quinta-feira, 18 de julho de 2013

Têxtil, de Cadu Oliveira

Na 308° edição do Alacazum palavras para entreter que foi ao ar  no dia 7 de julho de 2013, das 8 às 9 h da manhã de domingo, transmissão ao vivo Rio Uma FM 87,9 cujo tema: Todos cantam sua terra também vou cantar a minha” baseado nos versos de Casimiro de Abreu, apreciamos a leitura da poesia: Têxtil de Cadu Oliveira contido no livro: Novos Valencianos,  organizada por Araken Vaz Galvão.

Na trama de algodão cru
cruzam-se a marisqueira
pobre diaba dos confins do Mutá.
e o pescador preto, envelhecendo,
qual caranguejeira,
entranhado em suas teias de nylon.

Nessa trama que o tecelão da Companhia compõe á maquina,
há uma Maria de pele curtida por sal,
cuja beleza
(por causa da lama)
a anticosmética escondeu,
e um Pedro cansado,
que fez da mureta do cais
sua cabeceira.

Esses dois que a genética chamaria de mulher e homem
são, primeiro, duas entidades do folclore vivo,
que a antropologia chamaria certissima de sobreviventes
Toda a Valença, é, portanto, um tear
e, em seu pano grosso de aspecto rudimentar
Amparo, a Bordadeira virá aplicar fibra.

Será linda a fazenda incrustada de pérola
do sururu que a valenciana catará.
Será forte como o braço do Pedro
quando puxa sua peça de pescar.
Seria como se bichos-da-seda no bagaço de dendê cosessem casimira!
A trama corada de urucum,
quem se atreveu a dar ponto sem nó?
Quem ousará descosturar?

Cadu Oliveira

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