me render uma bela crônica cotidiana
mas... o que eu poderia escrever diante de um fato pela metade?
Lembrei de certa ocasião em Buenos Aires, Argentina, quando saía da
Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires, UBA,
seguindo entre as ruas Puán e avenida Rivadavia quando presenciei um
reboliço com presença da polícia e nenhum transeunte parava para
bisbilhotar. Contrário, apressavam ainda mais os passos.
Só depois
fui saber que na Argentina qualquer pessoa que se aproximasse poderia
servir de testemunha. Por isso o distanciamento.
Observar cenas
como esta, podem me render belos textos entretanto naquele momento
estava indo resolver assuntos técnicos da pizzaria, não podia ficar por
mais tempo alí para saber o desfecho do acontecimento. Sair. Nem olhei
para trás para não ser arrastada pela curiosidade. Quando retornei,
passando pelo mesmo local, todos os elementos representantes daquela
cena, desapareceram, ficando apenas a rua, discreta, calada.
Valença, Bahia, 4 de maio de 20117 Celeste Martinez
Un poema de Alina Diaconú
Há 5 dias
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