domingo, 10 de fevereiro de 2013

Eu te amo para sempre


                                       Eu te amo para sempre
Perguntou:
- Você me ama?
Respondeu:
- Sim. Para sempre.
Tornou a indagar:
- Por que mentes?
Revidou:
-Mentir, eu? Acreditas que minto?
- Sim. Disse convicta.
- Por favor, me esclareça para que compreenda melhor.
- Dizer que me ama para sempre é mentir por que ninguém vive para sempre.
- Evidente que vive na existência de cada um.
- Para sempre, é para sempre. Vide dicionário.
Foi buscar o minidicionário Houaiss e na página 680 encontrou:
“Sempre” (adv.) 1- durante todo o tempo; eternamente.
Ponderou a definição e percebeu que ambos tinham razão, entretanto a palavra eternamente,  soava igualzinho à palavra,  infinitamente, prolongando-se além da visão.
Seria “amar para sempre” o equivalente a prolongar somente a materialidade da existência?
E o amor, onde caberia além da morfologia de sua palavra?
Dizer que ama para sempre é deflagrar uma verdade do sentir.
E o sentir não precisa de palavras para traduzir-se.
Respirou fundo, falou:
- Te amo para sempre por que você existe além do que meus olhos enxergam, além dos incógnitos horizontes.
Ela sorriu e nada respondeu. Em seu silêncio estava escrito – muito embora em invisíveis letras – que ele falava a verdade. Ela só queria detalhar o prazer. Fazê-lo penetrável em todas as células de seu corpo. Prolongar aquela sensação de bem estar quando ele olhava para ela e dizia aquela banal frase: “Eu te amo para sempre”.
- E? Ele disse monossilabicamente intrigado.
- E, o quê? Ela perguntou.
- Você não acredita no amor que sinto por você?
- Acredito sim, seu bobo!
- E você, me ama? Desta vez foi ele que quis saber. Queria escutar uma frase que lhe aplacasse o ego ou uma ação que lhe calasse à boca em forma de desconcertante beijo.
Ela pensou em dizer: Sempre eu amo você. Desistiu. Por certo ele analisaria cada morfema e esta história do “amar para sempre” não terminaria. Apesar de que ela se sentia atraída com as indagações feitas por ele. Então resolveu engolir um monte de palavras que apressadas se encurralavam no palato de sua boca. Aproximou-se dele e fitou seus olhos. E bem lentamente pousou os seus lábios sobre os lábios dele, desabrochando suavium beijo dos amantes.
Quanto tempo durou, não soube calcular. Verdade é que logo em seguida, ele tentou falar e não conseguiu. Foi então que compreendeu que ela o amava para sempre na durabilidade daquele beijo e que quando ele acordasse do prazer, despertariam também todas as palavras e em seguida, o verbo “saber”; “ amar” e o advérbio “ sempre”. Pensou e se conteve. Naquele momento de olhos fechados, ambos sentiam. E os nós, que costuram desavenças ideológicas, contraíram amnésia. Naquele momento, bastava o beijo, elela.

                                                                          Valença, BA, 05 de fevereiro de 2013
 Celeste Martinez


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