segunda-feira, 30 de outubro de 2017

I Sarau Alacazum na Pizzaria Os Martinez

Sarau Alacazum na Pizzaria Os Martinez dia 29 de outubro de 2017
Nilda Barbosa, Alex Sandro e Dona Hilda Barbosa
Polpa de Fruta Beija Flor, parceiro no Sarau Alacazum
Poetisa Elisangela Santos, sua irmã e filho Erivan




Crônica Cotidiana de Celeste Martinez

Crônica cotidiana de Celeste Martinez


Domingo, 29 de outubro de 2017, amanheço com aquela nítida convicção que hoje, será o encontro que mescla pizza e poesia, que intitulei “ Broto Legal”.
Poderia ficar um poquinho mais na cama curtindo a imensa e calorosa vida que invade o meu quarto através da janela envidraçada entretanto prefiro levantar-me.
Não há o que fazer em termos de arrumação de espaço na Pizzaria. Tudo muito simples, aproveitando os recursos existentes, mais sempre existe uma luz ao modelo de Edson que acende em tua cabeça, principalmente na minha.
Preparo o meu café e enquanto aproveito esse momento em companhia dos pássaros que beliscam a banana que eu oferto todos os dias, meus olhos alcançam a um canto da sala o estandarte que eu e Meg Heloise confeccionamos para o Sarau do Beco.
Estava alí por que pensei em remanejá-lo acrescentando um adereço que escondesse as palavras “ do beco”.
As inúmeras tarefas cotidianas impediram-me de fazer esse serviço. Agora, olhando-o, acomete-me a vontade de levá-lo.
O que fazer se o tempo se estreita, daquí a pouco será 17 h e tenho que chegar antecipadamente ao local?
Penso em colar alguns poemas diversificados. Não. Vai manchar o tecido e ficará impossibilitado de utilizá-lo em outro evento.
Busco pela casa algum objeto e encontro as bandeiras da Argentina e Brasil. Não. Despertará pensamentos esportivos e políticos partidários.
Vou finalmente ao baú, onde guardo retalhos de panos, agulhas, alfinetes, elásticos, tesoura, etc e remexendo encontro um trabalho em bordado que havia iniciado para o programa de rádio Alacazum e nunca terminei.
Saco-o e ao estende-lo no chão, assusto-me com a harmonia e entrosamento dos trabalhos. Perfeito.
Pego a linha e a agulha e inicio a tecitura ou acoplamento de um plasma a outro. Impressionante. Enquanto executo a tarefa prazerosa em construir, pensamentos me afogam em criatividades literárias.
Lembro do texto “ Um Apológo” ”de Machado de Assis; “ A agulha e a linha” de Pedro Bandeira; lembro do Alacazum e principalmente lembro da crônica cotidiana que tanto admira e divulga a amiga Edyna Cardoso.
Dez anos dedicados ao projeto e não pude desfrutar do trabalho artesanal que fiz com a intenção de servir de pano de fundo para as minhas gravações ao vivo do programa.
Agora, finalizado e olhando para o estandarte, ficou: Sarau Alacazum.
O tema “Broto Legal” que criei interagindo o ato de alimentar-se fisicamente com o poder em abastecer-se do substantivo “Poesia”, agora, dialoga com uma nova possibilidade de seguir em frente.
“ Para o alto e avante”, já dizia o superman a caminho de uma nova aventura.



Valença, Bahia, 29 de outubro de 2017

Crônica Cotidiana de Celeste Martinez

Crônica cotidiana de Celeste Martinez


No balção da Pizzaria quando entra um casal de jovens, que locomovendo-se com desenvoltura no salão, caminhou em minha direção sorridentes.
- Como vai, Celeste Martinez? Disse o rapaz.
Ao escutar meu nome sendo pronunciado pela boca de um estranho, espanto-me e pergunto:
- Você me conhece?
- Sim.
- De onde?
- Vários lugares. Conheço a tua poesia.
À medida que escutava e fixava o olhar no rosto jovial do homem, meu cérebro fazia conecções tentando o reconhecimento. Seu rosto parecia familiar apesar da barba cheia que camuflava sensivelmente os traços fisionômicos. A maneira de falar e o modo como se referia ao meu trabalho enquanto escritora, era quase garantido que nos conhecíamos de algum lugar.
Onde?
A moça, que o acompanhava estava em sintonia com o assunto e deixava transparecer a alegria por conversar comigo. Foi quando escapou da boca do rapaz a frase “ Sarau na Uneb”.
Eureka! Era o rapaz que falou comigo em certa ocasião quando absorvida na contemplação de um cajueiro, aguardava o horário para o meu curso de inglês em um bairro nobre da cidade.
- Você, é o rapaz que conversou comigo. Disse e imediato obtive a resposta afirmativa.
- Aquele dia, me rendeu uma crônica.
Sua expressão tranformou-se em surpresa.
- Você estava tão absorvida na contemplação do galho do cajueiro que caía do muro do vizinho, que me chamou atenção. Ele falou.
Agora escutando-o, compreendi o motivo da mobilização do moço em falar comigo, naquela manhã ensolarada. Imagina quanta abstração para levantar curiosidade. Fiquei ao mesmo tempo rubra de vergonha e vaidosa. Estava alí, diante de mim, o moço que a nove meses atrás, ao saudar-me, tratou-me como escritora. A emoção foi tamanha que escrevi um breve relato, gravei e postei em minha página do Alacazum palavras para entreter no you tube.
A ida dele na pizzaria, um acontecimento inusitável, destrambelhou em mim uma compulsividade em falar. Eu queria dizer tudo que senti naquele momento quando ele me considerou escritora sem me conhecer amiúde. Eu precisava mostrar-lhe o resultado da minha produção literária. Ele tinha que escutar a minha voz, dizendo somente a verdade da minha alegria. Peguei o dispositivo móvel e busquei anciosa o meu canal. Lá estava. Abri.
Que sensação estranha poder mostrar para alguém que me inspirou, o texto, fruto desse encontro, mesmo que seu nome não seja citado na composição. Sim, até aquele momento só ele me reconhecia.
Naquele momento isso não contava para mim.
Quem importa o nome?
Após apreciar o vídeo, ele disse:
- Você ganhou mais um seguidor, Celeste Martinez. Gostei do seu canal.
O mesmo falou a moça que o acompanhava.
Quando eles sairam eu fui novamente bisbilhotar o vídeo em que relato o encontro, agora com novo olhar e um novo sentimento de conforto por ter resistido e construído a minha marca em mim mesma. Para chegar a síntese em ser poeta, escritora, artista, eu tive que trocar o manual de instrução por uma verdade que é só minha ou como diz os versos de Fernando Pessoa “ retirar as tintas com que me pintaram os sentidos e ser eu” . Eu, a escritora, Celeste Martinez.


Valença, Bahia, 28 de outubro de 2017

Crônica Cotidiana de Celeste Martinez

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Sexta-feira, 13 de outubro de 2017, 17:30. Após degustar a deliciosa pizza dos Martinez em companhia da neta Dindi, esta diz:
- Vó, vamos para a praça?
Seguimos pela rua Quintino Bocaiúva, caminho da Praça da República. Aproveito nesse instante para testar a minha competência enquanto avó. Em silêncio vou conduzindo-a até a faixa de pedestre e ela reconhece que somente ao sinal verde é que pode passar. Mantemos as mãos dadas e basta colocar os pés na praça para que ela, pergunte:
- Onde está os brinquedos?
- Não tem.
- Ó não! Foi a expressão de decepção acompanhada de um bater dos pés e cruzamento dos braços.
A neta tem a facilidade de afugentar dores com novas investidas, imediato avistou o pequeno espaço destinado aos sketistas e correu naquela direção, mobilizada principalmente pela presença de crianças.
Ficamos. Imediatamente pus-me a observar e constatar que a Praça da República é a mais frequentada e todavia não oferece nenhuma alternativa de diversão gratuita para esse público infantil.
A área reservada para os sketistas nas horas vagas, congrega crianças na faixa etária entre 2 a 7 anos de idade que re-adaptam as estruturas de cimento e ferro em novas investidas de diversão. Uma pequena inclinação encimentada serve como tobogã. É nessa barra de concreto que as criançinhas depositam suas energias imaginando-o brinquedo.
A neta, que vive em outro estado brasileiro, está acostumada a frequentar praças com instrumentos pedagógicos dos mais diversos.
No caso, da cidade de Valença, Bahia, não é exatamente uma praça que temos e sim jardins. A praça da República, antigamente era chamada “Jardim Novo” e a Praça Ademar Braga Guimarães, de “Jardim Velho” ou seja adotamos a nomeclatura de praça que não se adequa ao seu desenho arquitetônico.
Será que o remanejamento do nome foi para excluir a função de jardineiro?
Povoa em nosso imaginário uma ideia de praça metamorficas. A Praça da Independência, não tem árvores, bancos, grama, canteiros, etc , mesmo assim é considerada praça. A praça 2 de julho, se resume a um diminuto canteiro que nos meus tempos de menina, caminho à antiga Escola de Aplicação Anexa, abrigava um frondoso jambeiro. A praça Oliveira Brito, é um enorme galpão onde abriga barracas dos vendedores da economia informal.
Enquanto a neta se alegrava com tão pouco, eu, analisava a paisagem em volta. Praticamente aquele logradouro público era o ponto principal da cidade em termos de encontros. Alí estava o Teatro Municipal, abandonado, aguardando que o tempo lhe corrompa o corpo para em seu lugar ser erguido uma caixa de concreto. O conjunto de sobrados, pouco a pouco desintegrando-se sem quaquer interesse de seus donos em reativar sua fachada, sem consideração com o patrimônio arquitetônico da cidade todavia amparados pela Constituição Federal em seu artigo 5°
Direcionei o olhar em um ângulo de 360 graus em toda praça e avistei a fonte luminosa.
Luminosa?
Onde?
Notava-se sim, alguns tubos, expelindo jatos de água sem algum atrativo.
A neta perguntou se a água estava limpa por que lhe pareceu escuro o fundo. A praça é mal iluminada e sem cuidado. Somente em determinadas datas: São João e Natal, enche-na de algum ornamento, muitas vezes sem critérios de beleza e estética.
Um menino se distanciou dos demais e foi até onde estava uma estrutura de ferro circular que supostamente serve como base para o pula-pula, que alí funciona como alternativa de lazer privado. A única distração. A neta Dindi, seguiu os passos do garoto, mais imediato foi advertida por mim que podia se ferir com as pontas de ferro e pregos, observado alternativamente em sua base.
Exatamente naquele local onde fica o pula-pula sentir um mal cheiro nauseabundo. Uma mescla de vômito, fezes e urina. Eram os banheiros químicos instalados no espaço reservado a estacionamento para a caravana da saúde que visita a cidade.
Quanta falta de sensibilidade. Não é nada elegante para quem chega à cidade e se depara com restaurantes, sorveterias, padarias, bares, lojas diversas, ser recepcionado por esse mau cheiro. Eu que tenho a mania de potencializar tudo, só em aborver esse tipo de fedor, imagino que tudo pode estar contaminado em torno.
Já deveríamos ter um espaço extra, fora do perímetro urbano destinado a eventos e que também pudesse abrigar os circos.
Quando a neta, retornou ao lugar onde as crianças brincavam de parque, um grupo de skeitistas já estavam ensaiando os primeiros passos. Um sobe e desce, um cai, levanta, que presenciei uma tragédia anunciada. A única opção foi ir embora.
Diante da configuração de pensamento que ainda perpetua na cidade e sem alguma chance
de mudança quanto a um projeto, onde seja possível acrescentar equipamentos recreativos e contemplativos, como playgrounds, bancos mais harmoniosos nas praças, ainda me resta a força interior e os exercícios diários que me confere adaptar a lei de Darwin ao dia a dia. Diante dessa configuração de “não-políticos” que exercem a ladroagem utilizando-se da res- pública, a exemplo dos tantos casos que foi divulgado pela imprensa, já não me cabe mais pensar na “esperança”, essa dita cuja que dizem ser a “última que morre”. Foi por acreditar demasiado nela- a esperança - nesses últimos 30 anos, que se apropriou dos nossos pensamentos e corpos a domesticação e docialidade, deixando-nos sempre a mercê do norte, desses, desses, desses...


Valença, Bahia, 13 de outubro de 2017

domingo, 6 de agosto de 2017

11 anos do Alacazum no dia 3 de setembro de 2017


Apesar do Alacazum palavras para entreter não ser mais transmitido ondas eletromagneticas através do rádio, ele, exite. Por isso, no dia de seu aniversário - 3 de setembro - comemoraremos em parceria com a Pizzaria Os Martinez os 11 anos de existência desta ideia, chamada Alacazum. Teremos música ao vivo, declamações de poemas com Celeste Martinez e muitas crianças. Você é nosso convidado/convidada.

Comemoração dos 11 anos do Alacazum e 7 anos da Pizzaria Os Martinez



Cartazes criados pela escritora Celeste Martinez para a festa de comemoração dos 11 anos do Alacazum palavras para entreter e 7 anos da Pizzaria Os Martinez. Dia 3 de setembro de 2017, domingo, às 19:00 h, na Pizzaria Os Martinez da rua Quintino Bocaiúva, 57 centro, acontecerá a entrega dos prêmios do IV Concurso de Desenho Livre para crianças, promovido pela família Martinez em parceria com o Alacazum.

3 de setembro: 11 anos do Alacazum palavras para entreter


Quando fiz manualmente este cartaz com a logomarca do Alacazum palavras palavras para entreter, foi na tentativa de conservar a sua memória. Mesmo sem a possibilidade de transmissão via ondas eletromagneticas através do rádio, o Alacazum existe como projeto. A criação do Concurso para crianças em parceria com a Pizzaria Os Martinez, manterá a ideia em outra esfera de realização. Quiçá, possamos incrementar momentos de entretenimento ao vivo com uma seleta platéia. No demais, é viver a cada momento. Alacazum para você, que ler esta postagem.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Eu, Celeste Martinez, participo da Antologi: Às margens férteis do Rio Una


Impressionante a forma como as coisas acontecem na minha vida. Quando insisto em novas atividades e termino por "morrer na praia" surge a fênix. Este trabalho fotográfico que fiz no mês de agosto do ano de 2016, quando do corte da sécular Castanheira-do-Pará, acontecia ao mesmo tempo,  inscrições para o concurso desta Antologia. Enviei e fui aprovada. Neste momento, em minha vida, este presente, é muito importante. Creio, que também para os cultivadores da memória. Só tenho a agradecer ao professor Gilson Antunes, pelo incentivo para que eu participasse. Obrigada.

Memória do Alacazum palavras para entreter


Estou postando este arquivo, retirado do informativo "O Farol" da amiga, Carol Magalhães, datado do ano de 2006, para confirmar os 11 anos de existência do programa radiofônico Alacazum palavras para entreter. Não acreditei quando vi o video de divulgação da emissora que hospedou por 3 meses o Alacazum - desde o dia 3 de setembro de 2006 à dezembro de 2006-
Eles, estão comemorando 10 anos de emissora de rádio comunitária quando deveriam estar comemorando 11 anos.
Quem nasceu primeiro o Alacazum ou a emissora de rádio?
Está aí o registro do informativo que não me deixa mentir.

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

 Postado em minha página do Facebook, dia 21 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Quando na segunda-feira, 19 de junho de 2017, passei pelo Calçadão e constatei o esvazeamento de vendedores ambulantes, percebi logo, que algo drástico foi feito para “solucionar” as inúmeras críticas e insatisfações quanto a permanência daquelas trabalhadoras e trabalhores naquele local. Agora, retirar do Calçadão, para a Praça da Independência, menos de 50 metros de distância, na minha opinião tem a mesma conotação do provérbio popular: despiu um santo para cobrir outro.
Então, o que se percebe é :
“ o que não tem remédio, remediado está ”.
O que me aflige quando vejo o despreparo com o trato com o povo trabalhador é que não existe planejamento. É que só existe um esdrúxulo, plano A
Instalou-se nestes últimos meses um ódio virulento contra estes ambulantes como se sua expulsão fosse a medida perfeita de profilaxia.
Valença, Bahia, se resumiu no Calçadão.
Só vejo a expulsão dos ambulantes como solução, se resolvessem descentralizar o centro comercial.
Mais isso é impossível. Valença, Bahia, ainda vive o pensamento retrógrado em que a medida de crescimento é balizada de um poste a outro. Da casa de fulano até a casa de sicrano.
E o centro, é o Calçadão.
Por que o centro não poderia ser na periferia, abrindo um novo horizonte?
Governos anteriores, tentaram expulsar os ambulantes da Rua Dr. Rocha Leal, sem êxito.
Será inútil medidas que queiram organizar a área urbana. Por que Valença, Bahia, é fruto de uma colonização desorganizada. E não é o povo, o principal culpado. Por que antes do povo, vem o senhor de engenho, vem o dono da fazenda, vem os donos das terras do Una. Quem disse para o peão, construa minha casa aqui, foi o patrão. Quem disse para o escravo, lance estes toneis de excrementos humanos no Rio Una, foi o senhor de engenho.
O Calçadão, ficou sendo a verdade do centro comercial , que esquecemos que é espaço público.
E que a economia informal só pode se sustentar circulando nele.
O feio do Calçadão, não são os vendedores ambulantes com suas verduras, frutas, licores, brinquedos de madeiras, mariscos, artesanatos, etc.
O feio do Calçadão, é o piso, a falta de drenagem, o excesso de fiação, o desajuste das fachadas com suas propagandas. A deselegância nos acabamentos.
Se a questão, destas pessoas que pressionaram para uma tomada de decisão, na expulsão dos ambulantes do Calçadão, é o bem da cidade, então, que se inicie campanha para a erradicação do lixão, que está no Orobó, a revitalização da feira livre, um espaço físico novo, para o mercado do peixe, que se reclame o plantio das mudas que o Municipio firmou no ano passado, com o Ministério Público no termo de ajuste de conduta- TAC-, quando do corte da Castanheira-do-Pará, que se manifeste o desejo por tratamento de esgoto da cidade, uma biblioteca pública com espaço próprio, calçadas dignas para os transeuntes, etc.
A questão da insatisfação, na permanências dos vendedores ambulantes, no Calçadão, passa por fatores de gerenciamento de espaços públicos.
Onde está o Plano Diretor da cidade de Valença, Bahia ?
Existe?
Enquanto a Praça da República se veste para a festa junina, em uma época em que o comércio como um todo é beneficiado economicamente, uma náusea de tristeza paira sobre os trabalhadores da economia informal. Entre despir um santo para cobrir outro, só resta a música: Isto é lá com Santo Antonio.
E Valha-nos, São João e São Pedro! 


Valença, Bahia, 21 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

 Postado em minha página no Facebook, dia 11 de junho de 2017


Crônica cotidiana de Celeste Martinez

A míni biblioteca, estava lá, aguardando-me, para arrumá-la. E eu, postergando.
Acontece que iniciei esta atividade, faz dois meses ou mais. Pego um livro aqui, outro acolá e eis que “aquele dito cujo” que a tua cabeça naquele exato instante sinala que você não leu, obriga-te a parar. Sentar só um pouquinho para ler a orelha, entrar pelo corpo de mansinho.
E quando vejo-me estou novamente lendo Madame Bovary de Gustave Flaubert, depois Bachelard, Borges, João do Rio, Lima Barreto.
Hoje, manhã de domingo, é um excelente dia para esta tarefa. Prometo que desta vez, vou demonstrar total desprezo por todos eles, até os antipáticos didáticos.
Fui à estante onde perfilam juntinhos, 18 volumes da Enciclopédia Barsa. Estes, foram conquistas, juntamente com mais quatrocentos e tantos outros, parte do Edital Pontos de Leitura em homenagem a Machado de Assis, Promovido pelo Governo Federal, através do MinC, no ano de 2008, que concorri com o Alacazum. Quando o caminhão bateu à minha porta eu estava na casa da minha mãe e o vizinho que sabia o número do meu telefone, avisou-me. Nem acreditava nos 600 volumes que chegaram. Entre eles a Barsa. Fiquei com tanto medo na época que me roubassem que fui até o Banco, para assegurá-los. Mais acontece que não existe seguros contra roubo de livros. Todos riram da minha cara. Dormir por várias noites na Biblioteca com medo que os roubassem. Até hoje , “ Só a menina que roubava livros” e esta é uma história muito triste.
Pesados, capa dura, quantos conhecimentos guardados.
Para quê?
A tecnologia, atualmente nos deu a enciclopédia eletrônica- wikipédia- escrita a mil mãos.
Ninguém mais acredita na fonte da Barsa. Recordo agora que em uma edição do Alacazum eu esqueci desta tal tecnológia ambulante e fui pesquisar na Barsa. No dia que o programa foi ao ar e fiz a pergunta fui contestada com outra resposta. Não convergia com os meus dados. Evidente. O movimento. A atualidade é dinâmica. Cair em apuros.
Estou passando um felpuldo pano sobre sua capa, um por um. Olho o relógio, quase 14 h. Hora de parar para fazer o almoço. Novamente deixo os livros sozinhos e saío da míni biblioteca. E quando vejo: A Poética do Devaneio, de Bachelard, agarrado à minha saia. Desculpe-me, desta vez foi ele que acenou para mim. 


Valença, Bahia, 11 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

 Postado na minha página do Facebook, dia 10 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez


Seguindo um rito de postagem diária, infelizmente no dia 9 de junho de 2017, infligir esta rotina. Adoeci. Abateu-me uma fraqueza, apatia, desânimo. Era vísivel para o outro que me enxergava. Um cliente na Pizzaria chegou a dizer:
- A senhora está muito abatida, dona Celeste.
Sim, atribuir a gripe. Pois corizava. Quando cheguei em casa passando das 23 h o corpo só pedia cama.
E o meu tradicional café?
Beberia?
Não.
Em casa, tinha uma única maçã na fruteira.
Pensei: Vou comê-la.
Pronto. Obedeci a intuição.
Comi a maçã e cair na cama.
Não como a Branca de Neve. É por que a maçã, é antibiótico natural.
Levei junto uma garrafa de água.
E assim fiquei.
No outro dia, a mesma moleza, a mesma vontade em não querer fazer nada. Sair então para comprar alguns itens ou um Kit sobrevivência. Fui ao supermercado mais próximo de casa. Comprei: mel, maçãs, água, batata doce.
Seguia novamente a intuição.
Parece que escutava a voz da minha avó, descendente dos Tupinambás a me dizer o que fazer.
Fiquei assim durante toda a sexta-feira, na cama, comendo maçã e bebendo muita água.
Os rins funcionaram normalmente. Era um bom sinal. O mesmo aconteceu com os intestinos.
Neste espaço de tempo recebo presentes-antídotos, que complementariam a minha dieta. A amiga Jéssica, pessoalmente vai levar-me laranjas, folhas de laranjeiras e folhas de pitanga. Todas colhidas por suas delicadas mãos. Todos estes preciosos remédios, vindo da flora natural, estavam destinados a mim.
Que pessoa sortuda, eu sou!
Hoje, manhã de sábado, sinto-me recuperada.
O que quer que seja que quis se apossar do meu corpo, foi embora.
Entre as forças invisiveis do mal e a coragem por enfrentá-las , eu sempre fico com a segunda.
Horácio Martinez, chegou a me dizer esta manhã: Você, é uma pessoa muito forte.
Isto me fez lembrar um ouvinte-leitor Alacazum que foi me visitar dias depois que soube que o programa não mais iria ao ar. Ele disse:
- A senhora deve ter um complemento, para resistir tanto.
Força, complemento, o que quer que seja não importa a designação, são apenas nomenclaturas. Dentro de mim, existe uma ordem, uma operante ordem, que me exige seguir. E seguir sempre em frente.
Valença, Bahia, 10 de junho de 2017


Presente-antídoto da amiga, Jéssica Santos

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

 Postado em minha página no Facebook, dia 8 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez


Descia a ladeira do Porto, na calçada que dá acesso a casa lotérica. Encontro um rapaz, que frequenta sempre o rodízio dos Martinez . Sua fisionomia familiar. É um destes jovens estudantes. Não sei o nome dele. Ao vêr-me, saudou e ganhamos caminho juntos. O diálogo, avançou fluente. Não tenho certeza se o debate filosófico partiu do momento em que ele perguntou como eu estava ou se fui eu que ao perguntar ele respondeu com uma palavra xis. Foi esta palavra que proporcionou o “Galope à beira - mar”.
Fé, resiliência, coragem, resistência, preguiça, estudar, trabalhar, fome, etc.
Tem que ter fé. Mais fé que esperança. Ele disse.
E por quê?
Por que a fé remove montanhas.
E a esperança, é capaz de voar.
Esperança, é liquída. Poética. Dúbia.
A fé, na unidade da língua portuguesa, é tão condensada que é capaz de abrir uma clareira, uma fenda.
E a resiliência não soa como conformismo?
Não.
Por quê?
Resiliência tem um pouco de resistência e perseverança.
Conformismo não flui com a água. Conformismo é o maior dos paradeiros. Não vai a lugar nenhum.
Hummm!
Falou-me que passou quarenta dias e quarenta noites a pão e água desde que chegou a Valença, Bahia vindo de São Paulo.
E você, resistiu. Eu disse.
Foi.
Isso não é resiliência?
È? Sim. Não sei.
Eu sou preguiçoso. Ele disse.
Por quê?
Não gosto de estudar. Aprendo tudo na sala de aula.
E isso é preguiça?
É.
Sou capaz de viver a vida inteira com as poucas coisas que tenho, sem desejar mais nada.
A isso, eu chamo, transcendência.
Aqui, é o meu trabalho. Ele disse.
Despedimo-nos.
Ele estava precisando falar com alguém. Por isso me acompanhou.
Quantos jovens, neste instante se sentiriam mais jovens se encontrassem ao longo do caminho alguém que escutasse ?
Mesmo que no breve diálogo, cortado pela pressa, não se diga tudo do que se tem guardado mas que fique o sentimento de ter escutado.


Valença, Bahia, 7 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

 Postada em minha página do Facebook, dia 7 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez


O Calçadão não é apenas lugar de passagem ou centro comercial onde todas as coisas são resolvidas. Alí, também é espaço para encontros.
Terça-Feira, chuvosa, 6 de junho de 2017, novamente deparo-me com colega de infância. Da mesma turma onde os nomes próprios e sobrenomes, foram guardados na memória como relíquias. Eu também sabia de cor o nome desta pessoa. Abraçamo-nos e levadas pela nostalgia, recuamos os corpos em uma das paredes de loja e iniciamos o bate papo que se tornou uma longa conversa. Histórias sem fim.
De repente quem eu vislumbro, vindo em minha direção?
Quem?
Quem?
Ela, a autêntica, dinâmica, corajosa, sorridente, competente, honesta, dedicada, delicada, inteligente, Maria de Lurdes. Personagem que eu inseri na minha crônica sobre o manjerição.
Lembra?
Pelo sorriso que trazia no rosto e pela menção em abrir os braços para o abraço, eu aspirei o ar como em um suspiro de alívio.
Ufa!
Após a publicação da crônica, vez em quando, batia na mente a advertência sobre aquele trechinho que dizia:
“Desde então, esta é a ducentésima vez que espio pela janela para averiguar a cara das pessoas que me visitam. Antes de abrir a porta, escondo a planta no quarto.”
Preocupava-me a reação das pessoas, principalmente Lurdes. Por mais que minha intenção seja sempre construtiva a gente não sabe o que nos aguarda.
Devo confessar que escrevi por expressão no uso das metáforas, eu não recebo ninguém em minha casa.
No entanto, a presença de Maria de Lurdes, naquele momento, contente e agradecendo, foi uma dádiva para o meu dia.
Graças, Maria de Lurdes, por ser compreensiva comigo quando escrevi a crônica sobre o manjerição.
Comentei o assunto com ela e esta entendeu perfeitamente. Estava ligada. Em sintonia desde os tempos do Alacazum.
Lurdes, é pura magia.
Apresentei-a a amiga de infância. As duas se cumprimentaram.
E daí a pouco, aproxima-se o sobrinho Vandic Coqueiro, acompanhado da esposa Dori. Assim que chegou, foi logo falando:
- E aí, tia, qual a crônica de hoje?
Rimos. Eu e Lurdes. O assunto agora são as crônicas.
A cidade está voltando a normalidade de pensar fluídos.
Precisamos de mais sorrisos e mais esperanças.
Queide?
Cadê?
Antes de nos afastarmos, Lurdes, em sua quinta essência, disse:
- Isso aqui junto, tudo isso, vai virar um bom caldo.
Virou. Uma crônica, com a essência do manjerição que plantei ontem.


Valença, Bahia, 6 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

 Postada em minha página do Facebook, dia 6 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez


Adentrei ao dito cujo Banco.
Ainda imperava a greve dos vigilantes da Bahia.
Banco entupido de insatisfações.
Que fila escolher?
Pergunta a um, a outra.
Posiciono-me.
Uma mulher, tonta, a procura de outra pessoa, para aliviar a sua pressa. Que apresentava-se mais apressada do que todas as pressas juntas. Pergunta:
- Você vai fazer depósito?
A resposta que ouviu foi negativa mais mesmo assim insistiu para que esta lhe ajudasse. Não sabia fazer depósito.
- Impossível, estou na fila de saque.
A pessoa, muito gentilmente, sugeriu que ela se posicionasse na fila de depósito e quando chegasse mais próximo, ajudaria.
Esta não escutou, ficou a perambular de um lado para outro.
Rodou, rodou e novamente, aproximou-se e disse:
- Cadê, o homem que estava aqui?
A mulher não sabia o que responder. Eu tão pouco. E esta:
- É que eu pedi para ele guardar o lugar para mim.
Moral da História: Guardar lugar em fila de Banco é tão confiável quanto a honestidade de “ alguns”.
O espaço de tempo entre a construção do breve relato, até alcançar o terceiro lugar na fila do caixa eletrônico, foi suficiente para emparelhar meu corpo com outra pessoa muito conhecida do meu rol de amizades, chega a ser parente.
- Olá, Dona Ana! Disse.
Ela balançou a cabeça afirmativamente. Não era uma Ana qualquer. Para estimular entrosamento e por que tinha feito amizade com a pessoa que ocupava a fila à minha frente, perguntei-lhe:
- Você, conheçe Dona Ana?
A mulher também balançou a cabeça confirmando.
- Ana, das Castanholas . Frisei.
A Ana, sorriu, satisfeita.
- Mais antes de ser Ana das Castanholas. Era, Ana dos Montes. Relatei com convicção por que sabia da história que me fora contada pela mesma. Ela continuava calada, estava compenetrada na ação que lhe levou ao Banco. Esboçava sim, a todo instante aquele sorriso fraquinho.
- Entre a Ana das Castanholas e a Ana dos Montes existe um longo trajeto. Há que descer dos Montes. E só Dona Ana sabe o caminho. Eu disse.
Ela, desta vez, esboçou um amplo sorriso de um lado a outro no rosto. Mais continuava calada.
A amiga, dos poucos instantes, escutava atentamente as minhas palavras, foi quando soltou, olhando para mim:
- E você, é a senhora Martinez!
- Como sabe? Perguntei-lhe
- Pelo programa de rádio.
- Não tem mais. Eu disse.
E ela:
- Eu também não escuto mais rádio.
O diálogo, encerrou-se alí. Ana, segiu para o caixa eletrônico a minha direita e a recém formada amiga, segiu para o caixa logo em frente. Enquanto eu...


Valença, Bahia, 5 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

 Postada em minha página no Facebook, dia 5 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez


Desde que iniciei atividades comerciais a seis anos, passei a interessar-me por verduras. Entre estas, o manjerição, tem sido a minha maior ambição em cultivar. Inicialmente, comprei uma muda e plantei no fundo do quintal de casa. Começou a se desenvolver, floriu, retirei alguns galhos para consumo e súbito, murchou e morreu.
Noutras vezes, amigas e amigos, escutando meu interesse pela plantinha, ofertaram-me um pé e re-inicio o cuidado direto no caqueiro.
De novo, a mesma campanha e os mesmos sintomas aparecem até o desfalecimento e perda.
Quando da vinda da primeira exposição de flores à nossa cidade de Valença, Bahia, sediada à Praça da República, comprei uma muda de manjerição roxo.
Desta vez, disse para mim mesma que faria diferente: comprei caqueiro, terra vegetal e empreitei no cultivo. Durou três meses. Ficou vicoso, revigorado, floriu, desfrutei de alguns galhinhos e agora, deparou-me com a planta, murcha e morta.
O Pastor Abimael da Primeira Igreja Batista em Valença, ofertou-me recentemete um vaso, com exuberante manjerição, verdinho, folhas largas, belo. Até o momento, eu de longe contemplando e observando qual melhor lugar para acomodá-lo. Dizem que gosta de lugares arenosos, com bastante luz. Acato cada dica com carinho. No fundo, no fundo, temo pela vida da plantinha.
Suspreendente foi a conversa que tive com a amiga Maria De Lourdes Silva, quando visitou a nossa Pizzaria. Falando de uma coisa e outra, surgiu o assunto do manjerição. Foi quando:
- O manjerição é sentimento. Disse Lurdes.
Foi a primeira vez que escutei alguém falar sobre isso. Sim, tinha coerência.
E ela foi explicar-me que a planta absorve sentimentos negativos.
- Presta atenção quem entra na tua casa! Advertiu-me.
- Será?
Lurdes, falava com propriedade de quem já viveu. E eu, acatei a informação.
Não custa nada, averiguar . Desde então, esta é a ducentésima vez que espio pela janela para averiguar a cara das pessoas que me visitam. Antes de abrir a porta, escondo a planta no quarto.
Até o presente momento, em escrever esta crônica, o manjerição continua vivo, verdinho no caqueiro. Agora resta-me saber se sobrevive, por que foi presente do Pastor ou as sugestões de cuidados, transmitidas a mim pela amiga Maria de Lurdes. 



Valença, Bahia, 12 de maio de 20117

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

 Postada na página do Facebook no dia 4 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Abro os olhos.
Amanheceu novamente.
O cérebro, imediato diz: sábado.
Como relâmpago uma lista de atividades passa, apitando rotinas.
Mesmo da cama, olho para a janela inda fechada. Hoje, o amigo Sol, se intimidou com a mamãe chuva e escondeu-se por trás do horizonte, deixando apenas alguns dos seus longos dedos descobertos.
Escuto a precipitação, através da vibração que caí por sobre a pitangueira no quintal e em cima do toldo. Levanto-me. Abro a janela. Meus olhos não são magoados com a intensidade da luz. Esta manhã, é só cinza. Retorno para cama. Ainda estou dentro do prazo de não fazer nada. Deito-me. Espreguiço-me.
Escuto os pássaros que chegam, alertando-me com seus gritos-cantos, que é hora de ofertá-lhe a fruta. Quase sempre, bananas. Continuo na cama. Mais a insistência do Bem-te-vi, aflige-me. Penso: está com fome. Saio da cama. Desco as escadas. Abro a janela que dá cesso aos pássaros.
Quando busco o alimento, cadê?
Havia terminado. Só uma tímida goiaba, pousada no prato. Lavo, parto-a ao meio e deposito na plataforma que fiz para esta finalidade.
Não tenho mais vontade de voltar para cama. Sento alí mesmo perto da mesa e aguardo os pássaros. Gosto de observá-los comendo e analisar seus comportamentos e as hierarquias estabelecidas.
Chega o ousado Sabiá-Laranjeira, todo prosa. Sempre o primeiro. Encara-me. Ele sabe, que eu estou alí, espreitando-o. Lança sobre mim o pontudo olhar. Vê a goiaba e nem dá bola. Voa. Que estranho. Logo o Sabiá- Laranjeira, tão comilão.
Agora é a vez do Bem-te-vi.
Primeiro, pousa na roseira, depois pula para pitangueira. Um tempinho olhando para um lado e para o outro. Encara a goiaba apenas e depois vai embora.
Aguardo mais um pouco, até que outros pássaros, apareçam. Chega o guriatã, sanhaço cinzento, sanhaço pardo, sanhaço de fogo, sanhaço escarlate, a fêmea do tiê sangue, o curió. Todos se recusam a comer a goiaba.
O que está acontecendo com os pássaros ?
Ou será com a goiaba?


Celeste Martinez


Valença, Bahia, 20 de maio de 2017

sábado, 3 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Publicado no Facebook dia 3 de junho de 2017

Sentada, em oficina, localizada à avenida Alisson Magalhães de Freitas ou avenida Beira Mar, na cidade de Valença, Bahia, aguardando o conserto da motocicleta, quando percebo que a pilastra de cimento, era divisória do olhar, aquela sucinta paisagem em um ângulo de cento e oitenta graus.
O Una, na estreiteza dos meus olhos, era apenas uma unidade da língua.
Não era o rio de turvas águas sujas, nem o rio atormentado.
Eu não via o Rio Una.
Eu via o Rio Branco, fechado. Como sinal da sua não mais existência.
Lembro, então do Alacazum e sua retirada do ar no dia 29 de janeiro de 2017 e após, quantas tormentas caindo sobre a cidade.
“ Yo no creo em brujas pero ...”
Alí, onde estão instaladas as inúmeras barracas dos trabalhadores informais, vulgo camelôs, é uma Praça.
Qual é mesmo o nome dela?
O Prédio do Poder Legislativo, antiga residência do Comendador Madureira, situado à rua homônimo, dizem as más línguas, está “ pra caír”.
Será?
Não creio que os nobres edis, usuários por direito, de tão nobre patrimônio, permitirá que as traças sejam mais operantes.
Bem, Valença, tem este prazer exarcebado por demolições.
Aqui, velho, é sinônimo de atraso.
Joga, fora no lixo? Escuto a música no carro.
Vejo um homem, entornando um líquido no Una. Lá do outro lado da margem onde ficam as canoas.
A Flamboyant, bem em frente, rente a pista. Em torno dela, não mais um canteiro, monturos de resíduos sólidos. Pobrezinha!
Um homem, passa, levando no cabresto, um bezerro.
Carros, bicicletas, motocicletas, pedestres, pedestres e mais pedestres.
Estico o corpo e vejo a lateral da Igreja do Sagrado Coração de Jesus ou Igreja Matriz, precisando reforma do telhado e das paredes.
Quem se comoverá com o Sagrado?
A sirene de alerta do caminhão em sua difícil manobra, nos adverte.
O céu todinho azul esmaecido com escassas nuvens, nos adverte.
Um homem, com a barriga estufada, carregando pesadas sacolas plásticas, nos adverte.
O caminhão, que segue via avenida Marita Almeida, carregadinho de toras de madeiras, nos adverte.
O painel que divulga propagandas, fixado bem na esquina entre a Ponte Luiz Eduardo Magalhães, doutor Rocha Leal e Barão de Jequiriça, nos adverte.
O carro forte todo amarelinho que atravessa a Ponte, nos adverte.
O grande kiskadi, com seu canto estridente, provavelmente, pousado na fiação elétrica, nos adverte.
A cidade, nos fala o tempo todo e mesmo assim nos acidentamos.
Mesmo assim, esquecemos o outro. Nosso vizinho.
Mesmo assim, esquecemos que o Una, é gente.
Eu, aguardando o atendente da oficina como finalização da crônica.
- O da senhora, tá pronto, venha! Disse o mecânico.



Valença, Bahia, 2 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Publicado no Facebook dia 2 junho de 2017

Foi alí mesmo no Calçadão, cruzamento entre as ruas Ruy Barbosa, Conselheiro Ferraz e Marques do Herval, na cidade de Valença, Bahia, que encontrei o amigo, José Carlos. Elegantíssimo. E olha, que estava de uniforme. Seguia para o trabalho. A bicicleta, como acompanhante. Saudamo-nos e inevitavelmente, parei para o breve diálogo corriqueiro. Agradeci por sua sensibilidade em curtir e comentar as minhas crônicas. Foi quando este, olhando em volta, disse:
- Por que você não escreve sobre o Calçadão?
Justo naquela manhã, dia 31 de maio de 2017, publiquei uma crônica cuja abordagem foi este assunto. Ele então, sugeriu outra coisa:
- Por que você não escreve sobre o Rio Branco?
Para quem não é da cidade, devo esclarecer que Rio Branco é uma rede de supermercado que se instalou na cidade de Valença, Bahia, a muitos anos e por esta ocasião em que falo com o Zé, está ocorrendo o trágico fato de seu encerramento, com demissão em massa de muitas trabalhadoras e trabalhadores. Uma lástima. Zé, trabalhou nesta empresa por mais de vinte anos. Quando me sugere o tema, com toda certeza, sabe que é uma forma de registro histórico importante.
Por todos estes dias, desde o primeiro fechamento da filial no Calçadão, quem trafega naquele local, fica constrangido em olhar e até passar em frente. Um sentimento de pesar.
Realmente, é muita tristeza, saber que muitas famílias ficarão desamparadas. Perde a cidade como um todo. Eu, que passei a comprar em outras lojas, escutei inúmeros comentários de pessoas que eram clientes de carteirinha.
Uma senhora , que assim como eu, aguardava na fila da carne, reclamava o tempo todo. Parecia deslocada do nicho na intimidade com o atendende e falava bem alto para que todos escutassem:
- A carne melhor era do Rio Branco!
Particularmente, de todos os supermercados existentes na cidade, este foi o que fiz mais amizades.
Primeiramente, com a amiga Clenildes. O tema que nos uniu foi o Alacazum. Quando por lá passei, no ano de 2007, para deixar um ofício solicitando parceria- que nunca aconteceu – Não por culpa dela. Ela bem que encaminhou para a sede em Santo Antonio de Jesus. Não foi possível a parceria com a empresa mais aconteceu a parceria na divulgação. Foi Clenildes, quem mais divulgou o Alacazum. E se espalhou entre os repositores, caixas, empacotadores, padaria, limpeza, etc... Um deles foi João, que se intitulava “O Poeta Açogueiro “, que passando a escutar o Alacazum, soube do Concurso de poesia em Jornal local. Participou e como prêmio, teve sua poesia publicada. Creio que isso contribuiu para a sua ascensão no trabalho. Eu entrava no supermercado e já vinha gente conversar sobre o programa, trocar ideias. Todos aqueles funcionários, de uma forma inusitável faziam um atendimento diferenciado, quando não apenas um sorriso felicitava, mais uma vontade de ajudar, de ser útil. E isso foi cativando. Com muita gente acontece o mesmo. O tratamento, contribui muito para preferência.
Enquanto conversava com José Carlos, naquela extremidade do Calçadão, onde ele seguia para a outra filial, prestes a fechar, eu não notava desanimo, no seu caminhar. Cabeça erguida, olhar para frente.
Infelizmente, estamos passando por momentos díficieis na esfera mundial. Como se dizia antigamente, esta é a prova dos nove fora. De alguma maneira, espero que estas trabalhadoras e trabalhadores, desempregados, encontrem novos meios de subsistência e que a lógica da sobrevivência aos poucos retorne ao seu ritmo normal.
Normal?
Nem tanto. A cidade, sofreu um desequilibrio em sua economia e mesmo sabendo que os antigos espaços serão ocupados por novos empreendimentos e nós, filhas e filhos, desta engrenagem consumista, retornaremos como novos clientes, por alguns meses da próxima estação, relembraremos o que foi aquilo. Recordaremos os rostos, sorrisos e atendimentos. Mas aos poucos, assim como a ideia de perda, será substituida, quiçá por “uma saudade”, ou “aquela saudade”. A cidade de Valença, tem a facilidade de apagar para sempre a memória física material de sua história. Quanto as pessoas? Se não tem outros para contar, propagar o vivido, com certeza, seremos , todos, esquecidos.


Valença, Bahia, 2 de junho de 20

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Publicada no Facebook no dia 1 de junho de 2017

Por várias vezes, sempre que transito, motorizada, direção ao centro da cidade de Valença Bahia e se aproxima à rua Juvêncio de Rezende, cruzamento com a rua Raul Malbisson, bairro São Félix, o fluxo de automóveis trava.
Devido a maior mobilidade da motocicleta, escapo pelo caminho do meio, com aquela alegria de ter tirado vantagem da minha astúcia, entretanto quando alcanço a Ponte Luis Eduardo Magalhães e olho para o outro lado, sentido Ponte Inocêncio Galvão de Queiroz, frusto-me. Não existe mais engarrafamento.
Penso: da próxima vez , vou bisbilhotar o que provoca, esta parada súbita naquele trecho. Esqueço.
Repito a ação de fugir pela tangente e só na ponte, novamente, é que vou lembrar.
Escrevo esta crônica para avivar algum detalhe desta vivência no trânsito, já que esqueço de lembrar em trânsito.
Será o transporte coletivo?
Será desembarque de mercadorias?
Será motorista conversando com alguém?
Será cortejo fúnebre?
Acidente?
Um trator em ritmo tartaruga?
Será um imprudente motorista que segue em marcha lente conversando no celular?
Ou será a minha impaciência em querer ganhar tempo?
As vezes a gente, de tão envolvida com o corre-corre da rotina, estabiliza na mente um cronômetro que regula todas as nossas ações em função do capital.
A sensação é de que estamos perdendo tempo como se o tempo fosse um líquido que perdido não se contabiliza mais.
O tempo, no entanto é uma enorme redoma que cobre a humanidade com diferentes temperaturas em algumas regiões mas com a mesma dimensão de eternidade.
Nós, com a falácia de que tempo é ouro, modificamos o nosso bio-ritmo, ultrajando o tempo humano de vivências em detrimento da exigência de funcionamento de consumo da máquina capital.
Estamos em um ritmo que não condiz com a nossa capacidade material de mobilização. Por isso, minha frustação, todas as vezes que escapo pela tangente no intuito de ganhar tempo, não resulta em ganhos. Automóveis, foram feitos para encurtar distâncias mais resultaram em aglomerações de latarias, que pertubam constantemente a nossa locomoção, no trânsito.

Valença, Bahia, 12 de maio de 2017 Celeste Martinez

quarta-feira, 31 de maio de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Publicado no Facebook dia 31 de maio de 2017

É costumeiro escutar críticas sobre o centro do comércio em Valença Bahia, mais conhecido como Calçadão ou extensão da rua Governador Gonçalves. A maioria que reclama, deposita a sua insatisfação às trabalhadoras e trabalhadores informais que alí estão.
Bagunça, é o adjetivo mais usado.
Recentemente, notei, que estes vendedores ambulantes, foram organizados ou seja foram enfileirados, deixando duas vias de circulação.
Poderia ser denominada esquerda e direita?
Mão e contra-mão?
Fiz um pequeno teste visual me posicionando logo na entrada e gostei da distribuição. Notei inclusive que o espaço ganhou mais vendedores depois da arrumação. Agora, temos artesãos.
Quando, no entanto, abaixei os olhos. Quanta frustação. Eram poças e mais poças d'águas.
Então constatei que o problema do Calçadão, não são as pessoas mais humildes que alí estão, tentando sobreviver honestamente. É a feiura do piso. A falta de planejamento.
Onde já se viu um centro comercial sem escoamento de água?
Se olhar para cima também ficaremos horrorizados com os inúmeros fios amontoados e o descompasso na programação visual das fachadas das lojas.
Não, eu não creio, que a feiura do Calçadão sejam estas mulheres e homens que dispensam o seu tempo em vender o melhor.
Sim, alí, você encontra, o maior coco seco, a mais bela banana, o mais cheiroso caju, o mais vermelho caquí, as mais apetitosas uvas, o mais azedo umbú, o mais nostálgico brinquedo de madeira, o mais pirata dos filmes, as maiores variedades de temperos verdes.
Para quê mudar isso?
É cultura!
Quando Oswald de Andrade, criou o Movimento Antropofágico na década de vinte, agitou com seu manifesto no meio artístico a questão para a identidade brasileira. Era o fervilhamento do modernismo. Mais este como movimento de ruptura dos padrões estéticos da arte tradicional, durou pouco. Ainda estamos impregnados com o eurocentrismo. Ainda impera o desejo de conhecer a Europa como padrão de viagem internacional. Continua a tendência a desvalorizar o nacional. A falar mal da nossa gente. Comumente, escutamos:
O povo de Valença Bahia, não tem cultura por que cospe no chão.
Tem cultura, sim.
Existem duas comparações similares sobre Valença e ao mesmo tempo antagônicas, que escuto sempre as pessoas dizerem. Uma desprestigia a outra enaltece.
O primeiro exemplo é sobre as aglomerações humanas no Calçadão. Tem gente que diz:
- Parece que estou na Índia!
As mesmas críticas e comparação quando se trata do trânsito. Na índia pode ser legal mas em Valença Bahia, nunca.
O segundo exemplo similar é sobre o Rio Una. Tomemos a pequena extensão navegável desde a Ponte José Franco, próximo à Companhia Valença Industrial -C. V. I – até as imediações do Tento. Já escutei que se fizesse uma intervenção neste trecho, com a implementação de pedalinhos, poderia se comparar a Veneza. Nesse caso, enaltece a cidade.
Ah! Se Valença Bahia fosse parecida a Veneza!
Quando entendermos a nossa história e passarmos a contribuir mais através das nossas atitudes locais, observando suas limitações e suas possibilidades de melhoramento, quiçá vislumbraremos uma cidade singular, que tem um pouco da Índia e poderia ter um pedacinho de Veneza. Mais acima de tudo, teríamos uma cidade para amar.
Valença, Bahia, 16 de maio de 2017 Celeste Martinez

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Publicado no Facebook dia 30 de maio de 2017


Para Marcia Almeida

A crônica cotidiana publicada no dia 28 de maio de 2017, cujo enredo foi meu encontro com o homem, vendedor de aipim, obteve um dinamismo extraordinário. Acrescento: Desdobramento.
Tomada de intensa emoção, eu caminhava, à medida que escrevia os primeiros esboços. A minha chegada no supermercado e a conversa com “alguém”, que diz assídua leitora das minhas crônicas, foi suficiente para estimular um novo texto.
Devo confessar para você, que dedica-se a esta rotineira leitura diária, que não é fácil, escolher entre tantas opções de acabamento da escritura, qual a ideal. Exemplo, são as denominações.
Em alguns casos, por questões de ética convém não. Mais existem assuntos cotidianos dentro de um círculo de amizade que citar o nome de alguém é quase tão natural quanto uma conversa por telefone em plena rua.
Nestes, sigo sempre a minha intuição.
Exemplo:
Quando Clenildes Santos Pereira Santos e Rogerio Coutinho socializaram comentários a respeito do Senhor Floriano – o vendedor de aipim – Eu, na crônica seguinte , só revelei o nome de Clenildes- e confesso que não pedir permissão por que me sentir a vontade, tal fazem as amigas-
Pensei em utilizar todas as contribuições entretanto na hora de escrever, existe um mistério indiscutível. Não sei explicar. Ao citá-la, mesmo sem autorização, obtenho dela a mais fantástica frase de elogio, que foi a seguinte:
“Suas crônicas está sendo um Alacazum escrito”.
Logo abaixo do comentário da Clenildes, o amigo Rogério Coutinho, escreve: Thank You.
Concluo ao ler esta frase que ele ficou ressentido por eu não ter utilizado a informação dele. Pensando nisso, aciono uma pergunta e ele me responde, confirmando o que antes, para mim, não estava definido. Eu não tinha certeza que o uso da expressão “jóia” em atribuição ao aipim fosse para a mesma pessoa.
Se agora, revelo o nome do Rogério Coutinho, tenho a sua autorização.
Agora, eu pergunto: E a mulher que conversou comigo no supermercado, que inspirou-me a crônica de ontem, ficaria feliz se eu a identificasse?
Após, o desenrolar desta aventura, nesta exata parte do texto onde me encontro, atrevo-me a dizer que sim.
Por que foi ela, que deixou , ontem, o seguinte comentário:
“Oi querida! Como te disse leio todas, parabéns, beijos.”
Posso estar equivocada ou a minha intuição me trair, entretanto neste exato momento, quando deponho a minha emoção sobre o papel, vêem-me a mente uma infinita ciranda, onde cada um dos que lêem as minhas crônicas, são pessoas do bem e por isso mesmo se citados, na exigência do movimento textual, ajustam-se perfeitamente, como as trovas do irmanado cantar.



Valença, 29 de maio de 2017 Celeste Martinez

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Publicado no Facebook dia 29 de maio de 2017


Essa crônica, é contrapartida da anterior quando relatei o encontro que tive com o homem que vende aipim, empurrando um carrinho todo em madeira. E que agora sei o nome por que a amiga Clenildes, assídua leitora, informou-me quando lá deixou um comentário. Chama-se Senhor Floriano.
Após o término da conversa que tive com ele, precisei ir ao supermercado. Estava empolgada com o encontro que tive com aquele cidadão. Brotou a vontade de escrever. Enquanto caminhava, peguei o caderno e fui logo lapidando as primeiras letras. Já no supermercado, aguardando atendimento, prosseguir no esboço. Foi quando ouvi:
- É a crônica?
Uma mulher, parada bem ao meu lado, que também aguardava atendimento.
- Sim. Respondi e imediato perguntei:
- Como sabe?
- Acompanho. Leio todas.
Não sei qual foi o motivo que naquele momento, ocorreu um estranhamento na memória. Poderia ser pelo meu envolvimento com a ideia que tentava aprisionar, escrevendo.Para não ser mal educada, prosseguir conversando, com toda certeza, eu a reconheceria, logo, logo. Foi quando ela relembrou a crônica onde falei sobre o personagem que fugia de mim para não virar crônica. Ela deu sua opinião, mais não recordo o quê, exatamente.
Era questão de três ou quatro minutos para finalizar o atendimento e em minha cabeça, articulava mil coisas:
Primeiro: o fio da meada do que havia se partido enquanto eu escrevia.
Segundo: a atenção para a mulher.
Terceiro: o compromisso programado para aquele momento.
Quarto: o reconhecimento da fisionomia.
E Quinto: a nova crônica que surgia.
Olhava fixamente para ela. Rosto familiar.
E claro, as minhas crônicas são publicadas na página do Facebook, para poucas amigas e amigos. Ela é uma destas seletas amizades da virtualidade.
- Você é minha amiga no Face?
- Sim. Respondeu-me
O nome não veio imediato entretanto já visualizava o perfil dela na página. Assim que chegasse em casa, averiguaria o nome.
Despedimo-nos.
Veja, só!
Quanto movimento está ocorrendo com esta minha escritura cotidiana.
É como se alguns personagens da cidade fossem pouco a pouco, sendo pintados e eternizados em um grande quadro. Fico feliz, por isso!

 
Valença, Bahia, 26 de maio de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Publicado no Facebook dia 28 de maio de 2017


Atravessava a faixa de pedestre da rua Ruy Barbosa, cruzamento com as ruas Quintino Bocaiúva e Praça da República, em Valença Bahia, quando encontrei, bem alí no passeio, um senhor, conhecido de muitos anos. Expressei imediato na face um belo e largo sorriso. Disse, encurvando meu corpo em reverência:
- Olá, Mestre!
Este, sem pestanejar, respondeu:
- Mestre, é aquele!
Sincronizou a palavra com o gesto em retirar da cabeça o boné e levantar as mãos para o céu, como em súplica. Referia-se ao Todo Poderoso.
Após, desviou o corpo para desobistruir a via pública, agarrou na minha mão com força e iniciou o diálogo que eu já previa o tema.
- Venha cá, professora, quem é mais Mestre aqui de nós dois?
- O senhor. Respondi.
- Oia, veja, bem, estou falando, que a senhora que estudou, dá converva a esse pobre homem. A senhora que se veste com simplicidade, não é arrogante e sempre conservou a sua essência.
Ele falava como se eu tivesse o diploma de doutora, quando, apenas conseguir obter a graduação. Descrevia-me tão bem que assustei-me com os adjetivos generosos atribuidos a mim. A nossa amizade, vem dos tempos em que estudei na Escola Média de Agropecuária Regional da Ceplac – EMARC- Valença. Ele era morador daquelas redondezas e presenciou muitas vezes minhas idas e vindas, a pé, calçada com pesadas botas. Desde a primeira vez, que dirigiu-me a palavra com um cordial bom dia e eu respondi com respeito, mantivemos uma camaradagem que depois foi enlarguecendo para a esposa, filhas e filhos. Uma delas, até quatro meses atrás, escutava o Alacazum.
Ele fez um breve resumo desta ocasião. Relatou com tanta nítidez aquele momento que eu pensei que estava vivendo novamente. Para mim, no entanto, era apenas o homem, que saía pelas ruas de Valença, empurrando um carrinho de mão, cheio de aipim para vender de porta em porta.
Em todas as conversas que tivemos, sempre faz questão de repetir que criou, todos os filhos, com esta atividade.
- Graças, a Deus! Tira o boné quando fala.
Vendo-o alí, vestido com calças compridas, blusa de manga larga, sandálias de tiras, desgastadas, é o mesmo homem dos meus tempos de escola na Emarc. O que muda são as marcas do tempo escritas no rosto em forma de mapas. Só passa a conhecer, quem se atreve, a escutá-lo. Fez uma análise momentânea entre aquele tempo vivido na Emarc com os de agora.
- Aquilo, sim era aprendizagem! Hoje, em dia, não se aprende nada, por que essa juventude, não respeita mais ninguém. Nem pai, nem mãe. Muito menos professora.
Eu, o escutava atentamente. Fixava o olhar em seu rosto. Conservava a mesma vitalidade na expressão e no sorriso. Apesar de desdentado, semi-careca, aquele homem, baixinho, que viveu toda sua vida nesta cidade, percorrendo o mesmo caminho, visitando as mesmas casas, conhecendo seus clientes compradores desta raíz, que como ele mesmo diz” sustentou toda a sua família, honestamente “; mantinha revigorante conversa encorajadoura. Era feliz. Sorria enquanto falava. Reconhecia no outro sua capacidade extratemporal. Eu o admirava. A energia de um ancião que com seus mais de oitenta anos, continua a trabalhar. Ah! Se eu não tivesse compromissos, ficaria alí horas a fio, escutando-o. A noite, empurrava a tarde para o outro lado do mundo. Teria que despedir-me. Ele entendeu.
- Vá, professor, vá .
Pegou seu carrinho de mão, todo em madeira, aparentava ser pesado, com algumas raízes de aipim dentro e partiu.
Como aquele homem, não se considerava Mestre, se naquele instante, inspirava-me uma crônica?

Valença, Bahia, 26 de maio de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Publicado no Facebook dia 27 de maio de 2017

Ponte Luiz Eduardo Magalhães, na cidade de Valença Bahia.
Manhã de sexta-feira, 26 de maio de 2017.
Eu motorizada, driblando o volumoso número de automóveis perfilhados, outros desnorteados, distribuidos ao longo da grande reta que dá acesso à rua Barão de Jequiriçá.
Escapo por um lado. Desacelero. Volto a primeira. Acelero, engato a segunda. Saio da Ponte. Naquele pequeno trecho que equivale a subida da ladeira, tradicionalíssimo por sua congestão, paro, novamente. Um caminhão, bem lá na frente, fazia manobra para sair.
Estacionada e em trânsito. Reflito.
Quando, bem lentamente, observo através do retrovisor uma motocicleta que se aproximava em minha direção. Chegou e se acomodou, bem devagarinho do meu lado esquerdo. Escutei:
- Recebeu a mensagem do dia das mães? Deixei lá!
- Ham? Olhei para o cara. Era Joaquim do Pitanga. Antigo ouvinte-leitor, participativo, do Alacazum.
Não foi preciso indagar sobre o assunto, conhecendo o Joaquim, imediato entendi.
- Acabou! Disse-lhe. E ele:
- Ham?
Repetir, aumentando o volume da voz:
- Ham?
Ele tornou a fazer a mesma expressão de espanto, de mal entendimento. Alí, não era lugar para esclarecimentos, pois a ordem naquele momento era acelerar, descongestionar a rua, prosseguir, resolver as nossas labutas. Fui.
E Joaquim?
Confusão em trânsito.


Valença, Bahia, 26 de maio de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Publicado no Facebook dia 26 de maio de 2017

Manhã nublada.
Quarta-feira, 17 de maio de 2017.
Saio de casa. Desta vez, caminhando.
Quando adentro à avenida Macônica, cruzamento com a avenida Tancredo Neves, em Valença, Bahia, o coletivo urbano, adianta-se, cuspindo fumaça.
Paro, respeitando a minha vida.
Bem na curva, o motorista, de dentro do ônibus, fixa os olhos em mim e sauda-me com continência militar.
Seria pela boina que uso?
Apuro as vistas.
Quem será?
Ei-lo: Alencar. Que não é José.
Eu, que caminhava séria, naquele instante, com tão inusitável saudação, abro um largo sorriso.
Oferto-lhe felicidades.
“ Vai, Alencar ser guache na vida”.
E ele, vai.
E o coletivo, invade a curva e segue por toda a avenida Tancredo Neves.
Agora, meus passos, ingressam na orla, interminável em sua reforma.
Vejo, os canteiros destituidos de terra, sem acabamento, expondo as raízes das árvores.
Detalhes. Não a canção do Roberto, que é Carlos.
Detalhes, que fazem a diferença quando o assunto é educação.
Árvores, não são seres respeitados desde que o Brasil foi Pindorama.
Quando tornou-se Brasil, piorou. Em uma avalanche desproporcional à extensão da Amazônia.
Que não é legal!!
Escapo rápido por este trecho. Estou com pressa.
Penso na crônica que planejei escrever e não fiz.
Penso na árvore podada com crueldade.
Penso no desamparo. Em Dona Bertholletia Excelsa.
Agora, caminho sobre a Ponte Inocêncio Galvão de Queiroz, na estreita calçada, onde corpos em movimentos, se adelgaçam, espicham-se, comprimem-se, deixam escapar líquidos de sua fluidez metafórica.
Mais importante que a matéria, é a superficialidade.
O que flutua na mente. Invisivel, imortal, até a hora de pensá-la.
É isto que nos torna eternos: o pensamento e a concretização da ideia
Avanço a geografia do corpo, chamado Valença.
A minha Valença?
Em que concepção?
A posse da terra ou aportar à terra como refúgio?
“ Eu que não vou nem venho, eu que permaneco em contato com a dor do tempo, eu elemento de ligação entre a ação e o pensamento”
Ah! Vinicius, que é Moraes e que tem moral para nos falar de uma tarde em itapoã.
Quanta divagação no caminhar de um lado para outro da cidade.
- Veja, olha lá, um sapo. Disse a criança.
Escuto, enquanto embarço para um outro estado.


Valença, 17 de maio de 2017 Celeste Martinez

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Publicado no Facebook dia 25 de maio de 2017

Valença está cheia de “esperança”. Esta foi a frase, acompanhada de uma fotografia do inseto Tettigonia Viridissima, postada na página do facebook do amigo Fábio Aguiar, que eu li e imediato lembrei de Clarice Lispector, no texto: “Uma esperança” , quando inicia dizendo:
“Aqui em casa pousou esperança. Não a clássica que tantas vezes verifica-se ser ilusória, embora mesmo assim nos sustente sempre. Mas a outra, bem concreta e verde: o inseto”.
Sim, Valença Bahia, está sendo visitada por esperanças que se multiplicam em inúmeras esperanças espalhadas pelas ruas, nas casas, nos quintais. A princípio levei pelo lado poético e fiquei feliz em saber que Valença está cheia de esperança. Pode ser um bom sinal. Pensei comigo mesma. Mais depois, quando prosseguir “bisbilhotando” a postagem com a leitura dos comentários, fiquei informada que em outros lugares também, a esperança visitou. São eles: Taperoá, Ituberá, Presidente Tancredo Neves, Rio de Janeiro. Em um momento tão difícil que passa a economia e a política brasileira, a chegada de esperança mesmo que seja em forma de insetos, sempre anima o coração da gente.
Se a esperança, apenas visitasse a cidade de Valença Bahia, a felicidade estaria completa entretanto com a constatação de outros locais, fiquei preocupada.
Seria um desequilibrio ecológico?
Fui pesquisar. Verdade que estes insetos não são predadores como os gafalhotos que destroem as lavouras e não são irritantes quando invadem as nossas casas, tipo o grilo. Cri, cri, cri, cri.
É com o final da estação outono, que estes insetos, morrem. Antes, porém, depositam os seus ovos na terra e estes conseguem sobreviver por todo o inverno. E voltam a nascer na primavera até a vida adulta no verão. Muitos que foram encontrados mortos, é por que cumpriram o ciclo. Na página do Fábio Aguiar, li o seguinte comentário:
“ Meu filho tentou salvar uma (esperança) essa noite, quase que não dorme querendo cuidar”.
Esta atenção do Fábio, em estar atento ao movimento da cidade, é importante para gerar diálogo e interações. Mais também a facilidade de comunicação proporcionada pelas ferramentas eletrônicas são responsáveis por divulgação de notícias que em outros tempos passou despercebido.
Será que estes insetos sempre visitaram Valença nesta estação ?
Eu não lembro. Recordo, sim, das tanajuras.
“Caí, caí, tanajura, na panela da gordura!
Quem lembra?
E saíamos, todos, meninas e meninos, pela rua afora – por que não tinham carros desgovernados naquela época para nos matar – atrás destes insetos e me desculpe a franqueza, com um espeto na mão.
Ah! tempo bom aquele!
Por que será que lembro da tanajura, dos tempos de minha infância e não lembro da esperança?
Deve ser por que naquele tempo, a esperança ficava guardada dentro da arca, bem lá no fundo, para caso de emergência.
Estava por escrever esta crônica sobre a esperança, no exato dia em que li a postagem na página do Fábio, e por algum motivo não fiz. Acontece que hoje, o amigo Iraildo, que trabalha na Pizzaria Os Martinez, trouxe-me um presente, enviado por sua mãe, a Dona Rita.
Advinha?
Livros e algumas frutas de rambutan. Os dois livros, ofertados por Dona Rita, têem como título: Esperança.
Vejam só quanta providência.
O tempo, é de esperanças. E ela, como parte da sabedoria dos tempos, apresenta-nos em formas diversas, sejam insetos, livro, leitura ou o próprio sentimento.
E Zefini!
 
Valença, Bahia, 25 de maio de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez




Pintura da artista visual Amalia Grimaldi, 
tema da garrafa de sobrevivência que recebi hoje.


Por segunda vez, em homenagem a amiga, Amalia Grimaldi


Desta vez, eu ansiava uma segunda garrafa de sobrevivência. A primeira, chegou-me na transição de conjução dos astros ascendentes. Trouxe, junto com ela, uma chave. Guardo-a como amuleto para a grande viagem.
Por toda a madrugada, esperei firme no penhasco, olhando o horizonte, mas apenas ondas gigantes e revoltosas chocaram-se contra os rochedos. Poe, junto a mim, desejava Lenora – que se embrenhara na noite do Corvo -
Contrário, a mim, ele, Edgar, dormiu, alí mesmo, pousando o corpo esguio e frágil na mais pontiaguda pedra. Eu, recolhi-me ao quarto onde me esperavam notáveis espelhos.
Logo ao amanhecer, no instante em que Pessoa, terminou de “raspar as tintas com que pintaram os seus sentidos”; dirigir-me novamente ao rochedo. Desta vez, quem se agigantara era eu. As ondas, pareciam meninas, felizes, tranquilas, a brincar na praia, recolhendo brinquedos ofertados pelo mar: pedras, conchas, estrelas, gravetos.
O infinito, era só luz e meus olhos, atordoados de esperança, só enxergavam uma diminuta garrafa de sobrevivência que se aproximava ao ritmo das ondas como na sinfonia primavera, do padre ruivo.
Estava predestinada a mim, desde a última era glacial. Muito embora sem endereçamento. Não havia indício de quem era o remetente nem o destinatário. Qualquer pessoa, atenta aos sinais dos tempos, poderia se apossar dela. Entretanto o conteúdo da garrafa, a mensagem que estava dentro, revelava o leitor. Revelava o nome da pessoa que poderia decifrá-la. Aquela garrafa era para mim por que eu a esperava desde sempre.
Lembrei do elescaramujo de Myriam Rozemberg, com seu micro relato, onde o personagem Salvador, encontra uma garrafa e na ansia por saber seu conteúdo termina morrendo afogado. A mensagem que trazia a garrafa dizia apenas “agora conhecerás todos os segredos”. Ao recordar Myriam Rozemberg, lembrei também de Borges: “ a escrita metódica me distrai da presente condição dos homens. A certeza de que tudo está escrito nos anula ou faz de nós fantasmas. Conheço distritos em que os jovens se prosternam diante de livros e beijam com barbárie as páginas, mas não sabem decifra uma única letra.”
Esta garrafa, não precisou chocar-se contra as pedras. Veio em minha direção, agora que estou pousada os pés na praia. Abaixo-me para pegá-la. Era uma garrafa de cerâmica, com vários temas: tesoura, carta, pássaro, menina, formas geométricas, estrela, azul, verde, marrom. No gargalo, uma correntinha de prata, fininha, presa a tampa. Não fiz esforço para abri-la. Nesta hora, eu, sentada na praia, solitária. As ondas, foram descansar lá fora. O silêncio, é puro. Até o vento, parou para escutar.
Sim, por que, ao abrir a garrafa de sobrevivência e me apossar do pergaminho, para ler a mensagem naquela hora, como reza a lenda, eu teria que fazer a leitura em voz alta, como se estivesse no rádio a LA Cazum.
Escute.
Eis, a mensagem que trouxe-me a segunda garrafa de sobrevivência, proveniente do continente-ilha, que atravessou o índico até o atlântico onde me encontro.
Escute, mulher.
Escute, homem.
“ Querida e inesquecivel amiga Celeste Martinez, sao muitas as pedras dos caminhos, porem, somos cumplices e testemunhas dessa grandiosa dadiva do Universo, a energia que nos inspira, e que nos faz seguir adiante. Quando voce falou em viagem, lembrei-me desse texto que anteriormente havia escrito e assim me veio a cabeca:
“ Quando você partir, em direção a Ítaca, que sua jornada seja longa, repleta de aventuras, plena de conhecimento. Não temas Laestrigones e Ciclops nem o furioso Poseidon; você não irá encontrá-los durante o caminho, se o pensamento estiver elevado, se a emoção jamais abandonar seu corpo e seu espírito. Laestrigones e Ciclops, e o furioso Poseidon não estarão no seu caminho se você não carregá-los em sua alma. Se sua alma não os colocar diante de seus passos. (palvras do admiravel poeta egipcio Konstantinos Kavafis).
Espero que sua estrada seja longa. Que sejam muitas as manhãs de verão, que o prazer de ver os primeiros portos traga uma alegria nunca vista. Procure visitar os empórios da Fenícia, vá às cidades do Egito, aprenda com um povo que tem tanto a ensinar. Não perca Ítaca de vista, pois chegar lá é seu destino. Mas não apresse seus passos; é melhor que a jornada demore muitos anos e seu barco só ancore na ilha quando você já tiver enriquecido, com o que conheceu no caminho.
Não espere que Ítaca lhe dê mais riquezas, Ítaca já lhe deu uma bela viagem; sem Ítaca, você jamais teria partido. Ela já lhe deu tudo, e nada mais pode lhe dar. Se no final, você achar que Ítaca é pobre, não pense que ela lhe enganou. Porque você tornou-se um sábio, viveu uma vida intensa,e este é o significado de Ítaca.” Celeste, obrigada pelo belo texto. Grande abraco.

 Valença, Bahia 24 de maio de 2017 Celeste Martinez

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Publicado no Facebook dia 23 de maio de 2017

Para a amiga, Amalia Grimaldi, que vive em Melbourne, Austrália.


Quarta-feira, dezessete de maio do ano de dois mil e dezessete foi um dia incomum em minha vida. Antes porém, a madrugada, que o antecedeu, havia um sintoma de conjunção no universo como um emaranhado de naúsea e delírio. Eu, não conseguir finalizar nenhum dos meus escritos. Fui dormir mais cedo por que no outro dia, teria que viajar. Na manhã, do dezessete, todos os meus passos foram sincronizados para a execução de acontecimentos. Eu apenas tinha um roteiro.
A caminhada desde a minha casa até a rodoviária, foi suficiente para que todas as informações absorvidas pelos meus sentidos, servissem para a elaboração mental de um texto. Nos quarenta e cinco minutos de espera para embarcar, construir uma crônica. O espaço de tempo transcorridos da viagem, até chegar ao meu destino e o retorno, todos, foram como laços. Começava um, terminava outro. Cheguei a ouvir diversas vezes:
- A senhora, está com sorte, hoje.
Eu, que não acredito na sorte, perguntava-me por que o universo tinha sido tão generoso comigo.
Já a noite, na Pizzaria, assim que chego, a primeira coisa que enxergo sobre a mesa é o Jornal Valença Agora Semanal.
Sento imediato para lê-lo. E quando abro a página de número dezoito, lá estava a Prosa Semanal da amiga Amália Grimaldi, cujo título: “A paixão da revolta pelo que se acredita”.
Assim que termino de ler esta frase, sou tomada de intensa emoção. Nem acreditei no que estava escrito logo abaixo. Meu coração palpitou mais intensamente. A mim estava endereçado. Dizia: Para Celeste Martinez. Quanta honra, receber de tão longe, direto de Melbourne, Austrália, uma garrafa de sobrevivência.
Pensei imediato, antes de pousar os passos por tão sagrado ambiente que teria que seguir bem devagar. Lembrei então da série de televisão Kung Fu, estrelado por David Carradine, onde o protagonista monge Shaolin Kwai Chang Caine, como prova de conhecimento, tem que pisar em papel de arroz sem machucá-lo.
Sabia, que Amália, quando escreve, diz mais do que palavras. Ela sopra o imaginado. O que vai brotar. A espontaneidade. A verdade. A clarividência. O estado.
Ela falava de Camus, no livro “ O Estrangeiro”, que eu nunca tinha lido.
E agora?
Nesta hora, os meus pés, haviam machucado o papel de arroz.
Retornei para a casa inicial: “ A paixão da revolta pelo que se acredita”. Para Celeste Martinez.
Ah! amiga, Amália Grimaldi, que percepção extrassensorial, que você tem! Obrigada. Por mais que você resumisse a obra de Camus, eu ainda me sinto aquém, de tua vivência e experiência.
Por enquanto, vale a sensação de tuas palavras-mãos, como acalento, no relento em que vivo.
Este teu alfarrábio contemporâneo, impresso na gráfica Prisma, emoldurarei como conquista. Na próxima estação, visitarei Camus.


Valença, Bahia, 23 de maio de 2017 Celeste Martinez

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Publicado no Facebook dia 22 de maio de 2017

Para Paola que vive em Campana -Bs As Argentina
Estava na filial da Pizzaria Os Martinez, sentada confortavelmente, bem em frente ao cruzamento entre as ruas Oldack Nascimento e a avenida Antonio Carlos Magalhães, justo onde está a sinaleira, observando a artista callejero, fazer malabarismos com bambolês.
A garota, pouco mais de vinte anos, franzina, rosto alongado, na cabeça, uma boina cor preto, vestido verde e calçando tênis, explorava os movimentos do brinquedo, uma hora com um pé, com o outro, com a mão direita, mão esquerda, no tórax. Firme em um só pé. Além da agilidade e experiência que demonstrava com o uso do equipamento, o sorriso estampado no rosto, foi sem sombra de dúvida a expressão mais marcante naquele momento observando-a.
A cada finalização do mini espetáculo, ela, enclinava o corpo para frente, agradecendo. Ao fazê-lo, parecia está diante de uma numerosa platéia, ouvindo trilhões de aplausos. Após, caminhava em direção aos carros, na esperança de uma recompensa pífia. Entre dez carros parados, um, contribuia. E ela, tirava a boina e apresentava como recipiente para o depósito. “ A la gorra” como se diz na Argentina. Lá, é muito comum estes artistas se apresentarem nas ruas. Daí a expressão “callejeros”. Quando, de minha passagem, por lá no ano dois mil, conheci a artista Paola que amava o Brasil. Agora, recordando-a, vejo, que é o mesmo sorriso, que oferta gratuitamente esta menina, que aí está, fazendo malabarismo na sinaleira.
Os automóveis passavam, novos se posicionavam e a menina, continuava a sua apresentação circense.
O céu, neste momento, totalmente cinza. Chuvia de fininho. Eu, no conforto, sentada em uma cadeira, protegida contra as intempéries.
Terão elas e eles, artistas callejeros, aprendido a filosofia do desapego?
Que missão, quase impossível, é esta, em ofertar alegria e descontração para uma pláteia preocupada, nervosa, contrariada, impaciente e atenta apenas ao objetivo que é ir e ir ?
Quantas, dessas pessoas, estacionadas dentro dos carros, vêem a menina?
Quantas, enxergam como artista?
Agora, a chuva passou. O sinal está aberto para o azul que aponta no céu.
A garota, sorridente, continua firme. Ela é versátil, dinâmica. Atraí olhares curiosos dos transeuntes. Mais não para o trânsito. Aproveita, sim, a brecha dos segundos permitidos para que o movimento cotidiano siga sem riscos.
Passa das dez.
Teria, a menina, se alimentado?
As contribuições monetárias, arrecadadas são suficientes para uma refeição?
Que gérmen é esse incrustado no sangue destes artistas que incentiva a sair pelo mundo?
Creio que os artistas callejeros, são passarinhos, que levam um tiquinho do seu canto-alegria para pessoas em trânsito.


Valença, Bahia, 22 de maio de 2017 Celeste Martinez

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Publicado no Facebook dia 21 de maio de 2017


  Para Elizete, do Jambeiro.

Nestes últimos dez anos, o dia de domingo, sempre foi muito especial. Principalmente as manhãs. Estou falando do programa de rádio Alacazum palavras para entreter.
Neste domingo, 21 de maio de 2017, por primeira vez, esqueci de lembrar do Alacazum.
Dormir até tarde. Quando abrir os olhos e a vida entrou em mim, sussurando sobre a chuva que caía lá fora, eu ainda estava na cama. O abrir dos olhos veio acompanhado da seguinte frase:
Nestes últimos dez anos.
Era a frase inicial que sinalava dentro de mim o começo de uma nova crônica.
Desci, momentaneamente da cama. Abrir a janela. A intuição sinalava que era muito tarde. Não atrevi a calcular quanto.
Lá fora, nuvens, lembrando creme chantilly, em cores branco e cinza, estavam estacionadas na paisagem. Contudo, notava-se a cor azul como pano de fundo. Liguei o celular. Imediato o dispositivo, avisa-me mensagem no WhatsApp. Era Elizete. Elizete do Jambeiro. Não. Elizete do Novo Horizonte. Da minha casa minha vida. Era assim que nos comunicavamos no rádio. Uma assídua e participativa ouvinte-leitora do Alacazum aos domingos. Penso:
- Deve ter enviado mensagem por que lembrou do Alacazum.
Estava lá:
- Bom dia! Ao lado a informação do horário. Seis e cinquenta e três.
Será que Elizete ainda está disponível para um bate papo?
Vou provocar com intuito de saber se ela lembrou do Alacazum ou foi simples vontade de falar comigo.
- Bom dia, Elizete! Você enviou mensagem este horário da manhã de domingo, pensando que eu já estava acordada?
Aguardei que a resposta fosse ao meu modo e com referência explícita sobre o Alacazum. De repente o sinalizador do aplicativo, mostra que está digitalizando. E vem a resposta:
- Sim. Por que Deus ajuda quem cedo madruga!
Frase típica de Elizete sem contudo responder os meus anseios. Fazendo implicitamente mesmo sem intenção, critica, a minha prostação nesta manhã de chuva.
- Neste domingo não. Ainda estou na cama.
Assumo a minha preguiça e também o meu esquecimento em não lembrar do Alacazum. Foi o esquecimento que me fez acordar tarde.
- Beleza, bom descanso! Ela responde.
Vixe, com a minha sinceridade, conseguir afugentar a amiga Elizete. Não quero isso. Por primeira vez, em muitas manhãs, converso com alguém via WhatsApp.
- Mais isso não é motivo para não conversar. Estar na cama, não necessariamente é para dormir. Hojé, é um dia raro. Acordei tarde.
- Não consigo acordar tarde! Ela diz.
Até agora, nenhuma palavra esperada. Nenhum indício do que eu queria ouvir.
Como exigir do outro a lembrança, se eu, esqueci?
Mais alguma coisa estimulava para prosseguir instigando.
- Você acorda mais cedo que o Sabiá-Laranjeira?
Um longo silêncio. Logo em seguida o sinalzinho: digitando.
- Qual a data do seu aniversário?
Caramba, nada a ver. A conversa foi para a casa do chapéu. Iniciei por conjugar o verbo esquecer no pretérito perfeito. No entanto é da minha natureza a inconformidade.
Será o Benedito que a amnésia, esta ameba pálida e mortal tenha se infiltrado em minha cabeças nesta manhã de domingo?
- Por que você lembrou de mim hoje? Fiz o último lance na tentativa de acerto.
- Por que estou em casa ainda. Foi a resposta.
É, minhas amigas e amigos, nem tudo saí como desejamos por que quase sempre não é o planejado.
Ainda estou na cama. Passa das dez e trinta e oito. Volto os olhos para a janela. Da paisagem que vislumbro, noventa por cento sobressaí a copa de frondoso pé de jamelão. Os outros dez por cento são nuvens carregadas, cor cinza escuro, branco esmaecido e um rasgo sutil de azul pálido. O sol, aos poucos, intensifica a temperatura. Sem pressa, arrastado.
E eu, voltei a conjugar o verbo esquecer, desta vez no presente do indicativo. Por que brincar de esquecer, doi menos.

Valença, Bahia, 21 de maio de 2017 Celeste Martinez