quarta-feira, 31 de maio de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Publicado no Facebook dia 16 de maio de 2017


Descia a ladeira do porto ou rua Governador Gonçalves, em Valença, Bahia, quando bem em frente, vindo em minha direção, encontro amiga. Se não fosse os anos de amizade eu certamente não a reconheceria. Antes, vestia-se o mais simples possível. Posso dizer com toda certeza que ao estilo minimalista. Sem vaidades excessivas. Agora, até o cabelo, é notado por seu volume e brilho. No rosto, sobrancelhas feitas, batom nos lábios, brincos nas orelhas. No pescoço, correntes finas com pingentes. Inevitável não observar a mudança. E para melhor. Notava-se em sua fisionomia a felicidade. E não foi, com toda certeza uma mudança exigida, por outras pessoas que implicam em querer modificar as outras ou modelar segundo os seus anceios. Esta minha amiga, já tem uma certa idade e nunca ligou para o que as pessoas falam.
- Como você está bonita! Disse-lhe.
- É ?
- Sim, completamente mudada.
- Todo mundo tá dizendo!
O “ todo mundo “ desta minha amiga, resume-se a sua família e a Igreja. As amizades que fez durante os tempos na fábrica, ainda conserva, mas depois da viúvez e da aposentadoria, o círculo se restringiu. Todas as vezes, anteriores que nos encontravámos, o tema girava em torno do único filho e do neto querido. Entretanto naquela travessia da ladeira do porto, onde o vento, corre mais brincalhão, despenteando os cabelos da gente e levantando as saias e vestidos das mulheres, a amiga só tinha conteúdo para falar da vida. Eu que não intensionava bisbilhotar a sua intimidade, contive-me em perguntar o que tem feito ultimamente.
- Viajado. Foi a resposta.
Falava dela e dos lugares que sempre almejava conhecer mais não se animava. Em suas palavras havia uma emoção parecida a um contentamento que duraria a vida inteira. Como a conquista de uma chave especial que abre todas as portas e janelas e não dificulta o ir das pessoas, o caminhar por terras, até pouco tempo distantes e inatíngiveis.
A amiga, falava dessa tal felicidade. Era real. Estava diante de mim uma mulher , mais de cinquenta, que trocara uma indumentária cinza por adereços e cosméticos. Cuidava mais de si. Amava-se.
Que motivo faz uma pessoa solitária, despertar em desfrutar a vida novamente, como na fase áurea da mocidade?



Valença, 9 de maio de 2017 Celeste Martinez

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