quinta-feira, 16 de junho de 2011

Briga no beco, de Adélia Prado


Na 223° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 12 de junho de 2011, transmissão pela Rio Una FM 87,9 apreciamos a divina expressão do poema: Briga no beco de Adélia Prado.

Encontrei meu marido às três horas da tarde
com uma loura oxidada.
Tomavam guaraná e riam, os desavergonhados.
Ataquei-os por trás com mão e palavras
que nunca suspeitei conhecer.
Voaram três dentes e gritei, esmurrei-os e gritei,
gritei meu urro, a torrente de impropérios.
Ajuntou gente, escureceu o sol,
a poeira adensou como cortina.
Ele me pegava nos braços, nas pernas, na cintura, sem me reter, peixe-piranha, bicho pior, fêmea ofendida, uivava.
Gritei, gritei, gritei, até a cratera exauris-se,
Quando não pude mais fiquei rigida,
as mãos na garganta dele, nós dois petrificados,
eu sem tocar o chão. Quando abri os olhos,
as mulheres abriam alas, me tocando, me pedindo graças.
Desde então faço milagres.

Crédito da imagem: inspiracoesreunidas.blogspot.com

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