domingo, 5 de junho de 2011

Expressão: Presente de Grego


Na 221° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 29 de maio de 2011, transmissão pela Rio Una FM 87,9 cujo tema: Guerra de Troia, informamos sobre a expressão: Presente de Grego.


PRESENTE DE GREGO


A expressão, que significa dádiva ou oferta que traz prejuízo ou aborrecimento a quem a recebe, surgiu em decorrência da Guerra de Tróia. A razão desse conflito está ligada à realização de um concurso em que três deusas (Hera, Afrodite e Atena) disputavam o título de rainha da beleza. Para juiz foi convidado Paris, filho de Priamo, rei de Tróia, a quem as três divindades femininas tentaram subornar; ao final, ganhou Afrodite, que havia prometido dar ao julgador a mais bela mulher do mundo, compromisso que a obrigou a ajudar o troiano no rapto da bela Helena, mulher de Menelau, rei de Esparta. Mais adiante, quando os gregos velejaram para Tróia a fim de recuperar a rainha raptada, os outros deuses tomaram partido de um e outro lado, e por isso Zeus tentou afastá-los da guerra. Mas sua esposa Hera, que apoiava os gregos, usou perfumes para fazê-lo adormecer, e quando Zeus finalmente acordou, os troianos já haviam sofrido pesadas baixas.

A luta em torno dos muros de Tróia durou dez anos (1250 a 1240 a.C.). A Ilíada, do poeta Homero, trata apenas das seis semanas do último ano da guerra, mas o poema é uma história empolgante. Aquiles, a figura central dessa obra histórica, discute com Agamenon, fica furioso e ofendido e por isso se retira magoado para a sua tenda, enquanto os troianos sob o comando de Heitor, filho de Príamo, rei de Tróia, afastam os gregos das muralhas da cidade. Quando Pátroclo morre, Aquiles reaparece para comandar os invasores de volta a Tróia, onde mata Heitor, mas convencido pelos deuses entrega a Priamo o corpo do guerreiro vencido, para que este seja sepultado com as honras de um herói.

Os gregos venceram a guerra com um truque que se tornou famoso. Segundo Thomas Bulfinch, em O Livro de Ouro da Mitologia, “... os gregos começavam a desanimar de conquistar Tróia pela força, mas a pedido de Ulisses resolveram recorrer a um estratagema. Fingiram estar fazendo preparativos para abandonar o sítio, e uma parte dos navios foi retirada e escondida atrás de uma ilha vizinha. Os gregos construíram, então, um imenso cavalo de pau, que fingiram ser um sacrifício oferecido a Minerva, mas que de fato estava cheio de homens armados. O restante dos gregos embarcou então em seus navios, que zarparam, como se estivesse partindo definitivamente. Os troianos, vendo que o acampamento fora levantado e a frota partira, chegaram à conclusão de que o inimigo abandonara o sítio. As portas foram abertas e toda a população saiu para gozar a liberdade há muito negada de passear à vontade no local onde estivera o acampamento. O grande cavalo foi o principal objeto de curiosidade. Todos queriam saber qual seria a sua finalidade. Alguns sugeriam que ele fosse levado para dentro da cidade, como troféu, ao passo que outros se mostravam receosos dele...”

Finalmente, após muita discussão, o cavalo de madeira foi levado para dentro da cidade “ao som de cantos e aclamações triunfais, e o dia terminou festivamente. À noite, os homens armados que se encontravam dentro do cavalo, abriram as portas da cidade aos seus amigos, que haviam voltado com a proteção da noite. A cidade foi incendiada, e a população, entregue ao festim e ao sono, passada a fio de espada e Tróia completamente destruída.”

Vitoriosos, os gregos uniram, de novo, Helena a Menelau, e todos voltaram para casa. Porém um deles, Ulisses, que tivera a idéia do cavalo de madeira, demorou dez anos para chegar em casa, o que resultou no segundo grande poema de Homero, a Odisséia.

Na grande epopéia do povo romano, Eneida, escrita por Virgílio, encontra-se a frase: “Eu temo os gregos, mesmo quando eles trazem presentes”. Inspirada na passagem mitológica que colocou um ponto final na Guerra de Tróia, essas palavras confirmam o sentido da expressão “presente de grego”, que outro não é senão o enunciado no início desta página: da dádiva ou oferta que traz prejuízo ou aborrecimento a quem a recebe. Da mesma forma como os troianos pagaram alto preço pelo cavalo de madeira que os gregos lhes deixaram como presente às portas de sua cidade, há mais de três mil anos



FERNANDO KITZINGER DANNEMANN



Tela: Cavalo de Troia em pintura de Giovanni Domenico Tiepolo
Crédito da imagem: Wikipédia


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