terça-feira, 26 de maio de 2009

Alice no País das Maravilhas

Leitura final do primeiro capítulo do livro: “Alice no país das maravilha” de Lewis Carrol, feita na 129° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 24 de maio de 2009, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650Khz AM.

Era muito simples dizer: BEBA-ME. Mas Alice era muito inteligente para fazer isso sem refletir.
-Não, vou primeiro ver se estar escrito veneno em algum lugar.
É que Alice tinha lido diversas historinhas bonitas sobre crianças que se tinham queimado, ou tinham sido devoradas por animais ferozes, ou a quem tinham acontecido mil coisas desagradáveis, simplesmente porque não prestavam atenção a algumas regras bem simples, que seus amigos lhes tinham ensinado. Por exemplo, quem segura um ferro em brasa queima-se; quem corta o dedo com uma faca, o dedo sangra. Ela não tinha esquecido, também, que quem bebe de uma garrafa onde está escrito veneno, pode estar certo que ficará muito doente, mais cedo ou mais tarde.
Mas não estava escrito veneno, então Alice arriscou-se a provar um bocadinho. Achou muito gostoso. (Tinha gosto de torta de cerejas, de peru assado, de creme de leite, de abacaxi, de caramelo e de torradas amanteigadas) Num instante Alice esvaziou a garrafa.
-Que efeito engraçado!- disse Alice- estou achando que aconteceu o que eu queria: encurtei como um telescópio.
E, meu Deus, era verdade: agora ela não tinha mais que vinte e cinco centímetros de altura. Sorriu de contentamento, pois estava com o tamanho certo para passar pela portinha e chegar ao jardim. Mas achou melhor esperar alguns minutos, para ver se ia diminuir mais ainda. Estava um pouco aflita sobre esse ponto:
-Isso poderia acabar me gastando completamente, como uma vela. O que acontece com a chama de uma vela, quando a vela acaba? O que aconteceria comigo, num caso assim?
Alice não sabia as respostas para essas perguntas.
No fim de algum tempo, vendo que não acontecia nada de novo, resolveu ir para o jardim sem esperar mais. Pobre Alice! Quando chegou à portinha, percebeu que tinha esquecido a pequena chave de ouro. E quando voltou à mesa para pegar a chave, viu que não tinha altura para alcançá-la: via perfeitamente a chave através do cristal e fez tudo o que pôde para subir por um dos pés da mesa, mas era muito escorregadio. Quando afinal ficou exausta de tanto esforço sem resultado, a pobre menina sentou-se no chão e começou a chorar.
- Vamos, chorar não serve de nada! – ralhou consigo mesma, severamente.
-Eu te aconselho a parar já, já!
Ela se dava, em geral, ótimos conselhos ( é verdade que os seguia bem raramente) e às vezes se ralhava com tanta severidade que chegava a ficar com lágrimas nos olhos. Uma vez chegou mesmo a tentar se dar duas palmadas, por roubar numa partida de croqué que estava jogando consigo mesma. Essa interessante menina gostava muito de fingir que era duas pessoas ao mesmo tempo.
- Não adianta nada no caso, agora, tentar ser duas pessoas – pensou a pobre Alice. – Já me darei por muito feliz se sobrar bastante de mim para fazer uma só pessoa respeitável.
Nesse momento seu olhar caiu sobre uma pequena caixa de vidro, que estava embaixo da mesa. Abriu-a e encontrou um doce muito pequenino, com esta inscrição, muito bem desenhada com passas: COMA-ME.
-Bem, vou comê-lo – decidiu Alice. – Se esse doce me fizer ficar maior, poderei atingir a chave. Se me fizer ficar menor, poderei, talvez, passar por baixo da porta. Assim, de uma maneira ou de outra, entrarei no jardim. Pouco me importa de que modo chegarei lá.
Comeu um pedacinho e se perguntou com ansiedade:
- E agora? Vou crescer ou encolher?
Pousou a mão no alto da cabeça para verificar se estava esticando ou encurtando. E teve a maior surpresa do mundo ao descobrir que continuava do mesmo tamanho. Normalmente é isso que acontece quando se come um doce. Mas Alice estava ficando tão habituada a só esperar coisas extraordinárias que agora achava absolutamente estúpido ver a vida acontecer de uma maneira comum.
Então pegou de novo o doce e acabou de comê-lo rapidamente.


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