quinta-feira, 14 de outubro de 2010

MUITO BEM! (Tradição Uigur)

Na 192° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 10 de outubro de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM, onde antecipamos a comemoração do Dia Nacional do Livro e o Dia da Criança (12 de outubro) elegemos como livro base de leitura: O homem que contava histórias de Rosane Pamplona e Sônia Magalhães. Realizamos a leitura de alguns contos, a exemplo deste:

Muito bem! (Tradição Uigur)




Certa vez, um pobre lavrador semeou um canteiro de abóboras, pensando tirar dali o sustento para si e para sua família.
O tempo, porém, foi inclemente: não chovia, e, por mais que o lavrador se esforçasse, as abóboras foram morrendo uma a uma.
Encontrar água por ali era difícil, e o pouco que se conseguia mal dava para aliviar a sede da família. Mesmo assim, o lavrador, todos os dias, deixava de beber um pouquinho de água para regar uma única abóbora, que mais resistente que as demais, crescia a olhos vistos.
No fim de algumas semanas, a abóbora ficou madura. Era tão grande e bonita que o lavrador achou que poderia conseguir um bom preço por ela. Mas seus vizinhos também eram pobres e o aconselharam a levá-la ao governador da cidade vizinha, ele, sim, um homem muito rico.
O camponês seguiu o conselho e dirigiu-se à cidade, carregando a pesada abóbora até o palácio.
O governador o recebeu com cordialidade e se admirou ao ver tão belo fruto:
- Foi você mesmo quem o cultivou?
- Sim, Excelência.
-Muito bem! -exclamou o governador- E como conseguiu essa proeza numa seca tão prolongada?
-Deixei de beber para poder regá-lo- explicou o homem. - -È o único fruto de minha colheita.
- Muito bem! - tornou a dizer o governador. - E esse fruto único você quer oferecer a mim?
- Sim, Excelência- c0nfirmou o lavrador, esperançoso por uma recompensa.
- Muito bem!- disse novamente o governador, fazendo-lhe, em seguida, sinal para que se retirasse.
O camponês, desapontado, pegou o caminho de volta para casa, sentindo dores no estômago, de tanta fome. Foi quando sentiu um apetitoso cheirinho vindo de uma estalagem. Não podendo resistit, entrou e pediu um assado com batatas. Depois de se deliciar chamou o estalajadeiro e disse:
- Foi o senhor que mandou preparar este assado?
-Sim, eu mesmo- respondeu o estalajadeiro.
- Muito bem! exclamou o lavrador. - E com que ervas ele foi temperado?
- Com alecrim e salsinha.
- Muito bem! repetiu o lavrador. - E o senhor sempre recebe os hóspedes assim, com cortesia?
-Claro! - assegurou o estalajadeiro.
-Muito bem! - disse pela terceira vez o lavrador. E levantou-se para sair.
- Espere ai! - reclamu o dono da estalagem- Como o senhor vai saindo sem pagar?
E os dois travaram tamanha discussão que acabaram sendo levados ao governador. O governador censurou o camponê.
- Então você pensa que pode comer sem pagar nesta cidade?
- Não, senhor, nem ousaria pensar nisso. Mas sou apenas um forasteiro ignorante. Quando vim lhe oferecer a única abóbora que colhi e recebi como pagamento um "Muito bem", pensei que essa fosse a moeda corrente neste lugar.
O governador, envergonhado, reconheceu seu erro. Pagou a conta ao estalajadeiro e deu ao lavrador um saco de ouro tão grande quanto a sua abóbora.

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