segunda-feira, 30 de outubro de 2017

I Sarau Alacazum na Pizzaria Os Martinez

Sarau Alacazum na Pizzaria Os Martinez dia 29 de outubro de 2017
Nilda Barbosa, Alex Sandro e Dona Hilda Barbosa
Polpa de Fruta Beija Flor, parceiro no Sarau Alacazum
Poetisa Elisangela Santos, sua irmã e filho Erivan




Crônica Cotidiana de Celeste Martinez

Crônica cotidiana de Celeste Martinez


Domingo, 29 de outubro de 2017, amanheço com aquela nítida convicção que hoje, será o encontro que mescla pizza e poesia, que intitulei “ Broto Legal”.
Poderia ficar um poquinho mais na cama curtindo a imensa e calorosa vida que invade o meu quarto através da janela envidraçada entretanto prefiro levantar-me.
Não há o que fazer em termos de arrumação de espaço na Pizzaria. Tudo muito simples, aproveitando os recursos existentes, mais sempre existe uma luz ao modelo de Edson que acende em tua cabeça, principalmente na minha.
Preparo o meu café e enquanto aproveito esse momento em companhia dos pássaros que beliscam a banana que eu oferto todos os dias, meus olhos alcançam a um canto da sala o estandarte que eu e Meg Heloise confeccionamos para o Sarau do Beco.
Estava alí por que pensei em remanejá-lo acrescentando um adereço que escondesse as palavras “ do beco”.
As inúmeras tarefas cotidianas impediram-me de fazer esse serviço. Agora, olhando-o, acomete-me a vontade de levá-lo.
O que fazer se o tempo se estreita, daquí a pouco será 17 h e tenho que chegar antecipadamente ao local?
Penso em colar alguns poemas diversificados. Não. Vai manchar o tecido e ficará impossibilitado de utilizá-lo em outro evento.
Busco pela casa algum objeto e encontro as bandeiras da Argentina e Brasil. Não. Despertará pensamentos esportivos e políticos partidários.
Vou finalmente ao baú, onde guardo retalhos de panos, agulhas, alfinetes, elásticos, tesoura, etc e remexendo encontro um trabalho em bordado que havia iniciado para o programa de rádio Alacazum e nunca terminei.
Saco-o e ao estende-lo no chão, assusto-me com a harmonia e entrosamento dos trabalhos. Perfeito.
Pego a linha e a agulha e inicio a tecitura ou acoplamento de um plasma a outro. Impressionante. Enquanto executo a tarefa prazerosa em construir, pensamentos me afogam em criatividades literárias.
Lembro do texto “ Um Apológo” ”de Machado de Assis; “ A agulha e a linha” de Pedro Bandeira; lembro do Alacazum e principalmente lembro da crônica cotidiana que tanto admira e divulga a amiga Edyna Cardoso.
Dez anos dedicados ao projeto e não pude desfrutar do trabalho artesanal que fiz com a intenção de servir de pano de fundo para as minhas gravações ao vivo do programa.
Agora, finalizado e olhando para o estandarte, ficou: Sarau Alacazum.
O tema “Broto Legal” que criei interagindo o ato de alimentar-se fisicamente com o poder em abastecer-se do substantivo “Poesia”, agora, dialoga com uma nova possibilidade de seguir em frente.
“ Para o alto e avante”, já dizia o superman a caminho de uma nova aventura.



Valença, Bahia, 29 de outubro de 2017

Crônica Cotidiana de Celeste Martinez

Crônica cotidiana de Celeste Martinez


No balção da Pizzaria quando entra um casal de jovens, que locomovendo-se com desenvoltura no salão, caminhou em minha direção sorridentes.
- Como vai, Celeste Martinez? Disse o rapaz.
Ao escutar meu nome sendo pronunciado pela boca de um estranho, espanto-me e pergunto:
- Você me conhece?
- Sim.
- De onde?
- Vários lugares. Conheço a tua poesia.
À medida que escutava e fixava o olhar no rosto jovial do homem, meu cérebro fazia conecções tentando o reconhecimento. Seu rosto parecia familiar apesar da barba cheia que camuflava sensivelmente os traços fisionômicos. A maneira de falar e o modo como se referia ao meu trabalho enquanto escritora, era quase garantido que nos conhecíamos de algum lugar.
Onde?
A moça, que o acompanhava estava em sintonia com o assunto e deixava transparecer a alegria por conversar comigo. Foi quando escapou da boca do rapaz a frase “ Sarau na Uneb”.
Eureka! Era o rapaz que falou comigo em certa ocasião quando absorvida na contemplação de um cajueiro, aguardava o horário para o meu curso de inglês em um bairro nobre da cidade.
- Você, é o rapaz que conversou comigo. Disse e imediato obtive a resposta afirmativa.
- Aquele dia, me rendeu uma crônica.
Sua expressão tranformou-se em surpresa.
- Você estava tão absorvida na contemplação do galho do cajueiro que caía do muro do vizinho, que me chamou atenção. Ele falou.
Agora escutando-o, compreendi o motivo da mobilização do moço em falar comigo, naquela manhã ensolarada. Imagina quanta abstração para levantar curiosidade. Fiquei ao mesmo tempo rubra de vergonha e vaidosa. Estava alí, diante de mim, o moço que a nove meses atrás, ao saudar-me, tratou-me como escritora. A emoção foi tamanha que escrevi um breve relato, gravei e postei em minha página do Alacazum palavras para entreter no you tube.
A ida dele na pizzaria, um acontecimento inusitável, destrambelhou em mim uma compulsividade em falar. Eu queria dizer tudo que senti naquele momento quando ele me considerou escritora sem me conhecer amiúde. Eu precisava mostrar-lhe o resultado da minha produção literária. Ele tinha que escutar a minha voz, dizendo somente a verdade da minha alegria. Peguei o dispositivo móvel e busquei anciosa o meu canal. Lá estava. Abri.
Que sensação estranha poder mostrar para alguém que me inspirou, o texto, fruto desse encontro, mesmo que seu nome não seja citado na composição. Sim, até aquele momento só ele me reconhecia.
Naquele momento isso não contava para mim.
Quem importa o nome?
Após apreciar o vídeo, ele disse:
- Você ganhou mais um seguidor, Celeste Martinez. Gostei do seu canal.
O mesmo falou a moça que o acompanhava.
Quando eles sairam eu fui novamente bisbilhotar o vídeo em que relato o encontro, agora com novo olhar e um novo sentimento de conforto por ter resistido e construído a minha marca em mim mesma. Para chegar a síntese em ser poeta, escritora, artista, eu tive que trocar o manual de instrução por uma verdade que é só minha ou como diz os versos de Fernando Pessoa “ retirar as tintas com que me pintaram os sentidos e ser eu” . Eu, a escritora, Celeste Martinez.


Valença, Bahia, 28 de outubro de 2017

Crônica Cotidiana de Celeste Martinez

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Sexta-feira, 13 de outubro de 2017, 17:30. Após degustar a deliciosa pizza dos Martinez em companhia da neta Dindi, esta diz:
- Vó, vamos para a praça?
Seguimos pela rua Quintino Bocaiúva, caminho da Praça da República. Aproveito nesse instante para testar a minha competência enquanto avó. Em silêncio vou conduzindo-a até a faixa de pedestre e ela reconhece que somente ao sinal verde é que pode passar. Mantemos as mãos dadas e basta colocar os pés na praça para que ela, pergunte:
- Onde está os brinquedos?
- Não tem.
- Ó não! Foi a expressão de decepção acompanhada de um bater dos pés e cruzamento dos braços.
A neta tem a facilidade de afugentar dores com novas investidas, imediato avistou o pequeno espaço destinado aos sketistas e correu naquela direção, mobilizada principalmente pela presença de crianças.
Ficamos. Imediatamente pus-me a observar e constatar que a Praça da República é a mais frequentada e todavia não oferece nenhuma alternativa de diversão gratuita para esse público infantil.
A área reservada para os sketistas nas horas vagas, congrega crianças na faixa etária entre 2 a 7 anos de idade que re-adaptam as estruturas de cimento e ferro em novas investidas de diversão. Uma pequena inclinação encimentada serve como tobogã. É nessa barra de concreto que as criançinhas depositam suas energias imaginando-o brinquedo.
A neta, que vive em outro estado brasileiro, está acostumada a frequentar praças com instrumentos pedagógicos dos mais diversos.
No caso, da cidade de Valença, Bahia, não é exatamente uma praça que temos e sim jardins. A praça da República, antigamente era chamada “Jardim Novo” e a Praça Ademar Braga Guimarães, de “Jardim Velho” ou seja adotamos a nomeclatura de praça que não se adequa ao seu desenho arquitetônico.
Será que o remanejamento do nome foi para excluir a função de jardineiro?
Povoa em nosso imaginário uma ideia de praça metamorficas. A Praça da Independência, não tem árvores, bancos, grama, canteiros, etc , mesmo assim é considerada praça. A praça 2 de julho, se resume a um diminuto canteiro que nos meus tempos de menina, caminho à antiga Escola de Aplicação Anexa, abrigava um frondoso jambeiro. A praça Oliveira Brito, é um enorme galpão onde abriga barracas dos vendedores da economia informal.
Enquanto a neta se alegrava com tão pouco, eu, analisava a paisagem em volta. Praticamente aquele logradouro público era o ponto principal da cidade em termos de encontros. Alí estava o Teatro Municipal, abandonado, aguardando que o tempo lhe corrompa o corpo para em seu lugar ser erguido uma caixa de concreto. O conjunto de sobrados, pouco a pouco desintegrando-se sem quaquer interesse de seus donos em reativar sua fachada, sem consideração com o patrimônio arquitetônico da cidade todavia amparados pela Constituição Federal em seu artigo 5°
Direcionei o olhar em um ângulo de 360 graus em toda praça e avistei a fonte luminosa.
Luminosa?
Onde?
Notava-se sim, alguns tubos, expelindo jatos de água sem algum atrativo.
A neta perguntou se a água estava limpa por que lhe pareceu escuro o fundo. A praça é mal iluminada e sem cuidado. Somente em determinadas datas: São João e Natal, enche-na de algum ornamento, muitas vezes sem critérios de beleza e estética.
Um menino se distanciou dos demais e foi até onde estava uma estrutura de ferro circular que supostamente serve como base para o pula-pula, que alí funciona como alternativa de lazer privado. A única distração. A neta Dindi, seguiu os passos do garoto, mais imediato foi advertida por mim que podia se ferir com as pontas de ferro e pregos, observado alternativamente em sua base.
Exatamente naquele local onde fica o pula-pula sentir um mal cheiro nauseabundo. Uma mescla de vômito, fezes e urina. Eram os banheiros químicos instalados no espaço reservado a estacionamento para a caravana da saúde que visita a cidade.
Quanta falta de sensibilidade. Não é nada elegante para quem chega à cidade e se depara com restaurantes, sorveterias, padarias, bares, lojas diversas, ser recepcionado por esse mau cheiro. Eu que tenho a mania de potencializar tudo, só em aborver esse tipo de fedor, imagino que tudo pode estar contaminado em torno.
Já deveríamos ter um espaço extra, fora do perímetro urbano destinado a eventos e que também pudesse abrigar os circos.
Quando a neta, retornou ao lugar onde as crianças brincavam de parque, um grupo de skeitistas já estavam ensaiando os primeiros passos. Um sobe e desce, um cai, levanta, que presenciei uma tragédia anunciada. A única opção foi ir embora.
Diante da configuração de pensamento que ainda perpetua na cidade e sem alguma chance
de mudança quanto a um projeto, onde seja possível acrescentar equipamentos recreativos e contemplativos, como playgrounds, bancos mais harmoniosos nas praças, ainda me resta a força interior e os exercícios diários que me confere adaptar a lei de Darwin ao dia a dia. Diante dessa configuração de “não-políticos” que exercem a ladroagem utilizando-se da res- pública, a exemplo dos tantos casos que foi divulgado pela imprensa, já não me cabe mais pensar na “esperança”, essa dita cuja que dizem ser a “última que morre”. Foi por acreditar demasiado nela- a esperança - nesses últimos 30 anos, que se apropriou dos nossos pensamentos e corpos a domesticação e docialidade, deixando-nos sempre a mercê do norte, desses, desses, desses...


Valença, Bahia, 13 de outubro de 2017