No supermercado.
Secção de leites, conservas e enlatados.
Perambulava de um lado para outro olhando as prateleiras na tentativa de lembrar o que precisava comprar. Esqueci a lista.
De repente, os olhos, estes ácidos do consumo, direcionam o olhar para os enlatados. Que vontade súbita de comer sardinhas. Nenhuma referência com o tema futebolístico.
Vontade mesmo de comer manjuas e com farinha. Coisas de Celeste como diz a amiga Irismar. E bota coisa nisso. Nunca me aconteceu esse desejo repentino e olha que já estou fora da temporada fértil.
Tomada pelo consumo, sigo para o lado da prateleira onde estão organizadas as latas. Olho, primeiro o nome das marcas, os preços, a validade, a bula. Sardinha com óleo de soja, com molho de tomate, sardinha com óleo vegetal, com óleo de girassol. Mais destacava, em todas: ricas em ômega três.
Eram tantas marcas com seus predicados, que tive que me abaixar, para o térreo da prateleira.
Foi neste exato momento que percebi, o moço repositor, parado bem ao lado. Prosseguir com a minha pesquisa quando olhando fixamente para uma das latas, visualizo o símbolo que identifica alimentos trangênicos.
- Trangênico, até na sardinha? Falei em voz alta, assustada.
Foi aí que o repositor interagiu:
- Tá tudo contaminado.
- Verdade. Respondi.
Iniciamos um breve diálogo a respeito dos alimentos e este voluntariamente, ajudou-me a escolher um produto que não tivesse a marca do triângulo amarelo.
- Veja este! Ele disse e me entregou a lata
Peguei e iniciei a vistoria. Escute, disse, olhando para o rapaz e começei a ler, teatralizando:
- Atenção: para os alérgicos contém peixe e derivados de soja.
Assim que terminei a leitura do breve texto impresso na lata de sardinha, o moço repositor, falou:
- Você é a mulher do programa de rádio aos domingos?
- Era. Não tem mais. Como você descobriu?
- Pela voz.
- Você gostava?
- Gostava, não, amava. Muito bom.
Prevendo a nostalgia, interrompi o tema Alacazum. Bem parecido aos cortes de entrevistas radiofônicas mal editadas.
- Vou levar esta mesma. Não tem o símbolo, mais tem derivados da soja, que também é trangênico. Não tem tu, vai tu, mesmo.
Ele sorriu, voltou o corpo e a atenção para as prateleiras. Estava em serviço.
Até caminhar para o caixa eu ainda guardava a vontade de comer sardinhas enlatadas com farinha. Do Alacazum, ficou a paisagem do repositor de supermercado, que um dia, sintonizou o rádio e escutou. Escutou e fixou, convertendo em memória. Por que é muito mais fácil, gravar os personagens dos programas televisivos, pelo efeito marcante das imagens do que um programa radiofônico através da voz. O Alacazum, foi uma voz no rádio, que fez morada em muitos corações.
Valença, Bahia, 15 de maio de 2017 Celeste Martinez
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