sábado, 30 de outubro de 2010

Na 194° edição do ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER

Na 194° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 24 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM apreciamos na introdução do programa versos que refletem a ecologia.


A rua é sua
A rua é minha
Vamos mantê-la
Sempre limpinha
Vamos tratá-la
Como se fosse
A nossa sala
Nossa cozinha
Jogar latinha,
papel, garrafa
No meio da rua
é muito feio!
Faz muito mal
Ao nosso meio
rios, bueiros
É uma agressão!
Lixo é desordem
Desarmonia
enfeia a rua
tem graça não!
Se enfeiamos
o nosso meio
também ficamos
feios
A toda hora
jogamos fora
alguma coisa
que não queremos
muita comida
nós descartamos
tantos com fome
como podemos?
Papéis demais
vão para o lixo
nossas florestas
sofrem com isso
As embalagens
tão sedutoras
são como fogos
de artifício
Logo rasgamos
amarrotamos
não hesitamos
que desperdício!
Bem que podíamos
poupar um pouco
e viver bem
sem sacrifício
O mundo é grande
é tanta gente
com tanto gosto
tão diferente!
Algo que não
quero mais ter
outra pessoa
pode querer
pode se roupa
ou um brinquedo
se não quiser
só por capricho
dou para alguém
é um prazer!
em vez de apenas
jogar no lixo
Se algo é útil
no polo norte
pode ser lixo
em um deserto
O lixo, ás vezes
é algo sem sorte
que não achou
o dono certo!
Papel é bom
pra se escrever
e fazem livros
pra gente ler
Mas o papel
para nascer
alguma árvore
tem que morrer
Por isso sempre
vamos poupar
e o papel velho
reaproveitar
Poupar recursos
é bom pra gente
não esgotar
nosso ambiente
Seguindo o mesmo
raciocínio
é bom poupar
o aluminio
e reciclar
muitas latinhas
vivem tão pouco
as coitadinhas
Se o alimento
caiu no chão
pintou sujeira
não coma, não
Em meio ao lixo
moram bichinhos
pequenininhos
mas muito ativos
são muito vivos
e estão alertas
pra aproveitar
portas abertas
bem numerosos
causam doenças
são perigosos
podem matar
Por isso o lixo
vou colocar
sempre bem longe
dos alimentos
E também todos os ferimentos
longe do lixo
devem ficar!
A terra é linda
rios e mares
tantos lugares
pra serem vistos
campos, cidades,
pessoas, bichos
mas tudo isto
sofre com o lixo
tralhas nos rios
gases nos ares
já nem podemos
respirar fundo!
Mas, irmanados
todos, podemos
produzir menos
Lixo no mundo


Retirado do livro: SEIS RAZÕES PRA DIMINUIR O LIXO NO MUNDO de Nilson José Machado e SIlmara Rascalha Casadai. Ilustração Vera Andrade. Faz parte do Kit Pontos de Leitura conquistado pelo ALACAZUM quando do I CONCURSO PONTOS DE LEITURA 2008: Homenagem a Machado de Assis do Governo Federal.

Aluna do IFBA representa a Bahia em Olimpíada de Língua Portuguesa

Na 194° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 24 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio CLube de Valença 650 KHZ AM apreciamos a crônica da aluna Carolina de Farias C. da Silva- Aluna do primeiro ano de turismo do IFBA, Campus Valença- Bahia

Lição na Praça


Estava sentada há horas no banco estrépido da Praça da República, centro de Valença, pertinho da rua Deocleciano Gomes, onde moro. Nada me chamava atenção. Apenas o cansaço e o sono me tomavam. Três semanas de avaliações e trabalhos escolares esculpidos na minha postura encurvada e no meu olhar caído. De súbito, o som de buzinas me fizeram despertar para um engarrafamento que estava acontecendo à minha frente – nada incomum – uma fileira de carros de variadas cores e diversos modelos, novos e velhos, motoristas estressados e impacientes. Já voltando a abaixar o olhar, um garoto passa correndo em direção à rua. Passaria despercebido por mim, como tantos outros, jeito malandro, roupas velhas, pouca idade (oito a dez anos) e uma caixa que trazia nas mãos. Contudo, não foi assim desta vez. Minha curiosidade feminina foi aguçada e me fez observar o que faria ele indo em direção aos carros. Parou ao lado de um veículo prata e fez sinal para que baixassem o vidro fume. Imediatamente pensei que se tratasse de um assalto, mas logo desisti da idéia pois havia muita gente no local e era só uma criança. A realidade é que a infância está bem mais curta em nosso país, principalmente para os mais pobres. Na minha cidade esse triste fato pode ser fotografado nas ruas. Mas ainda custa admitir e aceitar isso. Bom, no carro, uma senhora de cinqüenta a sessenta anos, aparência cativadora e rosto bondoso, perguntou com tranqüilidade o que ele deseja. O garoto abriu jeitosamente a caixa e mostrou-lhe. O que havia ali dentro? Estique-me um pouco e vi balas, jujubas e pirulitos. A senhora, como eu, fez uma expressão de agrado, deixando o garoto animado. Entregou algumas moedas a ele, pegou umas balas e, num gesto amável, alisou os cabelos enrolados, curtos e pretos do menino. Neste momento, ele parecia estar no melhor de todos os lugares. Fui contagiada por aquela emoção. Em seguida, a idosa abaixou o vidro. O menino ainda estava parado e feliz quando foi despertado por uma garotinha, também com uma caixa na mão, que o impelia a continuar o trabalho. Como saindo de um sonho, o menino seguiu para o próximo carro no qual havia uma jovem. Ao ver os doces, ela afirmou não ter dinheiro. Nesse momento a surpresa: “ Então você passa a mão na minha cabeça?” perguntou o garoto.
A jovem ficou espantada. Novamente sons de buzinas. Ela deveria seguir, pois o semáforo deu passagem. A moça partiu. Foi-se também o menino, dirigindo-se à outra rua. Ficou em mim a emoção e a consciência de carência afetiva dos meninos do lugar onde moro, meninos que apesar de trabalharem o dia inteiro sem garantia de dinheiro, não passam horas sentados, lamentando cansaço e sono. Aprendi que sou dramática.


Carolina de Farias C. da Silva- Aluna do primeiro ano de turismo do IFBA, Campus Valença- Bahia. Participou das Olimpíadas da Língua Portuguesa escrevendo o futuro,organizado pelo Ministério da Educação e a Fundação Itaú Social.

Publicado no Jornal Valença Agora, quinta-feira, de 21 a 27 de outubro de 2010. ano IX n° 286. Lido no programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER do dia 24 de outubro de 2010 (domingo)



sexta-feira, 29 de outubro de 2010

NÃO PERCA AS CRIANÇAS DE VISTA


Na 194° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 24 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio CLube de Valença 650 KHZ AM apreciamos a música: Não perca as crianças de vista com O Rappa, contextualizando a crônica: Lição na Praça da Carolina de Farias C. da Silva- Aluna do primeiro ano de turismo do IFBA, Campus Valença- Bahia .


Não Perca As Crianças De Vista

Composição: O Rappa

Pra enxergar o infinito
Debaixo dos meus pés
Não basta olhar de cima
E buscar no escuro, no obscuro
A sombra que me segue todo dia
Deixo quieto
e seguro as páginas dos sonhos que não li
E outra vez não me impeço de dormir
Os jornais não informam mais
E as imagens nunca são tão claras
Como a vida
Vou aliviar a dor e não perder
As crianças de vista
Eo, Eo,
Não perca as crianças de vista
Eo, Eo,
Não perca as crianças de vista
Eo, Eo,
Não perca as crianças de vista
Família, um sonho ter uma família
Família, um sonho de todo dia
Família é quem você escolhe pra viver
Família é quem você escolhe pra você
Não precisa ter conta sanguínea
É preciso ter sempre um pouco mais de sintonia

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Ah, os amigos



Na 194° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 24 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM, apreciamos a crônica: Ah, os amigos de Raquel de Queiroz.



Sim, amigo é coisa muito séria. Acho que a gente pode viver sem emprego, sem dinheiro, sem saúde e até sem amor, mas sem amigos, nunca. Pois o amigo é capaz inclusive de suprir discretamente essas faltas e lhe conseguir trabalho, lhe emprestar dinheiro, lhe tratar na doença. Só não pode se envolver em assuntos de amor, porque aí deixa de ser amigo; e a maior tolice a que se arrisca a incorrer alguém é misturar amigo com amor.
Amizade e amor são qualidades paralelas na vida de cada um; se conhecem, até se estimam, mas nunca se encontram ou se confundem. Aliás, não estou dizendo novidade nenhuma, todo mundo sabe que o namoro, noivado, casamento, amores são relações essencialmente antípodas da amizade. Quer pela sua impermanência, ou, quando são permanentes, pela sua natureza tumultuária, absorvente, egoísta, as relações de amor têm que ter categoria á parte. Transforme em amante o seu amigo ou amiga, e você perde o amigo e terá um péssimo amante, que sabe todos os seus defeitos, lhe conhece do tempo em que você não se enfeitava para ele, não lhe escondia as suas falhas do corpo e da alma, e que, portanto, sabe de todos os seus pontos fracos. Fica impossível.
A primeira lei da boa amizade creio que é ter poucos amigos. Muitos camaradas, colegas, conhecidos cordiais, mas amigos, poucos. E, tendo poucos, poder e saber trata-los. Jamais criar tempo de rivalidade entre os amigos: cada um há de ter sua área específica, sua zona própria de influência. Não vê que cada amigo, por ser o único no seu território, não precisa sequer conhecer os donos dos outros territórios. É que, sendo a nossa alma tão variada nas suas exigências, precisamos de amigos de acordo com os diferentes ângulos do coração. O amigo da comunicação intelectual não pode ser o mesmo amigo da confidência íntima; o velho companheiro da infância não tem nada a ver com o precioso camarada adquirido nos anos de maturidade.
E há outras razões práticas para não misturar os amigos: eles podem se coligar contra a gente, ou se tornar amigos entre si, por conta própria, nos excluindo. Ou também podem se chatear uns com os outros, porque os companheiros espirituais deles nem sempre correspondem aos nossos. Se você adora fulano porque toca em suas cordas nostálgicas, contando-lhe lembranças de mocidade passadas na barranca de um rio em Mato Grosso, o seu amigo intelectual talvez não tolere regionalismo e por isso desdenhe intensamente as barrancas de Mato Grosso. Assim com o futebol, os debates sobre religião, as intrigas políticas, os negócios, o gosto de recordar os sambas de Noel Rosa. Insisto, mantenha com rigor cada amigo no seu compartimento.
Axioma absoluto em assuntos de amizade: amigo é insubstituível. O que um lhe deu jamais outro lhe poderá dar igual. Pode ser um amigo novo para preencher a área vazia deixada pelo amigo que se foi por morte ou briga. Mas só ocupará mesmo aquele espaço físico. E há vezes em quem isso é possível. E o melhor será fechar aquele nicho do coração, dada a dificuldade de encontrar outro ser vivo que satisfaça ante nós as especificações do ausente. Ai de mim, bem o sei. Minha amiga de infância que morreu deixou no meu peito esse santuário vazio.
Respeite seus amigos. Isso é essencial. Não procure influir neles, governa-los ou corrigi-los. Aceito-os como são. O lindo da amizade é a gente saber que é querida a despeito de todos os nossos defeitos. E nisso está outra superioridade da amizade sobre o amor: a amizade conhece as nossas falhas e as tolera e, até mesmo, as encara com condescendência e afeto. Já o amor é só de extremos e, ou se entrincheira na intolerância, ou se anula na cegueira total. Amigo entende, agüenta, perdoa. “Amigo é pra essas coisas”, como diz aquela cantiga tão bonita.
Se você não é capaz de ter amigos, você é um erro da natureza, você é como o unicórnio, o animal de que se fala mas não existe. Porque até os bichos têm amigos; e dizem que, depois da morte, no outro mundo, as almas mantêm sublimadas as amizades cá de baixo, naquela quintessência de excelências que só o céu pode dar.


21.9.1996.


Raquel de Queiroz- retirado do livro Coleção melhores crônica. Seleção e prefácio: Heloisa Buarque de Hollanda

AMIGO É PRA ESSAS COISAS...



Na 194° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 24 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM escutamos a música: Amigo é pra essas coisas com Emílio Santiago, contextualizando a crônica: Ah, os amigos de Raquel de Queiroz.


Composição: Silvio Silva Júnior/Aldir Blanc

-Salve!
- Como é que vai?
- Amigo, há quanto tempo!
- Um ano ou mais...
- Posso sentar um pouco?
- Faça o favor
- A vida é um dilema
- Nem sempre vale a pena...
- Pô...
- O que é que há?
- Rosa acabou comigo
- Meu Deus, por quê?
- Nem Deus sabe o motivo
- Deus é bom
- Mas não foi bom pra mim
- Todo amor um dia chega ao fim
- Triste
- É sempre assim
- Eu desejava um trago
- Garçom, mais dois
- Não sei quando eu lhe pago
- Se vê depois
- Estou desempregado
- Você está mais velho
- É
- Vida ruim
- Você está bem disposto
- Também sofri
- Mas não se vê no rosto
- Pode ser...
- Você foi mais feliz
- Dei mais sorte com a Beatriz
- Pois é
- Pra frente é que se anda
- Você se lembra dela?
- Não
- Lhe apresentei
- Minha memória é fogo!
- E o l´argent?
- Defendo algum no jogo
- E amanhã?
- Que bom se eu morresse!
- Prá quê, rapaz?
- Talvez Rosa sofresse
- Vá atrás!
- Na morte a gente esquece
- Mas no amor agente fica em paz
- Adeus
- Toma mais um
- Já amolei bastante
- De jeito algum!
- Muito obrigado, amigo
- Não tem de quê
- Por você ter me ouvido
- Amigo é prá essas coisas
- Tá...
- Tome um cabral
- Sua amizade basta
- Pode faltar
- O apreço não tem preço, eu vivo ao Deus dará

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Esperando o furação



Na 194° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 24 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM apreciamos a leitura da crônica: Esperando o Furação de Affonso Romano de Sant´Anna.


Estava há uma semana atrás na Carolina do Norte, exatamente no estado onde o furação “Floyd” ia bater furiosamente. Na véspera de minha ida, recebi da professora Mônica Rector, que me convidara, um paradoxal email: “o tempo está lindo e há um furação a caminho”.
Quando cheguei o tempo estava realmente lindo. Lindíssimo. A luz do dia perpassava por entre as folhagens dos bosques de carvalhos e pinheiros. Que paz, que harmonia entre as criaturas, a natureza e os objetos. Minha amiga levou-me a passear no bosque ao redor de sua bela casa de madeira, por onde passa um idílico riacho. Mostrou-me pelo chão, troncos abatidos de trinta e tantos carvalhos, que tombaram no furação de 1996.
Um furação está se aproximando e o tempo é lindo.
Sigo com os meus afazeres nas universidades de Chapel Hill e Duke, falando sobre um tema externamente tranqüilo, mas internamente tempestuoso – “Um poeta nos trópicos”. A poesia e os furações estéticos e sociais.
A televisão, no entanto, mostrava o apocalipse se aproximando da Flórida. Vinha a mais de 200 quilômetros por hora, avassalador, numa infernal espiral de água e vento.
Eu olhava pela janela e o sol brilhava. Pensava: “Esse furação vai bater na Flórida e para chegar aqui teria que passar pela Geórgia e Carolina do Sul. Mas a televisão prometia tragédia. A população da costa da Flórida recebe ordens de se retirar. Inicia-se o êxodo com milhares de carros pelas estradas. Os pedágios foram liberados. Caem árvores, inundações ocorrem, cais e píeres tombam n´água.
E a Y[TV anuncia que o furação “Floyd” agora estava vindo para o meu endereço. Com seu olho insano, havia me avistado no meio dos bosques de carvalho e naquela bucólica cada de madeira. Atingira a categoria cinco, equivalente a catástrofe, e atrás dele vinha já outro furação, “Gerd”, igualmente furioso.
Lá vem meu furação subindo a costa e aprendo que a pior tragédia ocorre onde ele pousa desncadeando dezenas de tornados. A televisão me informa que ele escolheu para aterrisar exatamente na minha região.
Em Chapel Hill a população esgota estoques de água mineral, pilhas, baterias e compensados dos supermercados. Compensados são para serem pregados sobre as portas e janelas envidraçadas. Pergunto ao casal que me hospeda, o que fazer. “Nada”- diz Tom- tomar certas precauções e esperar, porque isto é uma loteria, o furação pode descer aqui, adiante ou se desviar”.
Haveria uma recepção para mim naquela noite. Exatamente na noite, em que às 21 horas o furação deveria descer. Sugeri cancelarem o evento, porque imaginei eu e todos os convidados sendo arrebatados como anjos numa espiral cósmica, como só acontecia aos profetas bíblicos.
Penso em ir para um abrigo, pois minha hospedeira é voluntária da Cruz Vermelha, tem uniforme amarelo, botas, crachá e trabalhará num desses abrigos a partir de amanhã cedo. Além do mais, quero ver como se organizam os americanos diante da tragédia anunciada. Com efeito, estavam organizadíssimo. A vizinhança já havia se comunicado por e.mail, um dizendo “sou médico”, outra, “sou enfermeira”, e se colocando á disposição para emergências. A máquina da solidariedade social começava a funcionar. Suspensa a recepção para mim, continuavam os preparativos para a recepção ao furação. E chegam notícias que ele estava atrasado, ia chegar de madrugada, depois, que ia chegar de manhã.
Olho pela vidraça a noite lá fora. Chove e há um vento inquieto. Confirmam-se estragos em cidades a uns 300 quilômetros.
Aguardar assim o furação é como estar na arena enfrentando um touro, mas sem capa e espada.
Aguardar assim o furação é como em certos filmes estar num carro que, de repente, enguiça sobre os trilhos da linha férrea.
Aguardar assim o furação é como estar numa cidade sitiada, sendo atacado pelos mouros ou cruzados.
Aguardar assim o furação é como aquele personagem do conto de Hemingway, que cansado de fugir dos perseguidores deita-se e aguarda o fim.
É assim que se sente o sapo quando o olho da cobra o surpreende e ele, siderado, a vê e espera, impotente, o bote fatal.
Estranhamente, ás dez da noite, como quem está cansado de esperar Godot, desconfiei que a chuva e o vento estivessem me enviando outra mensagem. Não sei exatamente o que era, mas pensei, se ele vier – o touro negro, o minotauro do labirinto, a morte e suas foices – me encontrará tranqüilo.
Resolvi ir dormir, embora a cinco metros de meu quarto vários carvalhos balançassem ao vento me acenando qualquer coisa. Olhei objetos e roupas em torno como a me despedir ou para poder localiza-los no momento de fuga ou resist~encia.
Quando despertei às seis da manhã chovia ainda, mas algo me dizia que a elipse da morte havia se afastado de minha cabeceira. Dormi até as 8h, com o pensamento mágico de quem se diz: quando vier, se vier, me defenderei, olharei no olho do olho da fera.
De novo despertei. E conferi na televisão que a fatalidade havia seguido noutra direção. Abatera outras casas, afundara outros barcos, destroçara outras famílias e propriedades.
Com efeito, eu havia sido poupado.
Como se tudo aquilo não houvesse sido mais que um pesadelo, no final da tarde desse dia que se prometera apocalíptico, o sol brilhou. Brilhou como se sempre estivera ali, como se nenhuma sombra da morte houvesse jamais ameaçado as criaturas.
Dia seguinte saí passeando pelas ensolaradas alamedas de carvalhos e pinheiros, olhando a vida no olho, como no olho, em meio aos furações. Vou aprendendo a olhar a morte.

Affonso Romano de Sant`Anna – retirado do livro: Coleção melhores crônicas . Seleção e prefácio Letícia Malard

O OLHO DO FURAÇÃO


Na 194° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 24 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM, escutamos a música: O olho do furação na interpretação dos Engenheiros do Hawai contextualizando a leitura da crônica: Esperando o furação de Affonso Romano de Sant`Anna .



Composição: Humberto Gessinger

Tudo muda ao teu redor,

o que era certo, sólido

dissolve, desaba, dilui, desmancha no ar

no moinho, giram as pás, e o tempo vira pó

de grão em grão, por entre os dedos, tudo parece escapar

estamos no centro, por dentro de tudo, no olho do furacão

estamos no centro de tudo que gira, na mira do canhão

se for parar pra pensar, não vai sair do lugar

!não tem parada errada, não! no olho do furacão

tudo gira ao teu redor o que era certo, sólido

evapora, vai-se embora, o que era líquido e certo

estamos no centro, por dentro de tudo, no olho do furacã

oestamos no centro de tudo que gira, na mira do canhão

se for parar pra pensar, não vai sair do lugar

!não tem parada errada, não! no olho do furacão

no olho do furacão...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

NOVO QUADRO DO ALACAZUM: LEITURA INTINERANTE

Exatamente na edição de número 192 criamos o quadro: Leitura intinerante ou Circulo de Leitura. Consiste na circulação de livros entre ouvintes-leitores do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER. Aos domingos, mobilizamos para que as pessoas se inscrevam nas diferentes categorias de leitura: Infantil, Infanto-Juvenil e Adulto. Feita a inscrição que deverá ser voluntária e sem nenhum compromisso em resenhar ou visitar o programa para comentar a obra, o ouvinte-leitor ALACAZUM assume a responsabilidade de ler e devolver o livro para que outra pessoa tenha o privilegio de usufruir da mesma leitura. Até o momento estão inscritos: Maria Lúcia, que vive na rua Marechal Deodoro, na categoria adulto; Júlia, que vive na Vila Operária, na categoria Infanto-Juvenil; Manuel que vive no Bairro do Tamarineiro também na categoria Infanto-Juvenil e o garotinho João Victor na categoria Infantil. O ALACAZUM agradece a participação e a colaboração das famílias que tem incentivado a cada domingo os filhos e filhas na prática leitora. Precisamos levar adiante o propósito de tentar transformar o Brasil em um país leitor!

Desafio Musical


Na 194° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 24 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM oferecemos como desafio musical a música: Navegantes na interpretação de Jessé.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Na 193° edição do ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER

  • Na 193° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 17 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM, desfrutamos da poesia de Celeste Martinez na abertura do programa.

Morte na sala
na lavanderia
na súbita descida da ladeira em que subo
Morte no cãntaro transbordante de sede
e de onde eu beijo a fome
Morte nas paletas sujas do ventilador
no espaço tridimensional da ilusão eletrônica- chão da mídia-
onde cumpro o exercício diário de ligar.
Morte na varanda frente ao crepúsculo
sangrando horizontes sem fios visuais.
Morte na nota do interlocutor
atrás das paredes couraçadas com os fios da mentira
e por onde cruzo labirintos.
Morte no dia-a-dia
adiantando os tiquetaques
dos neurônios
psicóticos de sonhos
dos sonos
dos sinos
das sinas
dos sinais
dois sóis
nós
dos sons
sonos.


Celeste Martinez- retirado do livro: Valenciando- antologia de escritores de Valença-Bahia

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Segunda noite do CONTATO teve Twelves e performances eletrônicas

Artigo retirado do site: especial para EPTV.com com Fabiana Paula

Na movimentada tenda de instalações eletrônicas, o projeto "Universitários fazendo sexo" despertou a curiosidade do público pelo título sugestivo. O trabalho desenvolvido por Amauri de Freitas e Estevan José de Martinez, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) faz uma analíse da reação das pessoas diante de cenas sutis que sugerem o tema. O vídeo exposto no festival mostra cenas como jovens pintando o termo "sexo" em um quadro numa região movimentada da cidade enquanto um narrador argumenta sobre semiótica. Outra informações, visite:


Projeto de estudantes de Artes Visuais com Ênfase em Multimeios da UFRB selecionado em evento nacional

O projeto "Universitários Fazendo Sexo" - video performance dos estudantes Amauri de Freitas Silva e Estevan Martinez do curso de Artes Visuais com Ênfase em Multimeios foi selecionado para o 4° CONTATO- Festival Multimidia de Rádio, TV, Cinema e Arte Eletrônica. O evento é um projeto da Universidade Federal de São Carlos que fomenta o cenário cultural de São Paulo e região central do Estado de São Paulo e busca desenvolver integração em torno de atividades artistico-culturais. O CONTATO é composto de apresentações gratuitas de música, cinema e instalações de arte eletrônica, atividades de formação e aperfeiçoamento de profissionais nas áreas abrangidas e debates amplos sobre as temáticas abordadas. Outras informações visite:


http://www.contato.ufscar.br/quarto

ESTUDANTES DE ARTES VISUAIS DA UFRB PREMIADOS EM FESTIVAL DA UFSCAR

Gugui Martinez
Mais uma vez parabenizamos os estudantes Amauri de Freitas Silva e Estevan Martinez (Gugui Martinez) pelo sucesso quando conquistaram prêmio nacional no 4° CONTATO - Festival Multimidia de Rádio, TV, Cinema e Arte Eletrônica ocorrido na Universidade Federal de São Carlos na cidade de São Paulo. Quer saber mais? Visite o blog da Jornalista Alzira Costa.

A HORA DO CONTO

Na 193° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 17 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM apreciamos o conto: A plantação de moedas de tradição sufi.



Nasrudin era astucioso, mas não deixava de ser generoso. Um dia, chegou a uma cidade em que os habitantes viviam uma vida miserável, extorquidos pelos impostos exorbitantes que cobrava o prefeito. A injusta situação comoveu Nasrudin, que se apresentou ao prefeito, dizendo que tinha aprendido uma habilidade muito especial: sabia o segredo de plantar moedas, cultivando-as como verdadeiras árvores. O prefeito não acreditou muito no que ouvira. Mesmo assim, deu a Nasrudin uma moeda de prata para que fizesse uma demonstração. Dali a uma semana, Nasrudin voltou com cinco moedas idênticas, apresentando-as como o resultado de sua colheita.
O prefeito pensou que ou estava na frente de um mago ou de um tolo, que o enriqueceria facilmente. Mandou, portanto, que entregassem a Nasrudin um baú cheio de moedas de ouro para que fossem semeadas sem demora.
Nasrudin distribuiu as moedas entre os pobres da cidade, e, uma semana depois, voltou ao palácio do prefeito, mostrando-se muito constrangido:
-Estou tão aborrecido, nem sei como me desculpar. Imagine o senhor que os pés de moedas já estavam carregados, mas o sol desta semana foi tão forte que queimou as moedinhas recém-desabrochadas. Não sobrou nenhuma!
O prefeito, irado, investiu contra Nasrudin, esbravejando:
-Imbecil! Pensa que vou acreditar numa história dessas? Não sou ignorante a ponto de pensar que o sol poderia queimar moedas!
- Mas foi ignorante o suficiente - respondeu Nasrudin, irônico - para acreditar que, de uma moeda, nasceriam cinco...


Retirado do livro: O homem que contava histórias de Rosane Pamplona e Sônia Magalhães

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

GROSELHEIRA



Na 193° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 17 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM, falamos da groselheira, em referência ao doce de groselha oferecido pela ouvinte-leitora Marigá que vive em nossa cidade e escuta dominicalmente o ALACAZUM. Obrigada!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Desafio Musical: Que fim levaram todas as flores? com Secos e Molhados


Na 193° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 17 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM oferecemos como desafio musical a música: Que fim levaram todas as flores? na interpretação do grupo vocal brasileiro: Seco e Molhados.

sábado, 16 de outubro de 2010

Na 192° edição do ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER

Dize-me com quem andas... (Índia)

Ia um viajante por uma estrada, quando chegou a uma pequena cidade desconhecida.
À entrada da cidade estava sentado um velho, meditando. O viajante o abordou, dizendo:
- Estou vindo de muito longe, procurando um novo lugar para morar. O senhor, que parece ter tanta experiência, diga-me: como são os habitantes desta cidade?
- Responda-me primeiro uma coisa meu filho: como eram os habitantes da sua cidade?
- Bem, não eram pessoas agradáveis- queixou-se o forasteiro - Eram invejosas, mesquinhas e estúpidas.
- Sinto muito - tornou o velho - mas infelizmente aqui você só encontrará pessoas exatamente iguais às que descreveu: invejosas, mesquinhas e estúpidas.
O viajante, decepcionado, ajeitou a mochila às costas e foi embora.
Dali a pouco chegou um outro viajante, que fez ao velho a mesma pergunta. Este tornou a indagar:
- E como eram as pessoas da sua cidade?
- Ah! eram pessoas muito amáveis - explicou o homem -em geral bondosas, generosas e educadas.
- Então, seja bem-vindo - respondeu o velho filósofo, abrindo um sorriso - Pois saiba que as pessoas aqui são exatamente assim: bondosas, generosas e educadas.


Retirado do livro: O homem que contava histórias de Rosane Pamplona e Sônia Magalhães

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

IAURETÊ

Recebemos correspondência eletrônica da atriz e produtora Heloisa Jorge, que esteve em nossos estúdios com a diretora Suelma Costa (espetáculo teatral Âmesa) comunicando a estréia do espetáculo : IAURETÊ.

O grupo de Teatro Palmares Iñaron comemora 33 anos de história com a montagem do espetáculo Iauretê. A peça é uma livre adaptação do conto Meu Tio O Iauaretê de Guimarães Rosa e da obra literária Maíra de Darcy Ribeiro e cruza as histórias de dois personagens: Oxim um místico caboclo onceiro, interpretado por Victor Kizza (Barrela, Uma Mulher Vestida de Sol) e Mehín Índio que ganha vida com a interpretação de Maria Janaína (Água que Lava Alma) e revela a ancestralidade e os impactos da civilização nos povos indígenas brasileiros. Iauretê é adaptado e dirigido por Lia Spósito (Macunaíma, Cangaço, O Trem Baiano) e ainda conta com a direção musical de Bira Reis e a orientação artística de Antônio Godi.

O espetáculo IAURETÊ estréia no dia 14 de outubro no Espaço Cultural Oficina de Investigação Musical - O.I.M localizado na Rua Portas do Carmo, 24 - Pelourinho (ao lado da Casa de Jorge Amado) no Largo do Pelourinho. A temporada da peça no Centro Histórico se estenderá até o final do mês de outubro realizando apresentações todas as quintas-feiras de outubro (14, 21 e 28/10) sempre às 20 horas.

A partir do dia 05 de novembro o espetáculo IAURETÊ iniciará sua temporada no Teatro SESI Rio Vermelho todas as sextas-feiras (05, 19, 26/11 e 03/12) 20 horas até o dia 03 de dezembro (exceto 14 de novembro que o grupo estará cumprindo agenda de viagem).


Confira o nosso blog: www.palmaresinaron.blogspot.com

Ficha Técnica

Texto: IAURETÊ (Adaptação das obras; Meu Tio O Iauaretê de Guimarães Rosa e Maíra de Darcy Ribeiro)

Adaptação e Direção: Lia Spósito
Elenco: Maria Janaina e Victor Kizza
Orientação Artística: Antônio Godi
Direção Musical e Multimídia: Bira Reis
Percussão: Quiones (Zorival Santos)
Produção Executiva: Victor Kizza
Assistente de Produção: Heloisa Jorge
Iluminação: Everton Machado
Assistente Técnico: Nildo
Fotografia: Aldren Lincoln
Programação Visual: Letícia Martins



Victor Kizza
(71) 9188-3292
Grupo de Teatro Palmares Iñaron
www.palmaresinaron.blogspot.com

Favoritos

Rainer Maria von Rilke (1875 – 1926)


“Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite: "Sou mesmo forçado a escrever?” Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples "sou", então construa a sua vida de acordo com esta necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho de tal pressão. Aproxime-se então da natureza. Depois procure, como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde. Não escreva poesias de amor. Evite de início as formas usais e demasiado comuns: são essas as mais difíceis, pois precisa-se de uma força grande e amadurecida para se produzir algo de pessoal num domínio em que sobram tradições boas, algumas brilhantes. Eis por que deve fugir dos motivos gerais para aqueles que a sua própria existência cotidiana lhe oferece; relate suas mágoas e seus desejos, seus pensamentos passageiros, sua fé em qualquer beleza — relate tudo isto com íntima e humilde sinceridade. Utilize, para se exprimir, as coisas do seu ambiente, as imagens dos seus sonhos e os objetos de sua lembrança. Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair as suas riquezas. Para o criador, com efeito, não há pobreza nem lugar mesquinho e indiferente.”
Trecho de Cartas a um jovem poeta, de Rilke

Obras


Fonte: Boletim PNLL n° 266 de 04 1a 10/10/2010

Edney Silvstre leva Prêmio Jabuti na categoria Romance

Com a obra Se Eu fechar os olhos agora, Edney Silvestre desbanca os consagrados Chico Buarque e Luis Fernando Veríssimo. O livro conta a história de dois meninos que vivem em uma pequena cidade da antiga zona do café fluminense e encontram o corpo mutilado de uma mulher às margens de um lago. O livro também foi eleito o melhor romance estreante de 2009 do Prêmio São Paulo de Literatura.


Fonte: Boletim PNLL n° 226 de 04 a 10/10/2010

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

CONTINUAÇÃO DA LEITURA: A BOTIJA DE CLOTILDE TAVARES


Na 192° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 10 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM continuamos com a leitura do livro: A botija de Clotilde Tavares.

MUITO BEM! (Tradição Uigur)

Na 192° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 10 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM, onde antecipamos a comemoração do Dia Nacional do Livro e o Dia da Criança (12 de outubro) elegemos como livro base de leitura: O homem que contava histórias de Rosane Pamplona e Sônia Magalhães. Realizamos a leitura de alguns contos, a exemplo deste:

Muito bem! (Tradição Uigur)




Certa vez, um pobre lavrador semeou um canteiro de abóboras, pensando tirar dali o sustento para si e para sua família.
O tempo, porém, foi inclemente: não chovia, e, por mais que o lavrador se esforçasse, as abóboras foram morrendo uma a uma.
Encontrar água por ali era difícil, e o pouco que se conseguia mal dava para aliviar a sede da família. Mesmo assim, o lavrador, todos os dias, deixava de beber um pouquinho de água para regar uma única abóbora, que mais resistente que as demais, crescia a olhos vistos.
No fim de algumas semanas, a abóbora ficou madura. Era tão grande e bonita que o lavrador achou que poderia conseguir um bom preço por ela. Mas seus vizinhos também eram pobres e o aconselharam a levá-la ao governador da cidade vizinha, ele, sim, um homem muito rico.
O camponês seguiu o conselho e dirigiu-se à cidade, carregando a pesada abóbora até o palácio.
O governador o recebeu com cordialidade e se admirou ao ver tão belo fruto:
- Foi você mesmo quem o cultivou?
- Sim, Excelência.
-Muito bem! -exclamou o governador- E como conseguiu essa proeza numa seca tão prolongada?
-Deixei de beber para poder regá-lo- explicou o homem. - -È o único fruto de minha colheita.
- Muito bem! - tornou a dizer o governador. - E esse fruto único você quer oferecer a mim?
- Sim, Excelência- c0nfirmou o lavrador, esperançoso por uma recompensa.
- Muito bem!- disse novamente o governador, fazendo-lhe, em seguida, sinal para que se retirasse.
O camponês, desapontado, pegou o caminho de volta para casa, sentindo dores no estômago, de tanta fome. Foi quando sentiu um apetitoso cheirinho vindo de uma estalagem. Não podendo resistit, entrou e pediu um assado com batatas. Depois de se deliciar chamou o estalajadeiro e disse:
- Foi o senhor que mandou preparar este assado?
-Sim, eu mesmo- respondeu o estalajadeiro.
- Muito bem! exclamou o lavrador. - E com que ervas ele foi temperado?
- Com alecrim e salsinha.
- Muito bem! repetiu o lavrador. - E o senhor sempre recebe os hóspedes assim, com cortesia?
-Claro! - assegurou o estalajadeiro.
-Muito bem! - disse pela terceira vez o lavrador. E levantou-se para sair.
- Espere ai! - reclamu o dono da estalagem- Como o senhor vai saindo sem pagar?
E os dois travaram tamanha discussão que acabaram sendo levados ao governador. O governador censurou o camponê.
- Então você pensa que pode comer sem pagar nesta cidade?
- Não, senhor, nem ousaria pensar nisso. Mas sou apenas um forasteiro ignorante. Quando vim lhe oferecer a única abóbora que colhi e recebi como pagamento um "Muito bem", pensei que essa fosse a moeda corrente neste lugar.
O governador, envergonhado, reconheceu seu erro. Pagou a conta ao estalajadeiro e deu ao lavrador um saco de ouro tão grande quanto a sua abóbora.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Descoberto poema inédito de Borges

Jorge Luis Borges (1899-1986) escritor argentino, doou cerca de mil livros para a biblioteca Nacional da Argentina depois de deixar a direção da instituição durante o exílio de Juan Perón. A coleção acabou caindo no esquecimento sem ser catalogada e agora, depois de redescoberta, ganha a atenção de pesquisadores, pois traz esborços de futuras obras do escritor a partir de comentários feitos de próprio punho na margem dos livros. A descoberta mais importante é um poema inédito, manuscrito por Borges sobre um exemplar em alemão do teólogo Christian Walch e datado de 11 de dezembro de 1923.


Fonte: Boletim PNLL N° 226 de 04 a 10/10/2010

Quadro: De quem é essa voz? (Desafio Musical )


Na 192° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 10 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM, antecipando o Dia Nacional da Leitura ( 12 de outubro) e o dia da criança, oferecemos como desafio musical, a música: Porta Aberta com Vicente Celestino.

QUANTO VALE UM REI? (CHINA)

Na 192° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 10 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM, antecipando o Dia Nacional da Leitura ( 12 de outubro ) e o dia da criança, usufruimos da leitura do livro: O homem que contava histórias da Rosane Pamplona e Sônia Magalhães.


Certo rei, tolo e presunçoso, perguntou a seu sábio- e ousado- bobo da corte:

- Diga-me com sinceridade, caro bobo: quanto você acha que eu valho?

- Mil e duzentas moedas de ouro - respondeu o bobo, sem pestanejar.

-Só isso? Você não pensa no que diz?! Fique sabendo que só a coroa que uso vale mil e duzentas moedas de ouro.

-Pois foi exatamente o que calculei - disse, inabalável o bobo.

DIGNIDADE OU RIQUEZA ? ( CHINA )

Na 192° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 10 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM, antecipando o dia Nacional da Leitura e dia da criança no Brasil, versamos sobre o livro: O homem que contava histórias de Rosane Pamplona e Sônia Magalhães. Segue uma destas histórias.



Certa vez, esse mesmo tolo rei perguntou ao bobo da corte:
- Se um gênio aparecesse à sua frente e lhe oferecesse riqueza ou dignidade, o que você escolheria?
_ Riqueza, sem sombra de dúvida- respondeu o bobo.
- Como?! - inflamou-se o rei.- Pois eu escolheria certamente a dignidade. Quer dizer que você acha que a riqueza vale mais do que a dignidade?
- Eu não disse isso- explicou o bobo.
- Vossa Magestade não me pediu para avaliar, e sim para escolher. E eu entendo que cada um escolhe aquilo que lhe faz mais falta. No meu caso, a riqueza.

sábado, 9 de outubro de 2010

Na 191° edição do ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER

Na 191° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 03 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio CLube de Valença 650 KHZ AM, apreciamos a poesia de Silvana Guimarães.


Ele disse eu te amo. Ela tremeu. E pensou são tão sábias essas tardes feitas de ruas desertas e ruídos distantes. O que estão fazendo agora os passarinhos? Para onde vão depois que nos acordam antes que seja de manhã? Onde se escondem as onze mil e seis espécies de formigas que existem no mundo?

Eu disse eu te amo você ouviu ele perguntou. Ela sentiu frio. E viu uma cortina de plástico que escondia o chuveiro, cheia de desenhos japoneses coloridos. Mentira. Ela ouviu a música que ouvia um dia quando olhava os desenhos japoneses coloridos da cortina de plástico do chuveiro.

Quando você volta ele perguntou. E disse amanhã vai ser um dia triste. Ela respirou fundo. E olhou para o canto onde calmas as malas a esperavam arrumadas. Amanhã vai ser um dia triste.

Tenho medo de te perder ela pensou. Ele não escutou. Ela entendeu que a noite ia ser longa. Abriu a caixa e foi contando pedras, como se contasse histórias. Ela juntava pedras. Não conhecia nada mais eterno do que uma pedra. Nem mais indiferente nem mais frio. Eu vou morrer um dia. Pedras e perdas, ela juntava. Tudo muito pesado e eterno.

Ele insistiu eu te amo. Ela se lembrou de um domingo e viu passar um rio. Olhou uma esquina um quintal uma janela um cachorro. E uma fonte um sino uma estrada um muro. Tenho febre.

Vou com você ela disse. Tenho pena da que virá depois ela pensou.


sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Abel chegou, pessoal... de Amália Grimaldi

Na 191° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 03 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio CLube de Valença 650 KHZ AM apreciamos a bela poesia de Amália Grimaldi.



Abel chegou, pessoal...
No cais do porto atracou
Seu barco tão venturoso
Trazendo a bordo contente
Suas meninas formosas
De ares bem apurados,
Vestindo traje praieiro,
Moda em revista do sul.
Meninas de muitos mimos
Traziam conchas nas mãos
Lembrança do mar a conter
Paisagem de desejo azul...
Abel...
Do seu barco é timoneiro,
Usa chapéu de marinheiro
(com ares de comandante)
Porque também ele
é homem faceiro...
Em tal barco prazenteiro
Passeiro domingueiro faz:
Gamboa...
Morro de São Paulo...
A todos satisfaz...
Segura nau de alegrias,
Enfrenta ágil e valente
Movimento insurgente,
Marolinha e vagalhão
Tal passagem do Galeão,
Quando trovão estronda
Não tem medo de onda
Nem de marola gigante.
Abel...
O seu barco comanda sábio
Das suas meninas cuida bem
E dos amigos também...



Amália Grimaldi - retirado do livro: A casa da rua do cais do Porto- Poesias

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

CONTINUAÇÃO DA LEITURA: A BOTIJA DE CLOTILDE TAVARES



Na 191° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 03 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM continuamos a leitura do livro A botija de Clotilde Tavares.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Dica de Leitura


Na 191° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 03 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM, oferecemos como dica de leitura o livro: O sofá estampado de Lygia Bojunga.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

De Amarelo


Na 191° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 03 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM apreciamos a poesia de DeborA Breennan.
De Amarelo
Hoje devo me vestir de amarelo:
espantar os olhos negros da solidão
tal a luz do girassol de ouro dourado
que abre pétalas iluminando nuvens.
Quem saberá (nem ela mesma)
o artíficio usado para enganá-la?
Sonhos? Jardins?
Não digo. Hoje me visto de amarelo e ou
nos ramos, entoar da ave o canto.
Quero espantar olhos de solidão
que vem das grutas e abandona montes
para comer a relva rubra do meu coração
Mas hoje, de amarelo, espantarei a fera
fugindo a procura de outra vítima:
Quem sabe a mata?

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O livro dos porquês


Na 191° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 03 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM apreciamos o poema: O livro dos porquês de Lia Beltrão.
Lia Beltrão: já fui do lar. Hoje faço doces para os lares alheios. Faço textos, também, mas não os envio aos lares. Prefiro que andem pelas ruas e encontrem ao acaso quem os leia. Entreguei vinte e três anos de minha vida a um homem, uma casa e uma filha. Só depois que o homem se foi e a filha se casou, pude ler o que quis, escrever o que quero. Nunca publiquei nada, mas muita gente gosta do que escrevo. Vou aos poucos construindo um olhar novo sobre as coisa do mundo. As vezes dói,, mas sempre me dá prazer. Fui publicada em Dedo de Moça- uma antologia das escritoras suicidas (São Paulo: Terracota Editora, 2009)
O livro dos porquês
Na estante do meu pai, na casa da minha infância, tinha uma coleção do Thesouro da Juventude. Em cada um dos seus dezoito volumes havia uma seçã chamada O livro dos "porquês". Ali poderíamos saber porque não oscilam os pêndulos indefinidamente, porque em certas noites de verão aparecem os campos cobertos de neblina ou porque a gravidade não arrasta todas as estrelas para a terra.
Por muito tempo, o Thesouro da Juventude me deu a impressão de que sempre encontraria resposta para qualquer dúvida na minha existência. O mundo era uma sucessão de causas e efeitos que me levariam seguramente à felicidade.
Hoje, a velha coleção está confinada a uma prateleira de baixo de uma estante no corredor da minha casa. Rompeu-se em algum ponto a cadeia de causa e efeito e ela não me deu a felicidade prometida. Tive que cuidar de ser feliz ao meu modo. Não preciso mais dos seus porquês.
Retirado do site: escritoras suicidas

Desafio Musical



Na 191° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 03 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 Khz AM, oferecemos como desafio musical a música: Amélia de você na interpretação da Angela Maria.

sábado, 2 de outubro de 2010

Na 190° edição do ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER

Na 190° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 26 de setemvr de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM, cujo tema foi: A janela, o trem e a televisão, baseado no texto do professor Aloísio Franca da Rocha Filho, artigo este pubvlicado em Caderno Cultural A TARDE do dia 18 de novembro de 1995, apreciamos a poesia de Bandeira.
TREM DE FERRO
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge Maria que foi isso maquinista?
Agora sim
café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô....
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô...
Quando me prederô
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô....
menina bonita
do vestido verde
me dá tua boca
pra matá minha sede
Oô....
vou mimbora vou mimbora
não gosto daqui
nasci no sertão
sou de Ouricuri
Oô...
vou depressa
vou correndo
vou na toda
que só levo
pouca gente
pouca gente
pouca gente.
Manuel Bandeira

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A TELEVISÃO E A CRIANÇA

Na 190° edição do programa radiofõnico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 26 de setembro de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM, cujo tema foi: A janela, o trem e a televisão, baseado em texto de Aloisio Franca da Rocha Filho e publicado em caderno cultural A TARDE de 18 de novembro de 1995, fizemos a leitura do artigo de Sonia das Graças Oliveira.

Site: www.artigonal.com