segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Balõezinhos, de Manuel Bandeira








Balõezinhos

Na feira livre do arrebaldezinho
Um homem loquaz apregoa balõezinhos de cor:
- “ O melhor divertimento para as crianças!”
Em redor dele há um ajuntamento de menininhos pobres,
Fitando com olhos muito redondos os grandes balõezinhos muito redondos
No entanto a feira burburinha
Vão chegando as burguesinhas pobres,
E as criadas das burguesinhas ricas,
E mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.
Nas bancas de peixe,
Nas barraquinhas de cereais,
Junto às cestas de hortaliças
O tostão é regateado com acrimônia.
Os meninos pobres não vêem as ervilhas tenras,
Os tomatinhos vermelhos,
Nem as frutas,
Nem nada.
Sente-se bem que para eles ali na feira os balõezinhos de
cor são a única mercadoria útil e verdadeiramente indispensável
O vendedor infatigável apreoa:
- O melhor divertimento para as crianças”
E em torno do homem loquaz os menininhos pobres
fazem um círculo inamovível de desejo e espanto.

Manuel Bandeira

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